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Outro Luiz pernambucano

Década de 80. Numa entrevista que acabou fugindo do script cultural, o repórter Geneton Moraes Neto faz uma pergunta astuciosa a Luiz Lua Gonzaga:

Por que o rei do baião, o homem mais famoso da região, a fisionomia nordestina em
forma de música e poesia, havia anunciado por duas vezes – para em seguida retirar – candidatura a deputado federal?

Transcrevo, abaixo, a resposta reveladora do filho de Seu Januário:

“Essa história realmente agora na década de 80 andou mais perto. Mas quando o povo sentiu que eu era candidato mesmo aí começou a exploração. Começaram a me pedir dinheiro por tantos votos, começaram a me oferecer votos pra comprar e eu digo peraê meu Deus do céu, que coisa esquisita! comprar votos? É, se o senhor não comprar, não se elege. Aí me aborreci. E eu quero saber disso. Eu já tô eleito há muito tempo como o rei do baião e sou monarca aí da sanfona, tô usufruindo e sou feliz com isto, como é que eu vou pagar para entrar numa profissão? Eu achei aquilo esquisito e torei de banda, fui-me embora. Quis saber não”.

Diferente de outro Luiz parido por Pernambuco e que a ingratidão do destino nos impôs, esse Luiz pernambucano jamais se submeteu às regras indignas do jogo político.

Demonstrando – já na década de 80, quando a gente ainda não sabia da extensão do infortúnio que a política nos reservaria – uma noção claríssima de cenário futuro.

Luiz, o soberano da sanfona, não precisou de Lava Jato nem de delação para entender a gravidade das relações apodrecidas que a política construía no País – antevendo um porvir que redundou num presente medonho.

Respeitando o que lhe ensinou Januário, esse Luiz “torou de banda”.

E fez muito bem.

Se tivesse sucumbido, como o outro Luiz, certamente sua poesia teria perdido a rima. E hoje a história estaria, talvez, lhe cobrando até a sua majestade.

Pois, desde sempre, a política brasileira optou por uma seleção que não respeita mérito nem intenções.

É ambiente de privilégios para privilegiados.

De barganha e negociatas.

Onde ideologia tem preço. E eleição custa muito caro – numa cotação tão elevada que, noutro Luiz, pode ter custado até a alma.

Ainda bem que o monarca do baião resistiu a tentação – se aborrecendo com a iniquidade; estranhando o que parece ser tão aceitável no contaminado universo político.

Parece, mas – definitivamente – não é.

Luiz, assim como todos os cidadãos honestos e retos desse País, sabia que voto é (ou deveria ser) conquista – jamais produto para a compra de quem pode pagar.

E a restauração da política brasileira passa, necessariamente, por esse entendimento – que, repito, Seu Lua entendeu perfeitamente sem precisar se submeter à dura pedagogia de Ministério Público e Polícia Federal.

Revivendo o não de Luiz, só tenho uma coisa a acrescentar:

Viva a tua torada de banda!

Na eternidade de seu trono, Luiz conserva sua majestade.

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