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Casamento coletivo: o sonho do matrimônio no Parque do Povo

Jailda Marta Sousa e Silva, de 44 anos, e José Cavalcante Pereira Júnior, de 45 anos, se conheceram no Colégio Estadual da Palmeira, em Campina Grande, no ano de 1990. Eles estudavam no turno da noite e só começaram a namorar depois de alguns reencontros no parque de diversões do bairro.

Os dois estão entre as pessoas que vão vivenciar o sonho do matrimônio na 30ª edição do Casamento Coletivo de Campina Grande, que está marcada para este dia 12 de junho (Dia dos Namorados). Este ano, a estimativa da Secretaria de Cultura (Secult) é de que a cerimônia reúna mais de 1.500 pessoas na Pirâmide do Parque do Povo, contabilizando os 163 noivos, padrinhos e familiares no evento.

Jailda Marta e José Cavalcante (Foto: Chico Martins/ Jornal Correio)

Jailda contou que recebeu o pedido de namoro de José dentro do colégio e que os dois ainda eram muitos jovens, logo, o desenrolar da relação, no começo, era irregular, na juventude dos dois tudo era muito intenso e chegaram a terminar o relacionamento várias vezes por causa de brigas.

Primeiro casamento e desafios

Quando dez anos de relacionamento se passaram, era o ano de 2000, os dois decidiram firmar e oficializar laços com a decisão de se casar no casamento coletivo. A ideia, Jailda não nega, surgiu dela. “Eu organizei tudo, ele aceitou e adorou, lembro que nós queríamos muito casar, mas não tínhamos condições, pois tínhamos três filhos pequenos e nenhum de nós dois estávamos com trabalho certo. Tivemos dois filhos de forma natural e o outro é aditivo. Foi tudo muito cedo em nossas vidas”, explicou.

Casal já havia se casado em casamento coletivo do ano 2000 (Foto: arquivo pessoal)

O dia 23 de dezembro de 2010 marcou a vida do casal. Como todo relacionamento passa por altos e baixos, José passou por momentos de dificuldades com o álcool. Foram momentos turbulentos dentro de casa e logo os dois decidiram se separar.

Reconciliação e superação

Em julho de 2012, os dois decidiram voltar a morar juntos. Foi o primeiro passo para reatar o casamento, que agora voltará a ser oficializado em 2019. A noiva ainda relatou que as maiores dificuldades que os dois encontraram, durante esse tempo em que estão juntos, foram por questões afetivas e financeiras, principalmente pela necessidade de conciliar a criação dos filhos. Hoje, no entanto, ela diz comemorar as vitórias.

“Conseguimos tomar conta de nossos filhos, agora todos são adultos e mantemos nossa família, apesar de muitas dificuldades, tanto financeira como afetiva. Temos uma jovem de 27 anos, um rapaz de 25 e o nosso casula que vai fazer 21 no fimde junho. Estamos formando nossa família com muito sacrifício,” afirmou.

Casal durante o primeiro casamento (Foto: arquivo pessoal)

Sobre a decisão de casar novamente no casamento coletivo, Jailda coloca que é importante a renovação dos laços. “Sempre fomos católicos e pra gente é muito importante fazer as coisas da maneira que cremos ser a correta, embora não seja uma cerimônia religiosa, mas pra nós tem a mesma importância. Sonhamos em ter uma família sempre unida nos dias bons e nos ruins, vendo nossos filhos bem. Se eles estiverem bem, assim estaremos também,” concluiu.

Rayanne e Yale

Rayanne Andrade Araújo e Yale de Brito Moreira Lima, ambos de 28 anos, se conheceram no ano de 2007, através de uma amiga em comum. Rayanne estava em casa quando a jovem foi devolver uns livros pra ela e levou alguns amigos. Lá estava Yale. Segundo Rayanne, naquele momento, não houve outro tipo de contato a não ser o visual. Depois desse dia, o rapaz foi atrás da amiga e decidiu pegar o contato de Rayanne. Foi quando houve, de fato, uma conversa.

Rayanne Andrade e Yale Brito (Foto: Antônio Ronaldo/ Jornal Correio)

Quando os dois se beijaram pela primeira vez, fazia pouco tempo que tinham saído de relacionamentos longos, então havia uma regra entre eles, sendo essa, a de não namorar. De acordo com a noiva, na época a regra não durou mais de um mês.

“No dia 11 de novembro de 2012, entramos em um acordo, de que deveríamos namorar, já que não conseguíamos mais ficar um sem o outro. Neste ano, completaremos sete anos de namoro. Sete anos de companheirismo e muito amor. Em 2015, passamos dois meses separados e foram dias bem difíceis, porém necessários para ajustarmos algumas coisas que não estávamos em acordo. Passados os dois meses, reatamos e estamos juntos desde então”, disse ela.

Dia em que o casal reatou namoro, durante o ano de 2015 (Foto: arquivo pessoal)

A noiva ainda contou que há três anos e três meses que eles moram juntos. Os dois, inclusive, já se consideram casados, ainda que queiram uma cerimônia, logo, o casamento coletivo, para o casal, representa oficializar. Segundo ela, a ideia surgiu através de um interesse em comum, apesar das diferenças entre eles. Ter um gosto em comum em meio a tão poucos acabou motivando a decisão.

“Gostamos bastante do São João de Campina e decidimos casar no Parque do Povo para que fizéssemos algo que deixasse os dois satisfeitos. Ainda estamos participando de uma cultura tradicional de nossa cidade. Desde que fomos morar juntos, a ideia sempre foi casar no Parque do Povo. Este ano vamos conseguir”, argumentou.

