O futebol é considerado o principal esporte na maioria dos países do mundo. A cidade de Campina Grande parece se inspirar nessa afirmativa, conservando o Clássico dos Maiorais, Treze x Campinense. As memórias de um dos maiores duelos esportivos do país são parte da História dos 156 anos da segunda maior cidade da Paraíba, Campina Grande.
O encontro de Galo e Raposa já foi considerado o jogo dos milhões, devido ao grande número de torcedores que prestigiavam as decisões entre os dois times. Pesquisadores consideram que o Clássico dos Maiorais está entre os dez maiores do futebol brasileiro, sendo confirmado como o maior quando se trata de rivalidade entre dois times de uma cidade do interior do Brasil. Quem nasceu em Campina Grande, já tem time para torcer ainda criança: Treze ou Campinense. Lógico, a escolha é dos pais!
O jornalista e escritor Júlio Cesar Gomes de Oliveira, que prepara um livro sobre o esporte, em Campina Grande, afirma que a rivalidade entre Treze e Campinense pode ser considerada “uma energia inquietante”. “Campinense e Treze, forças casadas no esporte e opostas no futebol, protagonistas do maior clássico do interior do Nordeste há décadas. No entanto, se dentro das quatro linhas seus feitos entraram para a história de várias gerações de torcedores, o que podemos falar de seu significado fora delas?”.
“O clássico sempre foi o espelho do sentimento de grandeza do povo serrano e motivo de orgulho em relação às equipes da capital João Pessoa, motivação que historicamente alimenta o tal do sentimento de ‘bairrismo’ até os dias atuais. Ao se encontrarem numa final, era certo na cidade entender que Treze x Campinense somente confirmava a pujança econômica do interior”.
Considera Júlio Cesar que “essa visão progressista sempre dita a melodia, a harmonia e o ritmo que embala Campina Grande em dia de ‘Maiorais’. Muitos são os apaixonados que abraçam seus amores coloridos de branco e preto, e preto e vermelho. Vestidos de bandeiras, agitação, alegria, angústia, incertezas e apostas, muitas vezes surpreendidas com resultados incrédulos, para uns dos lados, mas que culmina numa explosão de felicidade para o outro”.
Reforça ainda o pesquisador do esporte de Campina Grande que “assim é o clássico, que somente o cidadão local entende e por ele distribui seus inúmeros significados. Mesmo que o brilho do passado não seja o mesmo, mesmo que questionemos suas razões, ainda assim resta uma magia agarrada ao espírito de grandeza que se mantém ecoado”. “Quando os dois clubes entram em campo, entra com eles uma parcela da alma de Campina Grande, que se comove economicamente, esportivamente, emocionalmente com seu próprio passado e tudo isso que estava fora das quatro linhas se materializa dentro delas”.
A rivalidade entre Treze e Campinense começou antes mesmo que os dois times iniciassem esse duelo. Nas primeiras décadas do século passado, não existia o Treze. Segundo o jornalista Júlio César, “o América S.C era a principal equipe de Campina Grande, isso entre 1916 até 1923. Nesse período, surgiu o time de futebol do Campinense Clube. Essas duas equipes promoveram a principal rivalidade esportiva da cidade entre os anos de 1917 e 1918, quando o time do Campinense foi desativado, ficando assim o América sozinho na cidade diante de rivais mais fracos”.
“Em 1924, o América foi desativado e alguns jogadores dessa equipe foram atuar em outros times da cidade, porém, em 1925, boa parte dos ex-jogadores do América voltaram a se juntar e decidiram criar um novo clube e é nesse momento que eles fundam o Treze. Dos 13 fundadores do Treze, 9 eram ex-jogadores do extinto América S.C”.
A leitura de Júlio César a aponta que “a essência da rivalidade tem forte embrião politico/pessoal, mas nos 60 ela se tornou uma rivalidade de status, com as duas vertentes querendo mostrar que no futebol tinham mais qualidade. Juntas, as duas equipes buscavam mostrar superioridade esportiva e econômica em relação a João Pessoa”.
Mas, o pesquisador aponta que “a partir dos anos 90, tudo isso perdeu sentido. Hoje o Clássico tem uma conotação de paixão esportiva, na qual um clube busca ser superior ao outro nos resultados”.
Com a volta da prática do futebol pelo Campinense Clube, foi acertado um amistoso entre Treze e o time rubro-negro. Esse foi o primeiro Clássico dos Maiorias. O jogo aconteceu no dia 27 de novembro de 1955, no estádio Presidente Vargas, em Campina Grande. O Treze venceu por 3 a 0, com gols de Mário, Josias e Renê.
