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Centro de Operações forma tropas e civis para áreas de conflito

Progressão em áreas de conflito, primeiros socorros, uso de armas de diferentes calibres, ações de desminagem (remoção de minas terrestres), defesa de guerra química, biológica, radiológica e nuclear, utilização de viaturas, negociação em casos de sequestros e aperfeiçoamento de idiomas. Todo o aprimoramento de pessoal militar (conhecidos como capacetes azuis) e civil para atuar nas missões de paz das Organizações das Nações Unidas (ONU) acontece sob a coordenação de uma unidade especial das Forças Armadas brasileiras (Exército, Marinha e Força Aérea ). Trata-se do Centro Conjunto de Operações de Paz Brasil (Ccopab), instalado na Vila MIlitar, no Rio de Janeiro.

O CORREIO participou do Estágio de Preparação para Jornalistas e Assessores de Imprensa em Áreas de Conflito e conheceu as ações da unidade que ministra diferentes cursos em parceria com diversas unidades militares e, também, da sociedade civil.

O Ccopab é reconhecido internacionalmente na preparação de pessoal para compor missões de paz da ONU. “São cursos em várias áreas direcionados aos públicos militar e civil. É aqui que esse pessoal recebe instruções para seguir nas missões”, explica o comandante pelo Coronel Marco Estevão Machado.

Este ano, foram formados 35 profissionais de todas as regiões do país, incluindo um jornalista da República Dominicana (Foto: Clóvis Roberto/Jornal CORREIO)

As forças brasileiras que atuaram nas missões de paz do Haiti e as que estão designadas, seja como forças de paz ou observadores da ONU em vários locais do mundo, especialmente na África, são treinadas pelos instrutores do Ccopab. E isso inclui os generais brasileiros que se candidatam ao comando de forças no exterior. Equipes do Centro também atuam na Operação Acolhida, realizada pelas Forças Armadas na fronteira com a Venezuela, e que recebe imigrantes que fogem da crise no país vizinho.

E já que o Ccopab é especializado na formação de pessoal para atuar fora do país, travando contato com outros povos, a unidade mantém parcerias com forças de países amigos, possibilitando o intercâmbio de conhecimentos militares. Dentro desse conceito, o Ccopab recebe atualmente, por exemplo, integrantes das forças armadas da França, Chile e Argentina. Eles passam uma temporada na unidade brasileira, apresentando experiências e absorvendo conhecimentos ensinados no Ccopab, tornando-se elo entre o Brasil e países de origem. Integração é palavra-chave da unidade.

O patrono

A unidade tem como patrono, curiosamente, um civil. O Centro tem o nome do diplomata Sergio Vieira de Mello, brasileiro morto em 2003 num atentado em Bagdá quando comandava a missão civil das Nações Unidas no Iraque. Ele trabalhou durante 34 anos para a ONU.

Jornalistas em ação

Uma semana de instruções, troca de experiências e exercícios práticos. É assim o concorrido Estágio de Preparação para Jornalistas e Assessores de Imprensa em Áreas de Conflitos. “Armados” com câmeras de vídeo e fotográficas, gravadores, blocos de notas, os profissionais foram à “guerra” atrás de informações.  O conteúdo foi ministrado em dois turnos, com um dia reservado de intensas atividades práticas, numa jornada das 7h às 23h30.

“A intenção é preparar os profissionais com práticas, informações e trocas de experiências que podem ser úteis para os profissionais de imprensa durante uma cobertura numa área de conflito, acompanhamento de tropas da ONU, como ser usados no dia a dia, em coberturas de ações policiais, em conflitos urbanos”, explica o Capitão João Maurício Valdetaro, que coordenou o curso.

E isso significa participar de oficinas sobre identificação de minas e limpeza de área, progressão com tropas em combate, técnicas de orientação, deslocamento e rastejamento, preparação de ração operacional, embarque e desembarque de veículo blindado, negociação e avaliação de riscos, noções de defesa em guerra química, biológica, radiológica e nuclear, com direito a experimentar gás lacrimogêneo.

Conflito

Participantes do estágio são escolhidos após o envio de currículos e seleção feita pelo Centro de Comunicação do Exército (Ccomsex) (Foto: Clóvis Roberto/Jornal CORREIO)

As instruções são realizadas em várias unidades militares. Por exemplo, a parte de defesa química, biológica, radiológica e nuclear ocorre no 1º Batalhão de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (QBRN), enquanto parte de técnicas forenses, conhecimento de armas e exercícios ocorreu nos quartéis da 1ª Brigada Paraquedista e as técnicas de primeiros socorros e combate a incêndio são ensinadas no Quartel do Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro.

Em meio à prática, uma série de palestras e de troca de experiências com pessoal civil e militar com experiência em situações de desastres, conflitos armados e missões de paz da ONU no Haiti e em países da África. Por exemplo, o curso deste ano contou com a participação do tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais durante a tragédia de Brumadinho, da Promotora de Justiça Militar que falou sobre Direito Internacional, do tenente-coronel do Exército Francês, Éric Mouezy que esteve no Afeganistão e abordou as relações das forças armadas francesas e a imprensa, e o capitão Elissalde, do Exército do Chile, com vivência na guerra da Sérvia/Bósnia. No encerramento, uma palestra do jornalista Betinho Casas Novas, especializado em coberturas de ações policiais em comunidades do Rio de Janeiro.

Tudo isso sem falar no ponto alto do estágio, uma ação noturna no país fictício de “Carana”, exercício que simula uma área em guerra civil e que estaria num continente também imaginário. O exercício “Carana” foi criado pela ONU para treinar os militares dos mais diversos países que enviam contingentes em missões de paz, como é o caso do Brasil.

Os participantes do estágio são escolhidos após o envio de currículos e seleção feita pelo Centro de Comunicação do Exército (Ccomsex), sediado em Brasília. Este ano, foram formados 35 profissionais de todas as regiões do país, incluindo um jornalista da República Dominicana.

Mortes

O curso também busca dotar os profissionais de imprensa de conhecimentos visando reduzir os alarmantes números de mortes de jornalistas no mundo. O relatório sobre a Segurança de Jornalistas e o Perigo da Impunidade da Unesco aponta que 182 jornalistas foram assassinados em todo mundo apenas nos anos de 2016 e 2017.

Os dados são alarmantes e impressionam ainda mais quando percebemos a participação do Brasil nas estatísticas. Em 2016, dos 102 jornalistas assassinados no mundo, cinco atuavam no Brasil. Esses dados colocaram o país atrás, apenas, do Afeganistão, México, Iêmen, Iraque, Síria e Guatemala.

Serviço:

*texto de Clóvis Roberto Lopes, do Jornal CORREIO

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