(Foto: Antônio Ronaldo/ Jornal Correio)

Batalha diária

Em 2018, Rayanne sofreu um acidente quando estava gestante da primeira filha, eram cinco meses dos nove que iriam se seguir. O caso aconteceu no momento em que ela estava indo para o trabalho e foi atropelada por uma retroescavadeira. O veículo estava dando ré em alta velocidade. Ela acabou tendo politraumatismo craniano e várias fraturas no quadril, além de ter sofrido esmagamento nas pernas.

“Fui levada ao Hospital de Trauma de Campina e passei sete dias em com na UTI. No dia em que acordei do coma, recebia a visita do meu noivo. Só Deus sabe a segurança que senti quando o vi entrar pela porta. Ele quem me contou que havíamos perdido nossa bebê. Ainda é tudo muito recente, sinto dores quase que constantes e tenho passado por um estresse pós-traumático. Ainda estamos enfrentando juntos essa batalha diária”, relatou.

Rayanne disse que sempre teve uma relação de muito amor e respeito com o pai. Ele faleceu há 10 anos. Um dia antes do acidente acontecer, ela encontrou uma carta que havia escrito para ele, mas que não havia conseguido entregá-la a tempo. Ao reler a carta, relembrou que havia uma promessa pendente, a promessa de casar. Era o sonho do pai dela.

“Quando acordei na UTI e Yale me contou tudo o que tinha acontecido, lembrei-me da promessa que havia feito e perguntei pra ele se a gente podia se casar de verdade, ele me respondeu: ‘claro meu amor! A gente pode fazer tudo o que você quiser’! Peguei na palavra,” brincou.

A noiva disse que não houve o lado romântico da coisa no momento. “Depois que me acidentei, vimos a real necessidade do casamento civil. Ele não podia ajudar em nada do que precisava em relação às coisas burocráticas porque não era meu parente de primeiro grau, então além de estar realizando um sonho do meu pai, vimos à necessidade de nos tornarmos parentes de fato e de direito. De viver da melhor forma possível, construirmos a nossa família,” enfatizou.

Sonhos

Os dois ainda querem realizar alguns sonhos, como o de viajar para conhecer mais das culturas do Brasil e também conhecer mais do mundo. Ainda há também o sonho de serem pais. “Buscamos ter uma vida estável em que possamos prosperar e fazer valer cada dia que estamos vivos e juntos. Tudo isso que aconteceu fortaleceu muito nossa relação. Meu acidente mudou bastante os nossos objetivos. Vimos o quanto somos frágeis e o quanto perdemos tempo nos esforçando por coisas fúteis. Queremos agora apenas viver felizes, em paz, com amor e fazendo coisas que gostamos,” finalizou.

(Foto: Antônio Ronaldo/ Jornal Correio)

Marcos e Lucimar

Os noivos Marcos Vander de Andrade, aposentado e advogado militante, de 69 anos, e Lucimar Bezerra Barros, uma artesã, de 47 anos, se conheceram nas festividades do Parque do Povo no ano de 2008. Um encontro nas palhoças que mudaria a vida dos dois.

“Tudo começou quando nos conhecemos do dia 7 para o dia 8 de junho. Estávamos ao lado de uma das palhoças. Lembro que a convidei para dançar e combinamos de nos encontrar no mesmo local no outro dia. Foi quando eu me declarei pra ela e ela aceitou a minha proposta de nos conhecermos, daí que começou o nosso namoro,” disse Marcos.

Marcos e Lucimar no dia em que se conheceram, no Parque do Povo (Foto: arquivo pessoal)

Quando se conheceram, Marcos era divorciado. Antes de Lucimar, ele já havia se casado duas vezes no cartório e uma vez na igreja. Lucimar, por sua vez, é viúva. Ela disse que desde o antigo relacionamento, tinha o sonho de se casar no casamento coletivo, algo que nunca chegou a se concretizar. Os dois estão juntos há 11 anos e apesar de morarem juntos, foi o ano definitivo para tomarem a decisão de passar por uma cerimônia de matrimônio.

Casal se prepara para o casamento no Parque do Povo (Foto: Chico Martins/ Jornal Correio)

Desafios

O noivo relatou que, em meio a tantos anos junto, não poderia deixar de acontecer alguns desentendimentos entre o casal, mas afirmou que nunca chegaram a ficar separados por muito tempo. “Até porque pequenos desentendimentos de dois ou três dias sempre fortaleceram nosso amor. Depois que brigávamos, sempre ficávamos mais unidos,” destaca.

“Tivemos que abdicar de certas coisas para poder nos entender por todo esse tempo, sempre um cedendo para o outro. Por conta disso é que estamos nos entendendo durante esses quase 11 anos,” disse.

Lucimar disse que sabe que irá ter todas as regalias que sonhou. “É um sonho de casar de véu e grinalda, apesar de que lá só vai valer o civil, mas eu convivi com meu primeiro esposo há 14 anos e sete meses e como ele chegou a falecer, eu não tive oportunidade casar no casamento coletivo. Como eu e Marcos nos conhecemos no Parque do Povo, nada mais justo do que a gente se casar no Parque do Povo,” concluiu Lucimar. “Nosso sonho é o de vivermos sempre felizes, respeitando um ao outro e envelhecendo juntos, até que a morte nos separe, e que Deus nos abençoe,” finalizou.

(Foto: Chico Martins/ Jornal Correio)

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