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Sentimentos

Gosto de olhar para o futuro, mas vez por outra espio para trás, resgatando fragmentos de vida, avivando memórias esmaecidas pelo tempo. Sou assim desde sempre – um colecionador de histórias (as minhas principalmente).

E essa compulsão se intensificou no ano passado, assistindo a agonia de minha irmã Celina.

Ao longo dos quarenta dias em que ela lutou pela vida em um hospital do Recife, fiz um mergulho intensivo na nossa história. Sabia que logo a perderia. Mas não poderia perder, junto, a memória do tempo que percorremos juntos.

Depois de visitá-la no hospital, peregrinava por paredes e ruas respirando emoção.

Voltei, por exemplo, à velha casa do Derby, onde passamos boa parte da juventude. De sala em sala, de quarto em quarto, revivi quem fui quando ainda era filho de Beatriz e René e irmão caçula de Celina.

Estiquei a visita à maternidade onde nasci, hoje transformada em prédio público com atividade totalmente distinta. O cenário havia sido desmontado, mesmo assim meu coração bateu mais forte.

Sentimento análogo me atingiu também ao visitar outro endereço da família, em Boa Viagem. Nada mais existia da antiga moradia, mesmo assim fui tomado pela emoção.

Continuei minha volta ao passado – sem direito a máquina do tempo – por locais que fizeram parte dessa história: escolas, universidade e até os passeios em frente as casas das antigas namoradas.

Os desgastes e alterações operados pelo tempo e o vento não impediram o resgate de momentos bem vividos – situações que construíram o Roberto que sou hoje.

No resumo, foram momentos fantásticos. Até porque, nesta complicada equação da vida, contabilizo um saldo muito feliz.

Na última terça-feira fiz mais uma destas incursões.

Rompendo o “espaço-tempo”, rebobinei cinco anos ao estacionar no endereço SQS 309, bloco G, quarto andar do prédio de apartamentos funcionais que ocupei em Brasília durante meu mandato de senador da República.

E me surpreendi ao descobrir que nada ali me despertava emoção.

Na verdade, me senti um estranho no ninho. E sondando as entranhas, computei zero de saudades.

Não fosse o canto de um sabiá que rondava as árvores por ali, me fazendo lembrar manhãs igualmente embaladas pela musicalidade passarinha, tenho que admitir que nada – absolutamente nada – deixei de raízes emocionais no plano piloto da Capital Federal.

Saí de lá com a certeza de que, se foi a razão que me fez decidir pelo afastamento da política, o coração confirmava – naquele momento – que eu estava certo.

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