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Cinquenta anos depois do golpe militar, oito paraibanos seguem desaparecidos

Nesta segunda-feira, 31 de março, completam 50 anos do Golpe Militar no país. No estado, três paraibanos foram assassinados e seis estão desaparecidos até hoje, provavelmente mortos, mas seus corpos nunca foram achados. Outros dois paraibanos sumiram em 1964, porém ainda não são reconhecidos pela União como desaparecidos políticos.

A Paraíba também presenciou, nessa época em que a democracia foi submergida pelo poder autoritário dos militares, a cassação do mandato de cerca de 41 parlamentares e gestores, a perseguição e espancamento de dezenas de trabalhadores rurais, a demissão de servidores municipais e estaduais, a suspensão das matrículas de estudantes universitários e a tortura de prisioneiros acusados de defender e propagar o comunismo.

O ex-deputado estadual Assis Lemos (Francisco de Assis Lemos de Souza), que teve seu mandato cassado em 1964, é um dos sobreviventes das torturas do período da Ditadura Militar (1964 – 1985). Aos 85 anos, sereno e carismático, ele carrega sua história de luta pelos direitos dos trabalhadores do campo e as lembranças difíceis dos dias de prisioneiro. Acompanhado do filho, também Assis, o ex-parlamentar contou ao Portal Correio com riqueza de detalhes sua trajetória na política paraibana e como presidente da Federação da Liga dos Camponeses no Estado, até sua fuga para Londrina (PR), onde reconstruiu sua vida ao lado de sua família.

Ele não soube precisar quantos dias ficou detido, mas lembra com clareza da sua prisão em 6 de abril de 1964, em Recife (PE), na casa do deputado Osmar de Aquino, onde estava refugiado. O motivo também está vivo na memória: uma acusação injusta do deputado estadual Joacil Pereira. Lemos era procurado por ter assassinado o colega dos tempos de colégio, o fazendeiro Rubens Régis, contudo, como o deputado mesmo narra, no dia em que o crime ocorreu, ele estava há uma semana no Rio de Janeiro e soube do assassinato através do senador Ruy Carneiro.

“Houve o assassinato de Rubens Régis. Era um fazendeiro daqui, foi até meu colega no Pio X, que foi morto, então houve uma acusação que tinha sido eu. Eu estava no Rio de Janeiro, já estava há uma semana, é tanto que quem me deu a notícia da morte do Rubens foi o senador Ruy Carneiro. Eu fui visitá-lo e quando ele me viu tomou aquela surpresa, perguntou se eu estava chegando da Paraíba naquele momento e eu disse que não, que já estava há uma semana. Ai ele disse: ‘Você soube da morte do Rubens Régis? Ele foi a assassinado e estão dizendo que foi você’, e puxou um jornal”, descreveu, reforçando que Ruy Carneiro, o governador Pedro Gondim e o deputado federal Arnaldo Lafayete estiveram com ele no Rio de Janeiro e afiançaram que testemunhariam ao seu favor.

O depoimento dos amigos não foi necessário segundo Lemos, pois o caso posteriormente ficou esclarecido, mas antes ele não se livrou da prisão, sua defesa pela implementação da reforma agrária e direitos dos trabalhadores rurais incomodava os militares. Ainda no dia 6 de abril, Lemos foi transferido para o 15º Regimento de Infantaria, em João Pessoa. O coronel Hélio Ibiapina Lima, seu principal torturador, foi lhe buscar em Recife pessoalmente. No dia 9 de abril, ele foi levado pelo coronel da capital paraibana, para ilha de Fernando de Noronha (PE). Foi nesse dia também que ele soube da maneira mais desumana que tivera seu mandato cassado pela Assembleia Legislativa da Paraíba.

“Eu fui trazido pessoalmente pelo coronel Ibiapina Lima, comandante dos inquéritos militares de todo Nordeste, um comandante muito violento, que me torturou várias vezes. No dia 9 de abril ele veio me buscar para levar para Fernando de Noronha. Quando estava perto de Recife ele me tirou do jipe que estava me levando e colocou no matagal que tinha lá na estrada e começou a me torturar. E quando ele tinha me colocado no pau-de-arara [meio de tortura] e colocado um jornal no ânus e tocado fogo, aí então ele disse que eu tinha sido cassado aquele dia pela Assembleia, por iniciativa do deputado Joacil Pereira”, contou Lemos sem nenhum lágrima no rosto, sem mudar o tom de voz, ou demonstrar em sua face sofrimento, ele fez o relato como quem descrevesse um pedaço da história do Brasil que deve ser lembrada.

