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‘As rosas no chão’ é o título da coluna do professor Trindade

Causou-me tristeza. Na calçadinha do Dede, um buquê de rosas estava no chão.

Como estivesse ainda embrulhado, e numa esquina, veio-me logo um pensamento sinistro. Seria catimbó, trabalho de amante que queria “amarrar” alguém? Era improvável; fosse catimbó e as rosas estariam acompanhadas de outros apetrechos: galinha preta, garrafa de cachaça, velas…

Vieram-me, então, à cabeça, algumas outras hipóteses.

Que amante desalmado teria desprezado tal gesto de carinho e colocado aquelas rosas ali? Sim, porque elas foram colocadas; não foram jogadas.

A natureza humana… As rosas eram rubras, em número de cinco; rosas rubras indicam paixão e o número ideal – diz a boa etiqueta do envio de rosas – é ímpar, para que o par seja completado com a pessoa que recebe as rosas.

Comecei a imaginar:

Seria um amante mais velho que teria mandado para a amada, uma menina bem mais jovem? Ou uma mulher mais velha que estava apaixonada por um garotão bem mais novo? Quem sabe aquelas rosas tivessem sido mandadas por alguém cuja paixão não fora correspondida. Ou seria um casal que estava brigado; um deles teria mandado, e o outro, por pirraça, tivesse jogado no chão?

Acontece que as rosas não estavam jogadas; foram colocadas, adrede, junto a uma árvore.

Uma coisa é certa: quem recebeu não estava apaixonado. Se estivesse, guardaria, com todo o carinho, aquela relíquia, num jarro; colocaria um pouco de água para que elas durassem mais.

Tento esquecer as rosas e continuar a caminhada. Vou até uma casa próxima para comprar o leite “in natura”, na casa de uma senhora muito simpática.

Deu-me, porém, vontade de voltar e espiar, novamente, as rosas. Não me conformo: aquelas rosas falam (ou querem falar) alguma coisa. E não mais exalam o perfume que “roubaram” de alguém.

Melhor esquecer. Volto para casa e sinto o aroma gostoso do café, feito, com muito carinho, pela minha esposa. Quando termino o café é que percebo: a toalha da mesa é decorada com rosas. E vermelhas!

(Publicada, originalmente, no Correio- impresso, em 2014).

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