O Brasil completou ontem 517 anos.
Há nove dias no Peru, contemplo à distância o nosso País – e a data – com uma sensação inquietante no peito.
Duas questões martelam minha mente neste instante:
Meu fanatismo patriótico tem me deixado cego em relação ao Brasil?
E sendo rigorosamente honesto, podemos ou temos o que comemorar nestes cinco séculos e 17 anos?
A verdade é que sinto saudade de todos – filhos, netos, companheiros de trabalho, amigos. Mas não sinto saudade do Brasil.
Pois, sendo mais honesto ainda, é muito bom – alentador mesmo – a sensação de segurança que experimento em terras peruanas – fenômeno supostamente simples, mas em falta no cenário brasileiro.
Uma pena!
Pois, de fato, a segurança nos tem sido sistematicamente subtraída. E é preciso cruzar a fronteira para usufruir de alguma dose de liberdade.
Em todo o Peru esta sensação é vivida e comprovada com plenitude – desde sua capital Lima, com seus 10 milhões de habitantes, até em vilarejos como o Águas Calientes.
Pais de dimensões pequenas em relação ao gigantismo do Brasil (com pouco mais de 30 milhões de habitantes, o equivalente a 15% da população brasileira), o Peru faz o seu dever de casa.
E desponta, atualmente, como expoente do turismo mundial em todos os níveis.
Não sem uma inconfessável pontada de inveja, tenho que admitir: o Peru está bombando!
Artesanato de qualidade e bom gosto irresistível; belezas naturais imperdíveis. E, principalmente, cultura milenar fantástica.
Será que estaria aí – na cultura – a origem de tudo?
Quando há 517 anos os portugueses chegaram – cheios de más intenções – ao Brasil, nossos índios estavam nus, nômades, sem nenhum traço cultural relevante.
Já os espanhóis encontraram cenário melhor ao chegarem ao Peru, se deparando com cidades que se assemelhavam, à época, as europeias.
A civilização Inca, por exemplo, já era sofisticada.
A agricultura dispunha de técnicas modernas, como a desidratação dos grãos para permitir a sua estocagem por anos.
Os projetos das cidades previam água límpida e corrente em suas ruas.
Não sem razão, os espanhóis ficaram de queixo caído. Esperando encontrar o primitivo (análogo ao que os patrícios acharam no “novo mundo”), depararam com práticas de primeiro mundo.
O que me faz insistir: será que nosso erro é de origem?
O agigantamento dos nossos males vem desde a nossa colonização?
O certo é que a dimensão do desmando brasileiro é proporcional ao nosso tamanho.
O que me leva de volta a minha dor de cotovelo despertada pela grandeza civilizatória do Peru.
E a este inequívoco (e absurdamente desconfortável) sentimento de pena em relação ao nosso tão querido aniversariante.