Quando dava aula no Colégio Pedro II (no início de minha carreira), deparei-me com uma situação engraçada, em razão da Metonímia.
Metonímia, como todos sabem, é a figura de linguagem em que se substitui um elemento por outro, devido a uma relação objetiva que pode ser: da parte pelo todo; do continente pelo conteúdo; do autor pela obra; do instrumento pela matéria; da causa pelo efeito, etc.
É bom lembrar, no entanto, que nem todas as metonímias são classificáveis, cabendo à pessoa reconhecer a substituição, independentemente da classificação citada; apenas exemplificativa.
Para ilustrar o que foi dito no parágrafo anterior, basta pegarmos este exemplo, extraído da obra de Nélson Rodrigues, e já cobrado em questão de concurso:
“Ela ria um riso desdentado.”
Por que é metonímia? Porque houve a substituição de riso por boca (a boca é que é desdentada; e não, o riso). Note que tal metonímia não se enquadra nos tipos clássicos, citados anteriormente.
De modo que quando o “eu lírico” da música de Chico Buarque diz:
“Devolva o Neruda
que você me tomou
E nunca leu…”
Está usando uma metonímia. Entenda-se: Devolva o livro de Pablo Neruda que você me tomou, e nunca leu.
Pois bem. Uma das situações engraçadas provocadas por tal figura foi a seguinte:
Um dia, dando aula no colégio já aludido, afirmei:
– Exemplo de Metonímia, pessoal:
“Não sejas um Calabar”.
Uma aluna perguntou:
– Professor, o que é Calabar ?
– O que é não, fulana; quem foi! Resumi, então, a história de Calabar para ela e para a turma.
Em seguida, dei outro exemplo:
– O galináceo foi parar na panela.
Aí a mesma aluna perguntou:
– Professor, quem foi Galináceo?
– Quem foi não, fulana; o que é! Galináceo é uma metonímia usada para substituir galinha.
E para encerrar, dei como exemplo de Metonímia:
– O rapaz completou vinte primaveras.
Um aluno:
Por que vinte primaveras, professor?
Porque se escolheu, metonimicamente, o termo primaveras para significar a passagem do tempo (= idade).
– E se a pessoa tiver nascido no verão?