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A posse que vi

Vi cada detalhe desse acontecimento mundial que é a posse presidencial na maior potência econômica do planeta.

E tinha bons motivos para prestar tanta atenção:

Desde que comecei a acompanhar as eleições americanas, certamente esta é a mais polêmica por diversos e sortidos motivos – começando pelo perfil do eleito, passando pelos rumores de espionagem russa e culminando com um placar estreito.

Donald Trump chegou à porta da Casa Branca para comandar um país dividido. E boa parte do mundo torcendo flagrante e descaradamente contra.

Não vou descer ao mérito do eleito – o povo americano e a história o farão com mais propriedade.

O fato é que, enquanto o mundo ladrava, a caravana de Trump passava célere para se instalar no epicentro do poder.

E temos que admitir: democracia é isso: o vencedor toma posse do que conquistou; os perdedores que fiquem à vontade para espernearem.

Ao longo das mais de doze horas de programação do ritual de posse, assistimos (com exaustiva repetição) cenas dos protestos nas principais metrópoles do país.

Mesmo impactados por imagens de confronto entre manifestantes e polícia, o saldo do dia americano foi um espetáculo de uma democracia sólida.

O ritual realmente impressiona.

A começar pela programação religiosa, avisando ao mundo que os Estados Unidos são predominantemente uma nação cristã.

Depois da prece veio a demonstração de civilidade, marcada pelo gesto elegante dos sucedidos – Barack e Michelle – oferecendo chá na Casa Branca para seus sucessores, seguindo a tradição democrática dos rituais de posses presidenciais.

No ponto alto da posse – a leitura do juramento, diante de câmeras do mundo inteiro -, mais uma vez os Estados Unidos deram testemunho de cristandade e de respeito às diferenças religiosas com as presenças de líderes de seis entidades religiosas.

O que mais impressionou naquela cena, porém, foi a presença de todos os ex-presidentes vivos.

A exceção de Bush Pai, que permanecia sob cuidados intensivos em um hospital, estavam todos lá – inclusive Jimmy Carter, que aos 92 anos tomou um voo de carreira para testemunhar a posse do 45º presidente americano.

Se isso não é capaz inspirar as nações, não sei mais o que teria potencial para mexer com instituições republicanas ao redor do planeta…

No paralelo dos protagonistas, vimos um varejo curioso.

Bill Clinton, por exemplo, confirmou sua incapacidade de resistir a um rabo de saia, acintosamente flertando com a filha de Trump diante dos olhos de Hillary.

E uma Michelle Obama com postura de candidata num futuro próximo, se impondo de forma incontestável – mais até do que seu marido.

Será que ela volta?

A hora, porém, é de despedida para os Obama. Eles se retiraram, discretamente, sendo homenageados com o uso (pela última vez) dos aparatos presidenciais – o helicóptero e o avião Air Force One.

Antes de partir, deixaram sobre a mesa do Salão Oval uma carta que muitos de nós gostaríamos de conhecer o conteúdo.

Já sem o casal Obama, o banquete presidencial, símbolo da confraternização entre os antagonistas políticos, voltamos a reencontrar todos os ex-presidentes.

Horas antes, os milhões (quiçá bilhões) de olhos que miravam o evento no Capitólio e ansiavam pelas primeiras palavras do homem mais poderoso do mundo, não se surpreenderam.

Ao contrário do que nossos incompetentes comentaristas especularam durante toda a cerimônia, apostando em um discurso conciliador após campanha tão dura, e também em função da baixa popularidade do eleito, Trump foi mais uma vez ele mesmo.

Deixou muito claro, por exemplo, que não está ali para dizer o que o mundo quer ouvir.

Tudo o que prometeu na campanha foi endossado (incluindo as piores partes, que focam no protecionismo e na América para a América, sem dividir sequer as migalhas com o restante do mundo).

E grifando que, de agora em diante, o mote é “America first”.

Para bom entendedor, o recado dele foi claríssimo:

O mundo que se cuide!

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