Sempre estou atento às definições que caracterizam uma pessoa chata.
Dentro do meu almanaque que caracterizam a chatice (sim, tenho um para não incorrer no erro) alguns comportamentos são ilustrativos.
Chato, por exemplo, é a pessoa a quem você pergunta que horas são e ela explica – prolixamente; demoradamente.
Ou então aquele que no segundo em que o sinal verde brilha ele já está com a mão na buzina, tangendo você como se estivesse num grid de fórmula 1.
Sim, ninguém gosta da chatice. Eu também não. Mas, pelo menos desta vez, quem vos fala é um Roberto muito chato, intolerante – embora matematicamente correto.
É que desisti de tentar ignorar os equívocos que se comete com a coitada da matemática. Especialmente por parte de gestores tentando mostrar serviço – e da mídia, que replica os erros.
Você já deve ter visto centenas de vezes por aí: no afã de impressionar seus eleitores, eles (os gestores) soltam verdadeiras pérolas da ficção aritmética.
Por exemplo: o índice de criminalidade caiu 300% em sua administração; a taxa de acidentes encolheu 250%; os índices de mortalidade infantil reduziram 120%.
Que bom que crimes, acidentes e mortes estejam em queda, seu gestor! Mas é melhor refazer a conta.
Ocorre que, matematicamente, nada pode ser percentualmente superior – em nível de redução – a 100%. Até porque o percentual implica apontar variações por unidade de cem.
No caso das reduções, a escala vai de 100 a zero. E para por aí, jamais entrando em operações negativas.
O inverso, sim, é possível.
Você pode falar, sem atentar contra as leis da matemática, que seus índices aumentaram mais de 100%. E até pode dizer que os números da criminalidade, atualmente, são três vezes menores em comparação com determinado período.
Poderia, inclusive, dizer que o índice anterior era 300% maior que o atual. Ou, ainda, que o atual, corresponde a um terço. Jamais, porém, contabilizar redução de 300%.
Insisto: se estamos falando em termos percentuais, a conta para efeito de diminuição não pode ultrapassar 100%.
O exemplo dos descontos lança luz sobre a regra. Uma loja pode oferecer ao cliente 10, 20, 50, até 100 por cento de redução do preço do produto. Mas não pode oferecer 120%.
Afinal, como poderia? Só se entregasse o produto de graça e ainda pagasse em dinheiro o valor correspondente a 20% do valor do bem.
Dou mais exemplos: só podem morrer 100% dos soldados de uma batalha. Assim como não se pode reduzir em mais de 100% a morte de crianças. Até porque isto significa admitir que o gestor fez nascer mais bebês.
Portanto, vamos aparar as arestas. Tentar mostrar assertividade, eficiência e boa gestão com verdadeiros atentados a matemática não é uma boa estratégia eleitoral – pois não resiste a escrutínio mínimo de veracidade.
Posso estar sendo chato (e tenho 100% de certeza que estou), mas é por um bom motivo: em defesa da matemática.