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Câmbio criminoso

Quem manda na política monetária brasileira? Quem, efetivamente, controla a nossa moeda?

A resposta está sendo construída dentro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que investiga suposta (ousaria chamar evidente) manipulação das taxas de câmbio.

O resultado dessa investigação – que corre no paralelo em instituições internacionais análogas – pode deflagrar uma nova “era” dos regimes cambiais (um novo capítulo na saga iniciada na Gold Standard e aprimorada em 1944 em Bretton Woods).

Os indícios de que estamos lidando com um cartel de banqueiros que danificam economias mundiais – entre as quais a brasileira – são consistentes.

Há um ano, em um artigo apropriadamente intitulado “manipulação” (disponível no Portal Correio), expus um resumo dessas orquestrações criminosas.

Trata-se, aliás, de um crime praticamente confesso: em chats denominados de “cartel”, “máfia” e “clube dos bandidos”, operadores de um pool de bancos combinavam cotações que movimentavam, diariamente, mais de US$ 5 trilhões.

Como permitimos que as relações comerciais do planeta virassem caso de polícia?
Provavelmente extrapolando o liberalismo, parido a fórceps no início da década de 70.

Contra todas as indicações em contrário, as nações mais ricas do planeta decidiram ficar com tudo: política monetária independente; taxa de câmbio flutuante e livre mobilidade de capitais.

Os vazamentos de chats mostraram como a reunião dessa tríade é explosiva. E nossas taxas de juros estratosféricas provam como esse grande encontro é realmente letal!

Porque, nestas condições de temperatura e pressão, o câmbio deixa de ser instrumento de regência do fluxo das exportações e passa a servir à especulação do sistema financeiro internacional.

Para piorar o que já é muito ruim, de flutuante o câmbio brasileiro passou a oscilante – uma diferença semântica que assume distância abissal especialmente quando, na mesma cena, está a liberdade de movimento de capitais.

Traduzindo: a oscilação, que nem existe oficialmente, é uma degeneração da flutuação. E ao invés de funcionar como uma tática comercial, transforma o câmbio brasileiro em instrumento de manipulação explícita – enriquecendo castas especulativas de forma criminosa.

O dano que causa é gigantesco.

Não sem razão, grandes companhias brasileiras pediram para tomar parte na investigação em curso no Cade, reclamando prejuízos provocados pelo esquema.

O modus operandi da manipulação: compartilhando várias vezes ao dia suas posições compradas e vendidas, o cartel viabilizava a “previsão” do comportamento do mercado na sessão seguinte. E completava o serviço com a combinação das taxas.

Detalhe nada singelo: nada, no horizonte, explica o porquê da oscilação cambial.

As grandes companhias são as vítimas mais vultosas dessas operações criminosas. Mas não estão só.

Aliás, num universo de justiça plena, cada brasileiro deveria ter um assento no conselho do Cade. Porque todos nós estamos sendo prejudicados – e há muito tempo – por esse clube de bandidos:

Quando pagamos nossas compras feitas em sites internacionais ou quando vamos a uma casa de câmbio para realizar o sonho de uma viagem ao exterior; quando consumimos o pão nosso de cada dia reajustado pelo trigo importado ou quando exportamos nossos produtos, a exemplo das frutas.

O exportador brasileiro, aliás, tem deixado nas mesas de câmbio dos bancos em torno de R$ 0,03 centavos por dólar no momento em que fecham suas operações – fruto de uma variação regida arbitrariamente pelas instituições. E com a absoluta complacência do Banco Central.

Cabisbaixos, são obrigados a aceitar a gula bancária insaciável. E que ganhou ritmo incontrolável nos últimos dois anos, aumentando exponencialmente as margens de lucro de suas carteiras de câmbio.

Contra (tantos) fatos e indícios criminosos sobram pouco argumentos: no bolso, na mesa, temos a resposta que o Cade procura em suas investigações.

E ela é direta, como todas as equações bem resolvidas:

Nesta flutuação criminosa, o balanço segue sempre a mesma direção: as contas dos banqueiros.

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