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Calça de veludo

O Brasil é uma nação de extremos; do tudo ou nada; do oito ou oitenta.

E o mundo enxerga, com clareza, essa nossa dualidade.

Essa perspectiva me foi apresentada recentemente – como uma espécie de confirmação – por um mega empresário europeu, investidor desse lado de cá do Atlântico.

Em uma conversa franca tive o privilégio de ter uma ótima análise sobre o nosso País.

Disse ele:

– Cada vez que venho aqui, encontro um humor econômico curiosamente distinto. Ou os brasileiros se sentem e vendem a ideia de que são os novos megamilionários do planeta (e o mundo acredita) ou se recolhem e perdem a fé no seu País.

Ele continua, comparando:

– Na Europa conservadora, o padrão comportamental não admite essas oscilações. Talvez por isso invisto aqui. Pois, convenhamos, é fácil comprar dos brasileiros quando estão de baixo astral.

Como contestar?

Essa análise, aliás, bate fidedignamente com as experiências que tenho tido nas minhas viagens internacionais.

O tratamento muda, de fato, de acordo com o humor econômico brasileiro.

Nos tempos das vacas gordas, quando pregávamos que o Brasil era a bola da vez, fui tratado com toda a pompa e circunstância em pleno coração de Copenhagen.

Nunca hei jamais de esquecer aquela adulação explícita:

Era hora do almoço e da vitrine podia ver a família, proprietária, almoçando nos fundos da loja de antiguidades. Apertei a campainha apenas para saber que horas seria retomado o atendimento, pois estava interessado em uma das peças expostas.

Assim que me identifiquei como brasileiro, a fisionomia do comerciante se iluminou:

– De jeito nenhum, vou atendê-lo agora mesmo – anunciou, esquecendo sua sagrada hora do almoço.

No boom brasileiro, éramos de fato tratados como xeiques.

Assim a gente se comportava; assim o mundo acreditava. Numa demonstração de que, realmente, somos quem pensamos ser.

Tempos atrás, na entressafra dessa crença, os brasileiros já foram muito maltratados quando atravessavam a fronteira.

Eu inclusive.

Em meio ao calote do Governo Sarney, por exemplo, fui enxotado de um stand de uma feira internacional na Alemanha simplesmente por ser brasileiro.

O que nos leva de novo ao País do tudo ou nada.

E explica porque o mundo tem tanta dificuldade de nos entender.

E como poderia?

Quando julgamos que podemos tudo, vamos às compras sem medo de sermos felizes. Gastamos, investimos, empreendemos. Não raro, damos passos maiores que nossas pernas.

No recuo desse otimismo, paralisamos. Nem sequer conseguimos enxergar as oportunidades que as crises criam. Simplesmente estancamos e nos recolhemos ao pessimismo.

Sem direito a meio termo.

Sem direito ao equilíbrio.

Um jargão popular ilustra, à perfeição, os extremos brasileiros:

Aqui ou é calça de veludo ou bunda de fora!

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