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Professor Trindade

Já foi dito por alguém que o brasileiro é o único povo, no mundo, que odeia a própria Língua. Vou além: não só odeia, como adesprezae debocha dela. E agora, nestes tempos sombrios, de ignorância, prepotência e soberba sem limites, as coisas ficaram simplesmente inacreditáveis e inaceitáveis!

Sob a velha desculpa de que “a língua é dinâmica” e a mistura perniciosa de política (ou melhor, politicagem) e gramática, estão esculhambando (desculpe, leitor, mas o termo a ser usado é esse mesmo) a Língua e não há mais a menor efetividade no ensino da gramática normativa nas escolas.

É de se perguntar para que está servindo se ensinar a gramática normativa, se vemos jornalistas, advogados, professores (sim, professores!) que cometem erros absurdos relativos à regra geral da concordância verbal? Bons tempos aqueles em que só se erravaa concordância verbal quando a estrutura da frase era complexa, como por exemplo, quando envolviao pronome se quando acompanhado de verbo transitivo direto. Concordância nominal? Essa não sabem nem o que é…

Ao lado disso, a turma do politicamente correto e da “esquerda” (note-se que a expressão está entre aspas) milita no sentido de criar um idioma próprio e paralelo, que atende aos ditames do modismo e dos caprichos, tentando impor regras que ninguém sabe de onde tiraram; e ai de você se, na frente deles, usar a língua corretamente. Confundem língua com linguagem, “liberdade de expressão” com desrespeito e indiferença ao idioma. Não sabem que os padrões da Língua nada têm a ver com política de gênero, diversidade e outras “bandeiras”.

Não, não sou direitista. Mesmo porque, no meu entendimento, esse conceito de direita e de esquerda há tempos deixou de existir.

Óbvio que não sou imbecil a ponto de querer uma Língua estática. A Língua é dinâmica, sim, e tem que evoluir em direção ao falar do povo (“Língua certa do povo”, como diria o poeta Manuel Bandeira); mas tudo tem limite. A Língua deve, sim, adequar-se ao falar do povo; mas não se pode simplesmente extirpar as estruturas dela. Concordância, por exemplo, é um elemento estrutural. Não posso simplesmente eliminar a raiz da gramática normativa.

Não estou defendendo, é óbvio, aquele ensino ridículo e equivocado imposto pela ditadura militar de 1964, em que se exigia apenas a regra gramatical, numa equivalência proposital (sim, a imposição e disseminação dessa “gramatiquice” absurda foi proposital) entre Língua e gramática; a língua não pode ser resumida à gramática; esta é apenas um ponto de partida, mas não o fundamento ou o elemento único da Língua. Há horas em que, em nome do estilo e, sobretudo, do entendimento do texto, é necessário, inclusive, deixar de lado as regras da gramática normativa; mas tudo isso com uma boa dose de bom senso.

O mais triste disso é que antigamente, e não foi muito antigamente, as pessoas tinham receio de falar e escrever errado, em respeito ao idioma; hoje, não; além de errar, ainda tripudiam da Língua e você que a ama (e cuida) é considerado um idiota, motivo de zombaria.

Adeus, Língua-Pátria; e olhe olhe se a frase mais adequada não for: Adeus, Pátria!

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