Inacreditável e inadmissível que um poeta da estirpe de Chico Buarque de Hollanda deixe de cantar uma música maravilhosa e bem escrita como “Com Açúcar e com Afeto”, devido à censura de algumas feministas. Sim, de algumas, porque conheço várias que não concordam com a atitude do compositor.
Ora, Chico sabe, mais do que ninguém, que o “eu-lírico” (voz que fala no poema) não se confunde com o autor. E sabe, também, que a arte reflete determinado momento, numa determinada época.
Na época em que foi composta a letra, a mulher era bastante submissa. Aliás, ainda hoje temos mulheres submissas e homens, também. Numa relação amorosa, sempre, em certa medida, um manda e o outro obedece; igualdade absoluta só existe mesmo na imaginação e nas ideias delirantes de certas feministas.
Com essa atitude, o compositor nega, sem dúvida, a condição de poeta, além de haver decepcionado grande parcela de fãs.
Encerro com duas letras do compositor e uma pergunta:
TEREZINHA
(…)
“O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada,
Também nada perguntou.
Mal sei como ele se chama,
Mas entendo o que ele quer…
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher.
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração.”
E olhem essa:
SEM ACÚCAR
(…)
“Dia ímpar tem chocolate
Dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate
Dia santo ele me alisa.
Longe dele eu tremo de amor
Na sua presença me calo
Eu de dia sou sua flor
De noite sou seu cavalo.
A cerveja dele é sagrada
A vontade dele é a mais justa
A minha paixão é piada
Sua risada me assusta.
Sua boca é um cadeado
E meu corpo é uma fogueira
Enquanto ele dorme pesado
Eu rolo sozinho na esteira.
Ele me adivinha os desejos
Eu de noite sou seu cavalo
Eu rolo sozinha na esteira.”
E aí, Chico, vai renegar, também, essas letras, para obedecer às feministas?