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Enigma do burro

Tenho máximo respeito ao animal – incompreendido, usado e abusado, pouco reconhecido em sua capacidade obreira.

Condenado à coadjuvância eterna, a despeito de estar em cenas importantes, como aquela em que um muar dispôs do próprio lombo no transporte da família messiânica para longe das mãos perversas de Herodes.

É realmente uma grossa ingratidão que o burro nomine a burrice!

Pois ao contrário do burro quadrúpede, o burro bípede é um adepto do imobilismo – e dele não se move nem para se ver livre do fardo da mediocridade.

Sei que corro sério risco, ao encarar esse tema, de parecer presunçoso e arrogante.

Afinal, quem sou eu na escala da intelectualidade para medir a inteligência – ou a burrice – alheia?

Antecipo, porém, que não estou munido de régua. Na verdade, exercito aqui a capacidade de compreender. E até de me apiedar.

Esta semana, durante uma palestra de um curso de futurologia (mais uma das muitas tarefas que tenho me imposto para evitar a obsolescência), pude ter vislumbre claro de como a burrice se instala e se torna cultuada.

A essência desse processo se dá na manutenção da mente fechada:

Para mudanças. Para novos conhecimentos. Para flexões e adaptações.

Novidade, neste pasto estéril, é uma situação a ser temida.

Isso ocorre porque o burro é, sobretudo, um cabeçudo – absurdamente resistente a alterações que o tirem de sua zona de conforto e o façam vivenciar novas experiências.

Há quem diga que a burrice é uma condição congênita e cultural.

Mas não estamos, aqui, tratando sobre a excepcionalidade.

Não estou, em absoluto, versando sobre os fora de padrão (para mais ou para menos; superdotados ou limitados).

Estou, isto sim, trabalhando no campo da “normalidade” – entre os quais modestamente me incluo, junto com a ampla maioria da população mundial.

E dentro do espectro supostamente normal, a teimosia, a resistência, o engessamento mental limita o senso de percepção e prende o ser numa jornada marcada pela modéstia: intelectual, cultural, profissional.

Que redunda, infelizmente, na pobreza existencial.

A mente blindada para o novo conservará sempre os mesmos conceitos; viverá sempre as mesmas experiências; colherá sempre os mesmos resultados.

E sua manifestação mais esperada é uma baixa – quase inexistente mesmo – capacidade de visualizar o desconhecido; de enxergar o seu entorno.

O mundo dos burros é cercado e recheado de mais do mesmo.

Sim, a burrice é digna da nossa mais graúda piedade!

Pois para essa legião de cabeçudos, o fundo da caverna é o mito a ser mantido.

Ignorando a luz que, vez por outra, revela a vastidão do mundo que fervilha além das trevas da ignorância.

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