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A falta

Na minha vida empresarial e familiar tive fantásticas oportunidades de conhecer, e conviver, com pessoas notáveis que já não estão neste plano existencial, mas que deixaram contribuições valiosas e tiveram a capacidade de me influenciar de forma marcante.

Alguns momentos especiais vivi com inesquecíveis amigos dos meus pais –  são exemplos o sociólogo e escritor Gilberto Freyre e o antropólogo Darcy Ribeiro -, com companheiros de minha geração, como Paulinho Brandão, que o destino arrebatou de forma precipitada.

Hoje, falarei sobre a falta que o comandante Rolim Amaro me faz.

Considero-o um dos gênios da atividade empresarial brasileira. Sou viajante obsessivo desde a adolescência. Amante da aviação, brevetado, acompanhei a materialização dos seus sonhos desde o início: de piloto a fundador da Taxi Aéreo Marília, que transformou na gigante TAM. Porém, foi nos fóruns de líderes empresariais promovidos pelo jornal Gazeta Mercantil que a aproximação virou amizade.

Esse companheirismo por muito pouco não mudou seu destino.

Pela admiração que tínhamos por ele, eu e Lindemberg Vieira o convidamos para abrir encontro patrocinado pela CDL de João Pessoa. O prazer de voar levou-o a cancelar a vinda à Paraíba, e no dia que deveria estar aqui, perdeu a vida fazendo o que gostava: amar.

Morto Rolim, marca registrada da TAM, como empresário fiquei preocupado com o futuro da empresa. Escrevi em 30 de maio de 2013, sobre sua fusão com a LAN Airlines (Chile) que resultou na Latam.

O gigantismo do setor obrigou que estrategicamente se formassem conglomerados na aviação civil. À época, para mim estava em risco o diferencial da TAM: a imagem do grande comandante que pessoalmente recebia seus passageiros à porta de suas aeronaves, uma declaração de valorização e respeito aos clientes.

Dito e feito. Passados esses anos, a impessoalidade reina na Latam. E lamentavelmente sou testemunha.

No dia 1° de outubro, fazendo conexão em Guarulhos de um voo internacional da mesma companhia, tentava embarcar no voo TAM 3968, com destino a João Pessoa. O desprazer foi imenso.

Em lugar do tapete vermelho, abolido pelos embarques em fingers, me deparei com um funcionário que se dizendo autoridade máxima, obstaculou minha passagem. Alegava que eu não poderia levar em mãos mais do que um volume, mesmo dentro dos padrões de dimensão e peso.

Ponderei que era uma exceção por se tratar de instrumento musical delicadíssimo. Expliquei que estava acompanhado, que a passageira ao meu lado não tinha bagagem de mão, e que era na cota dela.

Inflexível, ele sentenciou que o volume não poderia ser assumido por outro passageiro e que teria que ir no porão do avião.

Apesar de inconformado com o tratamento, ainda argumentei: era passageiro preferencial, tinha o ‘cartão vermelho’ da TAM, e minha passagem internacional era classe Executiva. Nada. A descortesia prosseguiu. Com volume já etiquetado, ele ordenou:

– O Senhor agora tem que levá-lo [o case/caixa] ao avião, porque tenho que fiscalizar outros passageiros que estão na fila.

Com certeza, esperava que, intimidado, eu entregasse o volume para a equipe de bordo levar para o porão. Em razão de sua “gentileza”,  optei por seguir a instrução ao pé da letra: levei para o avião, com etiqueta vermelha e tudo. Passei pela porta de acesso e guardei no bagageiro superior.

Darcy Ribeiro ensinava: “Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”. Nem eu.

Fiquei feliz com o drible e triste por ser tratado daquela forma.

PS: Sou extremamente cumpridor das normas. No caso, reagi ao desafio do despreparado funcionário. É inegável a falta que o comandante Rolim faz.

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