Apesar de chocante, essa não é a recordação mais dolorosa do defensor dos trabalhadores rurais. Ainda no trajeto para a ilha de Fernando de Noronha o medo de ser friamente assassinado ficou marcado como o pior momento de sua batalha contra o trabalho sem remuneração dos camponeses. “Nós ficamos no Aeroporto de Recife e o coronel Hélio Ibiapina ameaçou de nos levar para um canto para nos fuzilar. Então no momento em que ele nos levou no local lá para fuzilar, ele nos colocou num local lá perto do aeroporto aí o capitão que ia atirar disse: ‘Olha vamos transferir lá por outro lado que aqui está passando ônibus e o pessoal vai ver o fuzilamento, vamos fuzilar lá do outro lado’. Aí ele nos levou, mas não era nada de fuzilamento, era para almoçar”, relatou aliviado.

Em Fernando de Noronha, ao lado dos governadores de Pernambuco e do Piauí, Miguel Arraes e Seixas Dória, respectivamente, Lemos permaneceu até o dia 1º de maio de 1964. Isolado da família e preso injustamente, mesmo assim, parecia ser melhor ficar em uma ilha cercada pelo mar, do que voltar para prisão na 2ª Companhia de Guarda, em Recife, sob o comando do temido coronel Ibiapina Lima. “Em Fernando de Noronha não havia tortura, o comandante de lá não deixava. Ibiapina foi a Fernando de Noronha e tentou me torturar, mas ele não deixou”, lembrou sem demonstrar ódio ou rancor.

Sua volta a 2ª Companhia de Guarda, em Recife foi inevitável. Aconteceu assim que ele deixou Fernando de Noronha. Lá encontrou o pernambucano Gregório Bezerra, ferrenho combatente do regime militar, “totalmente queimado, com os pés em carne viva, todo ferido, porque tinha sido torturado”. Seu colega de cela protagonizou uma das cenas mais brutais da recém-instalada ditadura ao ser capturado e arrastado pela ruas de Recife.

Lemos narrou como Bezerra, na época com 64 anos, ficou naquele estado deplorável, que levou a mulher do torturador aos prantos: “O coronel Villocq o carregou pelas ruas de Recife, mostrando, parando os ônibus, Gregório todo ensanguentado e ele mostrando. Aconteceu um fato interessante, ele terminou indo mostrar a esposa dele, aquele fato como um ato de heroísmo, mas quando a mulher viu ela caiu no choro. Ela não acreditava numa coisa daquela, num cidadão sendo torturado e o marido o torturador”.

A saga de Lemos nas prisões ainda não tinha chegado ao fim, novamente ele foi transferido para o 15º Regimento de Infantaria, em João Pessoa e a tortura continuou, como recordou: “No 15, comigo eles vinham toda noite jogando água na minha cela e me molhando todo para eu não poder dormir. Era terrível, você ficar molhado a noite toda, o chão molhado, quando você esperava um pouquinho lá vinha novamente um militar e jogava água. A gente ficava arrasado fisicamente. Eu fiquei uma temporada isolado, em uma cela estreita e era nessa cela que jogava água”.

Na Capital, ele dividiu a cela com os dois paraibanos que são considerados desaparecidos: Pedro Fazendeiro (Pedro Inácio de Araújo) e Nego Fuba (João Alfredo Dias). O desaparecimento dos colegas fez com que sua mãe e mulher se enchessem de coragem e fossem na casa do comandante do 15º Regimento, o major Cordeiro. A mulher do militar elas exigiram que, caso Lemos fosse solto, sua libertação deveria acontecer ser na presença da família. Assim foi feito, antes o ex-deputado foi transferido para o Agrupamento de Engenharia, também em João Pessoa. Dias depois sem mandado e sem o emprego na Universidade Federal da Paraíba, em Areia, Lemos foi liberado.

