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Brasil doente

Faço – aqui e agora – uma afirmação ousada, porém calcada em convicções sólidas: o Brasil, a nação do maior sistema de saúde gratuito do mundo, tem dinheiro de sobra para proporcionar aos brasileiros atendimento de saúde de primeiro mundo.

Eis o fundamento para as minhas convicções: só em 2013, as despesas totais do Brasil com saúde foram de aproximadamente R$ 450 bilhões. Ou seja: quase 10% (exatos 9,2%) do Produto Interno Bruto.

Trata-se de uma montanha de recursos – aqui e em qualquer parte do mundo.
O diagnóstico do quadro angustiante da saúde brasileira não passa, portanto, necessariamente pelo volume de verbas alocadas.

Por que, então, a saúde nacional não sai da UTI?

Por que está sempre com ares de moribunda, anêmica, sem vigor para assistir seus usuários?

A resposta se desenha na figura sequiosa e necrófaga, dos abutres que operam no organismo bilionário do SUS.

São eles, e suas operações de saques criminosas, que interceptam e abocanham os recursos que deveriam chegar aos leitos, às farmácias públicas, às salas de cirurgias, aos postos e upa’s, ao coração, enfim, desse sistema: o paciente.

Os abutres são tão criativos quanto insaciáveis.

Eles não apenas majoram os preços dos produtos, mas também subtraem na quantidade enquanto multiplicam nos valores.

O que é superfaturado e encolhido nos lotes ainda passa por desvios, jamais chegando a abastecer as prateleiras de hospitais e postos. Somem, misteriosamente, no meio do caminho.

A rapinagem chega ao requinte de, propositadamente, danificar equipamentos públicos para obrigar o usuário a migrar para clínicas particulares de seu interesse.
Os esquemas de fornecimento estão, de fato, minando a vitalidade do SUS.

Nesta cadeia aparecem ainda as comissões, distribuídas de forma irregular a compradores, médicos e hospitais. Esta ciranda criminosa faz o preço final dos produtos ficar até 8,7 vezes mais caro, segundo estimativas feitas por auditorias do próprio Ministério da Saúde.

Ilustro com uma conta (elaborada dentro do MS) o que isto significa pragmaticamente: uma prótese de joelho, por exemplo, que custava R$ 2.096, teve o preço avaliado em R$ 18.362.

Isso ocorre devido às margens de lucro acrescentadas a cada etapa de comercialização.

As fraudes na saúde são realmente sortidas.

Os vampiros, por exemplo, extraíram R$ 2,4 bilhões entre 1990 e 2004 em operações que envolviam funcionários e lobistas em fraudes de licitações para a compra de derivados do sangue usados no tratamento de hemofílicos.

Já os sanguessugas guiaram para suas próprias contas R$ 140 milhões em propinas pagas a parlamentares em troca de emendas destinadas a` compra de ambula^ncias, superfaturadas em ate´ 260%.

De escândalo em escândalo, de auditoria em auditoria, chegamos a triste conclusão: temos um sistema de saúde miserável com operadores milionários. E é a “coincidência” desse encontro lesivo que fecha o diagnóstico do SUS: corrupção e escândalos são as feridas expostas da saúde do Brasil.

Cicatrizá-la, com políticas e leis de controle e fiscalização, é a única saída para restabelecer o SUS.

Se isso não ocorrer, desliguem os aparelhos. Pois este organismo, vegetativo, já avança para a morte clínica.

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