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Professor Trindade

            Há pessoas que, no ofício delas, mostram-se perfeitas e admiráveis; falando, no entanto, são um desastre. Bem razão tinha Romário, ao afirmar, certa vez, que Pelé, calado, era um poeta.

            O mesmo que Romário afirmou sobre Pelé, aplica-se a Luiz Gonzaga, o “rei” do baião. Deve-se a uma frase dele, no final da música “Paraíba” (“Sai pra lá, peste!…”), a interpretação errônea da expressão “mulher macho”, o que leva, até hoje, as pessoas a associarem tal frase à “masculinidade” da mulher paraibana.

            Observemos parte da letra da música:

            “Quando lama virou pedra

              E mandacaru secou…

              Quando ribaçã de sede

              Bateu asa e voou.

              Foi aí que eu vim-me embora

              Carregando a minha dor.

              Hoje eu mando um abraço

            Pra ti, pequenina,

              Paraíba masculina,

              Mulher-macho, sim senhor!” (…)    

             Observe o leitor que, em momento algum, o poeta se refere à mulher paraibana, mas sim, à Paraíba: “Hoje eu mando um abraço pra ti, pequenina” (a Paraíba). Segue-se, então, a frase: “Paraíba masculina, mulher-macho, sim senhor!”. Mulher-macho é aposto de Paraíba.

            Na realidade, a letra não trata de sexo (homem/mulher), mas sim, de gênero gramatical (masculino/feminino).

            E por que “Paraíba masculina”?

            Já falei, em outras oportunidades, sobre os gêneros das palavras, em qualquer língua e sobre o caráter convencional deles. Há palavras, na nossa língua, que eram masculinas e passaram a ser femininas; e vice-versa. Foi o caso de Paraíba. Em verdade, a palavra Paraíba, no idioma original (tupi), é masculina. Significa rio não navegável (tanto que temos o Rio Paraíba). Inclusive, o historiador Humberto Melo, em carta dirigida, certa vez, ao colunista, chamou a atenção para o fato de que a primeira constituição da Paraíba se intitulava “Constituição do Estado do Parahyba”.

            O compositor/poeta, da canção “Paraíba” chamou a Paraíba de “masculina”, porque, na origem, a palavra é masculina e de mulher (a Paraíba, e não o ser humano) porque se designou, depois, nosso estado com o feminino (a Paraíba); daí a expressão mulher-macho: mulher forte, brava; já que, na região, costuma-se usar a expressão “cabra macho” (não no sentido de sexo masculino, mas sim de forte; porque o sujeito pode ser do sexo masculino e ser efeminado).

            A Paraíba (e não a mulher paraibana) é macho, sim senhor! O resto é invenção do feminismo.

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