Com medo de ser assassinado ou preso novamente, ele viajou, sem a mulher e os filhos, para o Rio de Janeiro. O amigo Arnaldo Lafaiete foi decisivo para que ele restabelece sua vida profissional e social com dignidade. “O deputado Arnaldo Lafayete veio do Rio de Janeiro, me levou de carro com ele até o Rio e me sustentou durante um ano. Ele pagava o local em que eu dormia, a alimentação e até engraxate de sapato, porque eu não tinha dinheiro. Era arriscado ser morto em João Pessoa e ele me levou”, narrou com ajuda do filho, que durante toda a entrevista auxiliou o pai na cronologia e detalhes dos fatos.

Após esse primeiro ano sendo sustentado, Lemos, que é formado em Agronomia e Economia, conseguiu emprego em uma empresa suíça para introduzir herbicida no Brasil. “Os primeiros herbicidas usados no Brasil fui eu que fiz, em Londrina. A empresa me mandou para lá. Depois minha família foi para lá, eu consegui também um emprego na universidade. Depois trabalhei em uma firma americana e com ajuda dos colegas consegui montar uma empresa. Usava a mistura dos dois produtos [da empresa suíça e da americana] que dava um herbicida muito melhor para as plantações de café e cana-de-açúcar. Então eu e outro colega agrônomo abrimos a firma que teve um crescimento extraordinário porque era a solução para os problemas das plantações”, contou explicando que só deixou Londrina para trabalhar em Brasília na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Lemos reforçou que toda perseguição sofrida por ele foi em virtude de sua luta pela implementação da reforma agrária. “Falavam que era uma luta pelo comunismo, mas na realidade era uma luta pelo capitalismo, porque o sistema agrário brasileiro era o sistema feudal, era trabalho gratuito e nós lutamos para que o trabalho fosse pago, para passar do feudalismo para o capitalismo no campo”, analisou.

Apesar de todo sofrimento, Lemos não se arrepende de ter batalhado pelos direitos dos camponeses e com firmeza afirmou que se necessário repetiria os feitos do passado: “Eu estava absolutamente convencido da necessidade daquilo. Eu como agrônomo, vivia no campo, sentia aquele grande problema, que era primeiro o prejuízo para o camponês e segundo um prejuízo para no Nordeste, porque como o camponês não recebia dinheiro e o comércio não prosperava”.

Desaparecidos ou mortos?

“Como criar seus cinco filhos Maria? Na angústia de saber que Pedro, pai, provedor, fora tiranizado pela lei da ditadura, A lei que ditou tão dura, martírio e morte, Do Pedro que honra e paz proclamava, Sim! Por causa desta lutava, vida, paz e honradez, Aos amigos, companheiros camponeses, Torturados, humilhados, indefesos, Por algozes e covardes capatazes”. Esse é um dos questionamentos feitos por Náugia de Araújo, ou Náugia Fazendeiro, como ela mesmo assina no poema que escreveu a angustia e sofrimento pelo ‘desaparecimento’ do seu pai Pedro Inácio de Araújo, o Pedro Fazendeiro.

Ele, uma das lideranças centrais da Ligas Camponesas, e Nego Fuba (João Alfredo Dias), vereador de Sapé e orador do movimento, combateram ao lado dos camponeses o chamado cambão, que significava o pagamento do aluguel onde os trabalhadores moravam e plantavam, em troca do trabalho gratuito. Além dos ideais, Pedro Fazendeiro e Nego Fuba dividiram a cela no 15º Regimento de Infantaria de João Pessoa, e o mesmo destino: considerados desaparecidos até hoje.

Os dois foram acusados do assassinato do fazendeiro Pedro Régis, o mesmo motivo que levou o ex-deputado Assis Lemos à prisão. Segundo consta nos documentos levantado pela Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória da Paraíba, Pedro Fazendeiro e Nego Fuba foram libertados do 15º Regimento de Infantaria de João Pessoa no dia 7 de setembro e 29 de agosto de 1964, respectivamente, ou pelo menos deveriam ter sido, mas indícios levam a crer que eles foram assassinados.