Nessas sete décadas de encontro entre alvinegros e rubro-negros, Galo e Raposa já se enfrentaram 412 vezes. O Treze tem vantagem no número de vitórias, com 141. O Campinense venceu 110 clássicos. Foram registrados ainda 161 empates. O time trezeano marcou 501 gols e a equipe da Raposa marcou 451 gols.
Ao longo de 75 anos de jogos entre os dois representantes de Campina Grande, Treze e Campinense já disputaram o título do Campeonato Paraibano entre si 15 vezes. O Treze comemora os títulos de campeão por 16 oportunidades, inclusive na atual temporada. Mas os rubro-negros se orgulham pela vantagem, pois a Raposa já levantou o troféu dez vezes (1961, 62, 63, 64, 67, 1972, 73, 74, 2004 e 2008). O Galo festejou em cinco oportunidades (1966, 1981, 1982, 1983 e 2020).
“Campina Grande tem este privilégio. A rivalidade entre Treze e Campinense se assemelha com grandes centros como Recife, Salvador, Fortaleza e outras tantas capitais. São duas grandes torcidas e quem ganha é cidade”, destaca o torcedor Herivaldo Moura.
“Treze e Campinense representam o esporte de Campina Grande, além do futebol. Já tivemos grandes disputas com rivalidade no basquete, futsal, voleibol. A gente pode até estar desmotivado, mas quando Treze e Campinense jogam, a cidade se motiva. Só lamentamos quando os torcedores partem para a rivalidade com violência. Eu já assisti a Treze e Campinense com mais de 30 mil torcedores, com o placar de 3 a 3. Tomara que as torcidas possam voltar, depois desta pandemia”, afirmou o professor de basquete e torcedor, Joaquim Passos.
“É muito importante esta disputa. É saudável para os dois clubes. A cidade ganha com esta rivalidade. Seria bom que os dirigentes dos dois clubes se unissem mais, pela manutenção deste clássico que já faz parte da existência de Campina Grande. As diretorias têm que deixar a rivalidade para os jogadores e torcedores. Os dirigentes precisam caminhar juntos para aumentar cada vez mais esta ‘disputa’ necessária para a cidade”, destaca o professor e torcedor Eduardo Schafer.
Nos anos 1980 começam a surgir as torcidas organizadas. O Campinense tinha a Torcida Organizada da Raposa (Tora), e os trezeanos criaram a Galera Unida do Galo (Guga). Nos últimos anos surgiram outras denominações de organizações de torcedores.
Uma das torcidas mais antigas do Treze é a Tocha, comandada por Francisco Pinto, o Chico da Tocha. “Tenho o maior prazer de fazer parte de uma torcida tradicional que tem como meta trabalhar pelo clube. Sempre está presente nos jogos e todas as festas comemorativas, aniversários, fazemos parceria com o Treze”, disse.
Não precisa ser de Campina Grande para torcer por um dos clubes. Há quem seja de outros estados em Campina Grande e se apaixonaram pelo futebol local, especialmente pela rivalidade entre Treze e Campinense. “Os dois clubes têm uma história grandiosa. Eu sou de Pernambuco, mas tenho esta admiração por este encontro, que é um dos maiores clássicos da nossa região. Aprendi a gostar do Campinense, mas torcer pela futebol de Campina Grande”, disse o jornalista Antônio Nunes, presidente da Associação Campinense de Imprensa e vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba.
“É fácil falar deste clássico. Eu frequentava o Presidente Vargas com dez anos de idade, pois minha tia vendia lanches no estádio. Acompanho clássico entre Treze e Campinense com grandes lembranças, pois tinham jogadores que amavam o clube. Hoje isso não existe mais”, disse o narrador esportivo José Carlos Silva.
Com 45 anos na imprensa de Campina Grande, o repórter Adalberto Alves garante que fica emocionado ao falar do clássico entre Treze e Campinense. “Já tivemos 42 mil torcedores, no estádio Amigão. Entrevistei o árbitro José Roberto Wite e ele considerou apitar Treze e Campinense como fosse Flamengo x Vasco, Bahia x Vitória…”, lembrou.
“Vi muitos jogadores saírem de Treze e Campinense que deixaram Campina Grande para atuar em grandes times pelo Brasil e pelo mundo. Rúite, Pedrinho, Adelino, Bebeto, Rinaldo, Súélio, Luiz Carlos e tantos outros que ajudaram a fazer grande o futebol de Campina Grande”, completou Alves.
“O clássico Treze x Campinense é sobre uma rivalidade reconhecida em todo Brasil, por ser a maior disputa entre dois times da mesma cidade fora das capitais. Por Treze e Campinense passaram grandes treinadores, como Freitas Nascimento, Maurício Simões, Oliveira Canindé, Francisco Diá, Givanildo Oliveira, Angel Fucs e tantos outros”, finalizou.
Por: Franco Ferreira