Em Montevidéu, capital do Uruguai, se um turista não pode comprar maconha, ao menos tem a possibilidade de ser convidado para degustá-la, como se faz com o vinho. Recentemente, segundo o jornal uruguaio El País, há 27 espécies de cannabis em cultivo em território uruguaio.
Cinco anos depois que o Uruguai aprovou a lei que legaliza o consumo e a produção de cannabis, uma das poucas legislações desse tipo do mundo, a maconha virou um negócio não apenas para a indústria medicinal da substância, mas também fonte de recursos turísticos, por meio de roteiros ‘canábicos’ que terminam sempre na degustação.
Instrumentadas pelo governo, uma das primeiras vias de acesso à substância mediante o cultivo próprio foram os lugares privados (até seis plantas) e a criação de clubes com até 45 membros, a expansão da venda da droga para as farmácias acontece há dois anos. Por enquanto, quem mais lucra com a legalização são os clubes. Fundamentalmente, são as três formas de se acessar a maconha no Uruguai hoje.
As regras para ter um clube canábico são simples: o grupo precisa ter entre 15 e 45 membros e em que cada um pode receber até 480 gramas por ano da planta, tudo para uso pessoal. Cada clube pode ter até 99 plantas, não necessariamente de propriedade das instituições, mas de pessoas maiores de 18 anos e que moram permanentemente no país sul-americano. Por fim, todos os clubes precisam ter uma sede com uma área dedicada ao cultivo e outra para o processo de seca das folhas, além de um lugar seguro de armazenamento e para embalagem.
Há vários tipos de clubes: uns, como o CLUC, funcionam como uma espécie de cooperativa para amortizar os gastos de produção. Nesses, os integrantes participam dos períodos de plantação das sementes e colaboram com tarefas logísticas, de gestão e de desenho. Outros, como o José Ignacio Social Club, amparam seus negócios nos turistas, oferecendo os tours canábicos.
Segundo uma reportagem do jornal argentino La Nación, o Jose Ignacio Social Club tem sócios europeus, estadunidenses, argentinos e brasileiros, mas eles só acessam a cannabis por meio dos amigos uruguaios. Os estrangeiros se enquadram nas restrições de uma lei posterior promulgada pelo então presidente do país, José “Pepe” Mujica, que afirma que só quem tem a nacionalidade uruguaia pode ter acesso à cannabis. É esse atalho que permite que os visitantes do exterior possam entrar em contato com o universo da maconha.
Um tour turístico por um clube de cannabis uruguaio, além da degustação, envolve informações sobre as genéticas, os métodos de cultivo indoor e outdoor, a floração, o processo de secagem dos “camarões” (a flor) e até instruções sobre como separar os cristais de cannabidiol (CBD, componente não psicoativo da planta) e de THC (tetraidrocanabinol, que produz o efeito narcótico) para a elaboração de azeites medicinais, empresas como a CBDForsure.com usam o CBD para produzir óleos, por exemplo.
Os turistas ainda aprendem sobre o aroma, a textura, a cor e a anatomia das flores. “Criamos o clube para que os estrangeiros como eu e meus amigos pudessem vir aqui ter informações sobre o cannabis”, afirmou Alexander Sasha Hauptmann, empresário austríaco radicado no Uruguai, ao jornal El País. Na Holanda, outro país que possui leis flexíveis com relação à maconha, sua família possui uma patente de produção de cremes, azeites e óleos de CBD.
“Como não é um componente psicoativo, e que tem um uso medicinal muito amplo para diferentes doenças, é possível extrai-lo legalmente. Nosso próximo passo é elaborar e exportar azeites de CBD fora do Mercosul”, completou.
Para inscrever um clube no Estado é preciso um registro de “associação civil” no Ministério da Educação e Cultura e, em seguida, pedir habilitação ao Instituto de Regulación y Control del Cannabis (IRCCA), organismo encarregado de controlar a plantação, a colheita e a distribuição de maconhas às farmácias do Uruguai. Até abril de 2016, eram 4,8 mil cultivadores particulares e doze clubes — a maioria deles em Montevidéu. Hoje há uma lista de espera de 30 novos clubes.
A lei uruguaia ainda impede que os clubes canábicos exibam banners no exterior de suas sedes ou que utilizem o espaço público contíguo, como calçadas, para suas atividades. As plantas ainda devem ficar em espaços seguros e só acessíveis aos membros. Os clubes, no entanto, esperam pelo dia em que serão como bares. “As pessoas virão aqui e vão pedir um cigarro como hoje se toma um café”, finaliza.