Assis Lemos não tem dúvida da morte dos colegas de batalha e prisão: “Eles dois foram soltos, entre aspas, e nunca apareceram. Eles desapareceram, foram mortos, é tanto que quando eu estava na prisão, o ex-prefeito de Rio Tinto Antônio Fernandes que a gente chamava de Antônio Bolinha, que tava preso também, viu no jornal a fotografia de dois corpos totalmente deformados pela tortura, na entrada de Campina Grande. Saiu a notícia no jornal dizendo que eram bandidos, que estavam entrando em Campina Grande e que foram assassinados. Aí o Antônio Bolinha quando viu a fotografia no jornal disse: ‘Esse aí é o calção de Pedro’, com o rosto todo deformado da tortura, mas era Pedro Fazendeiro”.

Uma novidade que será apresentada ao governador Ricardo Coutinho está segunda-feira pela Comissão da Verdade pode ajudar a elucidar o caso. De acordo com um dos integrantes dos grupos de trabalho, Waldir Porfório, a comissão encontrou um documento secreto, de janeiro de 1965, da Secretária de Segurança endereçada ao governador João Agripino. No texto há informação de que Pedro e Nego Fuba foram presos e entregues a guarnição federal. Além disso, a comissão já localizou o comandante de inquéritos militar na Paraíba, o major Cordeiro e solicitou a Comissão Nacional da Verdade que ele preste depoimento pelo desaparecimento dos dois.

Enquanto a verdade sobre o desaparecimento dos membros da Liga dos Camponeses não é conhecida, resta a angustia e dor dos filhos desses homens resistiram à Ditadura, qual é retratada com sutileza nos versos da filha casula de Pedro Fazendeiro, que ainda era criança quando seu pai foi preso. “A mim coube a dor da inocência, Da espera prolongada, da sua utópica chegada, Que na minha ingenuidade era por mim aguardada, Na minha fé infantil que assim acreditava, Que tal como Cristo um dia ressuscitou, E em refulgente glória para o pai retornou, Eu cria e confiante orava, pela volta do meu pai, Mas ele jamais chegou”.

A dor de uma mulher e mãe

Mulher do fundador da Liga dos Camponeses na cidade de Sapé, na Mata paraibana, mãe de onze filhos, quais cinco estão mortos, guerreira e de ideais definidos, essa é Elizabeth Teixeira. Ela, assim como seu marido, João Pedro Teixeira, lutou para por fim as condições miseráveis que viviam as famílias camponesas. As ligas surgiram na metade dos anos 50 em Pernambuco para combater a exploração e a forma desumana que os trabalhadores rurais eram submetidos, vítimas de um sofrimento imposto por fazendeiros, usineiros e senhores de engenho do setor canavieiro do estado, assim como em todo o Nordeste.

Em 1958, João Pedro Teixeira fundou a Liga Camponesa de Sapé e por isso foi morto em uma emboscada no dia 2 de abril de 1962. “Ele [João Teixeira] foi tomando conhecimento da situação do homem do campo, foi assassinado barbaramente. O homem do campo vivia uma situação muito difícil. Próximo à casa que a gente morava, tinha o engenho Melancia, o Sapucaia e o João Pedro foi tomando conhecimento da sobrevivência daqueles trabalhadores, pai de filhos, a situação dos filhinhos passando fome, analfabetos, sem ter direito a ir a uma escola. O João Pedro foi conversando com eles, fazendo reuniões, até que fundou a Liga Camponesa e eles foram se associando e o número da liga crescendo. Passou para dois, três mil e um latifundiário mandou tirar a vida de João Pedro”, contou Elizabeth para uma plateia de 18 mil pessoas, durante 5ª Congresso Nacional do Movimento Sem Terra, realizado em Brasília, em 2007. O depoimento foi transcrito e publicado no site do MST pela jornalistas Mayrá Lima e Marina Costa.

Com a morte de Pedro Teixeira, Elizabeth tomou à frente da Liga Camponesa. A Ditadura Militar logo se instalou com o Golpe de 64 e ela foi presa. Passou seis meses detida no Exército e todo o restante do período da ditadura refugiada no Rio Grande do Norte. No estado vizinho trabalhou com lavadeira e mudou de nome. De Elizabeth Teixeira passou a ser chamada de Marta Maria da Costa.

