Ao longo dos últimos 30 anos, os empreendedores brasileiros conviveram com nada menos que sete planos econômicos. E seis trocas de moedas – Cruzeiro que virou Cruzado que virou Cruzado Novo que voltou a ser Cruzeiro que virou Cruzeiro Real que, finalmente, virou Real.
No meio desse caminho fomos obrigados a conviver com picos inflacionários que alcançaram a casa de mais de mil por cento ao ano, desvalorizações abissais, congelamento de preços e até confisco da poupança.
Plano Cruzado e Cruzado II (1986), plano Bresser (1987), Verão (1989), Collor I e II (1990) e Plano Real (1994) traumatizaram os brasileiros. E, todos eles, provocaram turbulências que fragilizaram os setores produtivos.
Estabilidade – definitivamente – é uma profecia jamais realizável no País que ostenta, em pleno hoje, a maior carga tributária entre as nações ocidentais.
Inserido neste cenário perturbado há mais de 50 anos, confesso que machuca minha alma assistir economistas ambíguos – imberbes na ciência e fortemente atrelados a essa máquina voraz que chamamos de Receita – tratar como “pacote de bondades” programas de recuperação fiscal dos segmentos produtivos do País.
Os Refis da vida podem até alongar prazos e dar descontos em multas, mas não perdoam nem isentam.
São, na verdade, soluções paliativas para fazer o pulso continuar a pulsar em meio a tantos abalos – corrigindo em algum nível (e nada elevado) anormalidades como as extorsivas multas impostas a quem não está em dia com o nosso faminto leão.
São, enfim, uma tentativa modesta de reparação por todos os danos que o Estado provocou, ano após ano, na classe empreendedora.
Vamos tratar a coisa de forma pragmática?
O que acontece com os segmentos produtivos do País é mais ou menos o que poderia acontecer com o locatário de um imóvel que paga R$ 1 mil por mês e, em algum momento, encontra dificuldade para pagar o aluguel. Aí seu locador avisa que sobre a dívida principal será aplicará multa de 150%.
Ou seja: quem estava em dificuldade para pagar mil reais terá que operar a mágica de pagar R$ 2.500 – acrescidos de todas as correções monetárias possíveis.
Os programas de refinanciamento tentam corrigir essas distorções. Mas é ir longe demais a tentativa de “vender” esses pacotes como presentes generosos, embrulhados na bondade.
Afinal, quando a redução de uma cláusula daninha pode ser encarada como um gesto de magnanimidade?
Trata-se, quando muito, apenas um ensaio de que, no topo do poder público, existe a consciência de que a nação nunca legou uma pátria equilibrada para que os brasileiros possam trabalhar e prosperar.
É – insisto – um singelo ensaio de que o Estado brasileiro reconhece que ninguém de bom senso monta um negócio para não honrar seus compromissos. Até porque isso significaria condenar o empreendimento à efemeridade.
E o sonho dourado de todo empreendedor – e isso digo de cátedra – é a perpetuação de seu negócio, geração pós geração; é conseguir sobreviver a toda sorte de instabilidade numa nação que simplesmente não consegue fazer a meã culpa.
E prefere atrair com novos investimentos (afugentados por toda essa instabilidade) ao invés de dar sobrevida aos empreendimentos já instalados – que poderiam dar resposta rápida a demandas cruciais como recuperação do PIB e a consequente geração de emprego.
Existem sim muitos culpados pelo fracasso (até aqui) da economia do Brasil.
Mas a culpa não é de quem empreende.
Não é, definitivamente, do trabalhador povo brasileiro!