Seis anos de um dos mais agudos ciclos de seca provocaram estragos nos campos nordestinos que vão muito além da vegetação esturricada e das mortes nos pastos:
O Sertão virou um deserto!
Pois o fenômeno que dizimou plantações e animais também atingiu em cheio o sertanejo, obrigado a empreender, mais uma vez, uma migração indesejada.
E eles migraram em massa, sedentos, esfomeados, sem tostões nos bolsos para resistir a intempérie…
O povo do Sertão foi, literalmente, tangido por essa longa e castigadora estiagem.
Deixando para trás um cenário realmente desértico.
Quanto mais se avança para o interior, mais se constata a ausência do bicho homem.
As caatingas hoje experimentam os efeitos dessa evasão: os sítios foram abandonados, as casas fechadas, as bodegas entregues às moscas.
Não se encontra mais mão de obra nem para reparar uma cerca. Ou para dar suporte a vacinação do gado.
Eventos como a festa da pega do boi, que arregimentava dezenas de vaqueiros para juntar os animais, ficaram na lembrança. E deixam saudades.
Pois até o vaqueiro virou espécie em “extinção” no atual momento sertanejo.
Mesmo quem tem emprego garantido nas grandes fazendas pondera se realmente vale a pena ficar e resistir aos problemas que se apresentam.
E nem a chegada das águas da transposição animou o sertanejo, nas áreas contempladas pelos canais, a fazer o caminho de volta.
Eles continuam nas pequenas cidades, tentando a sobrevivência.
Até porque, para além da seca, o pacato povo sertanejo se esconde de outro fenômeno igualmente perverso:
A onda de insegurança que também arrebenta neste instante nos campos, traçando tudo o que vê pela frente e instaurando o medo.
O aumento da violência acabou, inclusive, com um ritual típico dos sertões: a roda de conversas nos alpendres ao final do dia – quando fazendeiro e peão; proprietários e empregados se reuniam como uma grande e animada família.
O medo os levou para dentro de casa, impactando um relacionamento que é marca cultural dos sertões.
Correndo da seca e da bala, as populações rurais transformaram o Sertão – com suas ausências – em um cenário de absoluta solidão.
Tristes hordas de pessoas vitimadas, sobretudo, pela omissão.
Que não lhes deu de beber por séculos a fio.
E não consegue, neste instante, sequer protegê-los da violência.