“Teve um dia que dois tenentes e um policial foram me prender. Chegaram lá em casa, chamou a mim numa certa distância e a cada passo que eu dava era um tiro de um lado, outro de outro de um jeito que meus pés ficaram cobertos de terra. Foi quando eu disse: ‘tenente, é uma prova de covardia. Vocês não mataram meu marido de emboscada? E dá tanto tiro nos meus pés… cheios de terra’. Ele disse que eu estava presa e mandou eu entrar no carro. Pedi que esperasse para eu pegar meus documentos. Quando eu voltei em casa, a filha mais velha, Marluce Teixeira disse: ‘mainha, vão tirar a sua vida… painho eu vi ele morto, eu peguei na mão dele e fiquei toda melada de sangue, mas a senhora eu não quero ver morta’”, memorizou Elizabeth.

A filha que temia a morte da mãe, tirou a própria vida. “Eu fui levada para João Pessoa e o advogado Doutor Santa Cruz já estava para me defender. Defendeu e liberou. Quando eu chego em casa, a minha filha mais velha já estava morrendo. Ela tinha ingerido veneno com o mel. Tinham mandado comprar num mercado que tinha próximo. Era para colocar nos ratos que estavam comendo o inhame, mas ela ingeriu e quando eu cheguei ela tinha me dito que ela tinha tomado veneno com mel e que estava morrendo”.

Além da Marluce, Elizabeth perdeu mais quatro filhos para a ditadura. Um dos mandantes do assassinato de um dos filhos, que morreu na sua frente, foi seu próprio irmão como ela descreveu: “Quando João Pedro morreu, eu tinha 11 filhos… era tudo vivo os bichinhos… Hoje só tenho 6 vivos. Um deles levou um tiro com 10 aninhos. Foi na cabeça e perdeu o cérebro e foi o mesmo capanga que mandou matar o pai. O João Pedro Teixeira Filho e o João Eudes Teixeira foram assassinados. O Zé Eudes, depois que eu voltei com a anistia, ele chegava, abraçava e dizia que ia continuar a luta do pai dele […] Ele construiu a casa e o salão e fundou o sindicato rural e já estava com 200 companheiros associados e mulheres, quando meu irmão mandou matar… tirar a vida dele. Ele tinha me convidado para uma reunião com os homens e com as mulheres do campo para falar lá. Quando cheguei lá, veio um cara, chamou ele e pá… pá… pá… não tinha chegado ainda nenhum camponês…na minha presença, ele caiu e bateu a cabeça no meu pé e ali morreu”.

Sem o marido e seis dos seus filhos, Elizabeth se entristece ao falar da constatação de que a reforma agrária ainda não foi implementada. “Eu me sinto triste… por que já era pra ter sido implantada uma reforma agrária em nosso país. Justa! Uma reforma agrária, como João Pedro dizia, reforma agrária: terra para os sem terra e condições para que ele pudesse plantar, colher, ver seus filhinhos ter alimentação, ter direito a uma escola”.

Homenagem à luta de João Pedro Teixeira

Apesar de não conseguir a tão sonhada reforma agrária a luta de Elizabeth, do seu marido e de tantos outros trouxeram mudanças no trabalho no campo, como o fim no ‘cambão’. Morto pelo chamado ‘grupo da várzea’, numa emboscada quando voltava de João Pessoa para casa em Sapé, a história de João Pedro Texeira não foi esquecida. Nesta terça-feira (2), o Memorial das Ligas Camponesas e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) promoverão na fazenda Barra de Antas, em Sapé, uma programação especial será realizada para lembrar os 52 anos de morte do líder camponês.

O evento terá atrações culturais, exibição de vídeos, visita de alunos de escolas ao memorial, ciranda, caminhada e uma homenagem ao cineasta Odilon Coutinho, de saudosa memória, com exibição do filme Cabra Marcado para Morrer, que narra a vida do líder camponês.

A direção do Memorial das Ligas Camponesas lembra que ao lado de companheiros fiéis como Nego Fuba, Pedro Fazendeiro e vários outros, João Pedro deu sua vida pela causa, e não foi inútil seu sangue derramado.

Também está na programação a participação da filha de Pedro Fazendeiro, que lerá o poema feito para o pai.

Por: Naira Di Lorenzo

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