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A Paraíba sem rainha

Quando se muda de reino, quando se busca um novo rumo, é preciso passar por um processo de adaptação.

E para adaptar-se, você tem que conhecer o reino – fisicamente, culturalmente, sociologicamente.

Na minha migração para a Paraíba não foi diferente – tive que conhecer o mundo político, econômico, jurídico, religioso, social. Conhecer, enfim, as forças da nova terra.

E assim o fiz.

Em dado momento busquei, também, conhecer a família real desse novo reino.

Faço aqui um parêntese e uma ressalva: não sou monarquista, muito menos elitista. Porém gosto de sonhar. E o mundo da fantasia muito me enriquece.

E quem seria a rainha dessa monarquia imaginária?

Como não havia monarquia formal, tive que me ater às minhas fantasias. Estabelecer, por assim dizer, alguns critérios.

Qual o perfil de uma rainha?

Tinha que ser linda (rainha feia é bruxa).

Achei.

Não podia faltar o castelo – o mais bonito e bem localizado.

Encontrei.

Tinha que ter a simplicidade da real nobreza. E deveria ser muito amada por suas qualidades, caso contrário seria uma tirana.

Não poderia ser medíocre – era necessário ter formação educacional no limite máximo, com curso universitário e pós-graduação.

Rainha para ser rainha tinha (ainda) que ter alma, coração e disposição beneficente.

Era seu forte.

Religiosa nem falar – nada acontecia, naquele reino, sem as bênçãos de Deus.

Rainha também tinha que ser doce e encantadora em seus gestos diários – com todos e indiscriminadamente: tratar nobres, súditos, vassalos – todos em tom pessoal e afetivo.

Fiz minhas avaliações e identificações. Achei, sem sombras de dúvidas, a minha rainha.

Uma nobre que – nessa minha vida de boas venturas – tive o privilégio de ter aproximação e convivência.

Em seus domínios, nas varandas de seu castelo, pude – por exemplo – entabular conversas por horas a fio com meu ídolo empresarial, Antonio Ermírio de Moraes, primo legítimo da rainha.

E meus privilégios não se esgotaram aí.

Imaginem: eu, plebeu, ouvir da rainha a revelação: ela lia todos os meus artigos. E não se furtava de comentá-los, um a um, com sua prodigiosa memória.

Caí no mundo real. Não era então fantasia. Era verdadeiro o meu sonho.

Faltavam apenas comprovações finais – a tal prova dos nove.

Se era realmente rainha, teria que viver muito – uns 90 anos, por aí; teria que morrer sem sofrer, de preferência do coração e de repente.; Deus a levaria para ser sepultada em um dia de grande significado religioso, tal como Corpus Christi.

Teria, ainda, que exibir na morte o semblante da tranquilidade. De quem parecia estar apenas dormindo.

Aquele tipo de semblante que só se exibe quando se parte com o dever cumprido – como rainha e como mãe, avó, bisavó. E foi assim.

A minha rainha era verdadeira, de carne e osso. E ela se foi.

Perdi minha leitora mais importante. A Paraíba perde sua rainha.

Perdemos todos nós com a passagem – para um outro plano da vida – da inesquecível Dona Maria Helena Pessoa de Melo Ribeiro Coutinho.

O reino se enluta. E chora.

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