Moeda: Clima: Marés:
Início Entretenimento

Artistas de pop rock explicam como pandemia afeta carreiras

Com a pandemia causada pela Covid-19, a principal fonte de renda dos músicos, que é a agenda de shows, simplesmente secou. Com as turnês suspensas por tempo indeterminado, a rotina dos músicos mudou completamente. E causa preocupação.

Leia também:

O tempo livre encontrado com o confinamento tem servido para adiantar projetos de composição e gravação de músicas e discos. Apesar de ser uma tarefa que eles já fariam de qualquer maneira, interromper datas causou prejuízos e indefinição no futuro de artistas de pop rock.

O estilo, que já não é um dos com mais espaço no mercado atualmente, não consegue contar com as alternativas criadas pelos músicos sertanejos, como lives patrocinadas por marcas de bebidas alcoólicas e outros cases publicitários.

A maneira encontrada tem sido economizar e pensar como recuperar os prejuízos no futuro. Vinny, que havia acabado de retomar a carreira estacionada enquanto o músico estudava, lamenta a suspensão da turnê que faria ao lado do LS Jack.

Mas para ele, os mais afetados com o momento serão os prestadores de serviço da área e os chamados “músicos da noite”. “Eu tenho uma boa reserva por conta dos anos todos que eu trabalhei. Me afetou menos que a alguns amigos que vivem da noite. Todos estão se arranjando para resolver isso. Fizemos campanha para arrecadar fundos e alimentos para os roadies, que são carregadores que montam os palcos, e também técnicos de som. Uma rede solidária tentou amenizar esse cenário negativo”, conta.

Bruno Gouveia, líder do Biquíni Cavadão, teme que esse momento de crise financeira comece a se agravar já nos próximos meses. Com mais de 30 anos de carreira, ele garante que tem uma reserva para se estabelecer no momento, mas que, no geral, todos artistas do mesmo porte enfrentarão dificuldades. “É a hora em que a Cigarra vive a fábula de La Fontaine. Sempre disse a todos que ser artista no Brasil é bancar a Cigarra com pensamento de Formiga. Tenho alguma reserva, mas não é algo para sempre. Existem outras formas de rendimento para quem compõe, mas as arrecadações de direitos deverão cair vertiginosamente nos próximos meses também”, detalha.

Renato Rocha, guitarrista do Detonautas, concorda com Bruno nesse sentido. E comenta que, de forma geral, esse momento nos ensinará a ter outra perspectiva sobre a vida. “Financeiramente o impacto é gigantesco e cortei tudo o que podia para minimizar o dano. Momento propício para refletirmos que precisamos de bem menos do que imaginamos para estarmos felizes”, divaga.

Vitor Queiroz, baixista do LS Jack, é pessimista em relação ao retorno. Para ele, a crise vai afetar o mercado musical em cheio. “O impacto vai ser grande, mas o período é de incerteza. Apesar de eu acreditar que vai haver uma demanda muito grande no momento que houver autorização para retorno, vai ter menos dinheiro circulando. Mas eu procuro, em cima disso, ter uma visão otimista”, garante.

Sem estrada, composições e gravações entram na pauta

Apesar das perspectivas e análises negativas para o futuro, os artistas de pop rock tentam fazer desse um momento mais produtivo.

Vinny e LS Jack, que sempre trocaram colaborações em estúdio, estão compondo e gravando juntos desde o começo da quarentena. “No meu caso e do LS Jack, aproveitamos demais esse tempo. Fizemos um álbum inteiro, com cada um na sua casa. Estamos nos envolvendo com arranjos, músicas novas. Nesse sentido, foi muito produtivo. É óbvio que, quando a gente se encontrar em estúdio, tudo vai ter uma sonoridade diferente, mas aproveitamos para adiantar isso”, explica Vinny.

Vitor Queiroz ainda enxerga o momento como propício para o fortalecimento na área digital. “A internet pode ocupar um espaço grande em nossas vidas e o confinamento pode estreitar nossas relações com o digital, mas a experiência dos shows nunca será deixada de lado. Definitivamente, nunca vai acabar”, aposta.

Bruno Gouveia relata que o Biquíni adiantou o lançamento de um disco ao vivo que já estava previsto, mas prefere não compor por agora com receio de só conseguir falar sobre o momento que o mundo passa. “Nos organizamos para lançar um disco ao vivo nas plataformas digitais neste mês de maio. Já estava previsto, por sinal. Quanto a compor, estou me segurando. Temo que só saiam canções sobre isolamento”, comenta.

O músico ainda tem uma preocupação extra no momento: a mulher, Izabela, está grávida de seis meses e ele tem acumulado também as funções domésticas. “Somente nós, numa casa para cuidar, comida para fazer, roupas para lavar e passar, sendo que, a cada mês que passa, tenho que acumular mais funções para que minha mulher não se esforce. Os dias têm sido curtos. Devo ter visto três filmes nas últimas semanas. E só!”, revela.

Apesar de ter tido uma carreira repleta de shows no fim dos anos 90 e início dos anos 2000, Vinny confessa que tem uma relação de amor e ódio com a estrada e que, tirando a parte financeira, não sente falta de estar em turnê: “A parte de estar sempre longe de casa sempre foi um conflito interno. Porque eu sempre gostei demais de ficar em casa. Sou muito caseiro. Mas ficar em casa e ter que ficar em casa é diferente”, destaca.

Renato Rocha fecha a questão resumindo que inicialmente pode ser complicado, mas que as coisas voltarão ao normal e o público sentirá falta de ir a shows. “A experiência ao vivo jamais será substituída (será que com a evolução da inteligência artificial a experiência ao vivo no local poderá ter menos adesão?) e acreditamos que essa escassez gerará uma demanda enorme. Quando forem liberadas as aglomerações, acreditamos que haverá procura ainda maior. Saberemos ao certo mais lá na frente e agora o importante é que quem possa ficar em casa, que fique. E todo mundo pode dar suporte ao seu/à sua artista preferido(a), ouvindo suas músicas, assistindo clipes, pedindo nas rádios, adquirindo produtos oficiais”.

*Texto de Helder Maldonado, do R7

Saiba mais sobre o coronavírus no vídeo abaixo:

publicidade
© Copyright 2024. Portal Correio. Todos os direitos reservados.