Ou é 8 ou é 80?
Usada para significar extremos, a expressão antiga é uma espécie de tudo ou nada, da ausência do meio-termo e até inflexibilidade – uma convenção inserida no senso comum de que não se pode ir do 8 ao 80.
É realmente difícil, admito. Posso, porém, provar o contrário.
Pois fomos, literalmente, do 8 ao 80 nas celebrações pela chegada do meu setentinha.
Não foi, de fato, tarefa fácil elaborar uma programação que pudesse agregar (e agradar) da minha neta mais nova – de 8 anos – ao meu agregado mais idoso, quase chegando aos 80.
Debruçado sobre esta pauta, baixei alguns critérios. O principal deles (atendendo meus instintos de navegador) era que tinha que ter água. Se não fosse o mar, seria um rio – e dos grandes!
Aí veio a iluminação: vamos para a Amazônia!
Surgiu, então, uma opção fantástica: um pequeno mas acolhedor navio, cruzando aquela imensidão fluvial, por cinco dias, no sistema all inclusive (aquele em que você tem o conforto de acomodar seus convidados e, ao mesmo tempo, ser poupado de surpresas com cobranças de extras).
Estávamos, ao todo, em 22 pessoas – filhos, noras e genros, netos e amigos mais próximos (meus queridos agregados).
E a festa foi grande no Ibero Star – pescaria, caminhadas na mata, banhos no rio ao lado de botos cor de rosa, contato com a flora e fauna exuberantes – com direito a captura de jacarés com as mãos, visita a aldeia indígena, visualização de onças, serpentes e diversas espécies de macacos. Ali, se estabelece uma certeza: quanto mais próximo da natureza, mais próximo do Criador.
Como as funções de nossos celulares se resumiam a meras câmeras fotográficas, está tudo muito bem documentado. Só um de nossos integrantes tirou mais de 1,7 mil fotos.
Já conhecia a Amazônia, mas não daquela forma tão fantástica. Foi realmente uma espécie de presente que me ofereci e compartilhei com minha família, amigos e agregados.
Sabe o que foi mais fantástico?
Passar todo esse tempo sem sinal de telefone. Sem internet. Sem redes sociais. Sem agenda de compromissos. Desconectados do ritmo frenético diário.
Pude, então, conversar com meus netos. Estreitar a convivência e experimentar a sociabilidade em sua plenitude.
A família conviveu com a família – sem distrações externas, sem ocupações que distanciam e compromissos que apartam.
O que se faz quando a TV não está ligada, o telefone não toca e o computador segue desconectado?
A gente se olha no olho, se junta, se fala. Até os contadores de histórias ressurgiram com suas prosas criativas e bem humoradas.
Diante da natureza bruta, contemplando um chão de estrelas refletidas nas águas escuras do Rio Negro, voltei à infância.
Aos setenta, me senti menino – uma criança que viveu o suficiente para saber que o melhor da vida ainda é – e sempre será – a simplicidade.