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Professor Trindade
Aldo Lopes de Araújo(E) e eu, em evento na Academia Paraibana de Letras (Foto: Arquivo pessoal)

Anos 1970: 1974, 1975, por aí… Dois jovens idealistas (foi inevitável o chavão!), “sem parentes importantes e vindos do interior” gravitávamos em torno de Luiz Fernandes da Silva (este, mais velho do que nós), presidente da Academia Paraibana de Poesia, também idealista, sonhador e cujo talento maior era descobrir e incentivar jovens escritores. Era impressionante a delicadeza, o entusiasmo e o carinho com que nos tratava. Convidou-nos para ser membros da Academia, mas não chegamos a tomar posse.

Aldo não gosta de lembrar essa época; uma vez até me admoestou, porque eu falei. Inclusive, execrou, para sempre, e baniu de sua bibliografiaa obra de estreia dele: “Metamorfoses em Prantos”: livro de poemas, publicado em 1978, e que tive a honra de prefaciar. Hoje, ele “quer ver o cão”, mas não quer ouvir falar dessa obra. Bobagens e radicalismos. Ser exigente na qualidade da primeira obra é algo que não se concebe, pois que inalcançável.

O destino e a obrigação de sobreviver na cidade grande nos afastou da Academia Paraibana de Poesia, com cujos rumos que tomou depois não concordamos e também foi motivo do afastamento.

Com que alegria vejo, agora, Aldo Lopes de Araújo, um dos maiores escritores paraibanos, já escritor maduro, eleito para a Academia Paraibana de Letras e cuja posse será nesta sexta-feira, 17/05/2024, às 18h30; aliás, data do aniversário dele (nasceu em 17 de maio de 1957, mesmo ano em que nasci).

Não é necessário dizer que estarei lá, com muita emoção e prazer, para abraçar o amigo de longas datas e hoje, sem dúvida, uma unanimidade na literatura paraibana.

Aldo, com o rigor que lhe é peculiar, escreveu grandes obras, das quais se podem destacar:

Lavoura de Olhares” (1988)

Sobre este livro, que, ao contrário do que se divulga, não é ode estreia, pelos motivos que já expliquei anteriormente, escreveu o professor da UFCG, e membro da Academia Paraibana de Letras José Mário da Silva: “‘Lavoura de Olhares e outros contos’, ficção invadida pelo sopro transgressor da poesia, ancora, recorrentemente, no porto melancólico de uma memória fraturada pelo desconfortável sentimento da perda. Aqui, a morte, sutilmente espreitando a tudo e a todos pelas frestas da lembrança doída, é personagem central dos microenredos engendrados por Aldo Lopes. A consciência viva da inflexível passagem do tempo responde pela focalização ziguezagueada de quem, hoje adulto, tenta olhar o mundo com as retinas incontaminadas do menino que se foi um dia, com a libertária fantasia de uma infância irrecuperável”. “As dilaceradas fraturas da memória, contudo, não eclipsam uma tonalidade de ternura e compaixão que nutre o narrador em seus intimistas embates com o real. Enfim, nas mãos hábeis do consumado artesão da palavra, que é Aldo Lopes, o conto paraibano ratifica a sua condição de portador de maioridade estética”.

Solidão Nunca Mais” (1996)

Estátuas de Sal”, (2000)

O dia dos Cachorros” (2005), vencedordo “Prêmio Câmara Cascudo”, principal prêmio literário do Rio Grande do Norte.

Esse livro tem como inspiração a “Revolta de Princesa”, acontecida em 1930, e também chamada “Guerra de Princesa”.

Zé, A Velha e Outras Histórias” (2007)

A Dançarina e o Coronel” (2014)

Breve apreciação

Na ficção de Aldo destacam-seimportantes aspectos, não apenas do sertão paraibano, mas também da psicologia do homem sertanejo. Tudo isso com um rigor linguístico impecável. O texto de Aldo é conciso, econômico nas palavras (o que me lembra muito Graciliano Ramos, meu escritor preferido), corta os excessos, até atingir a precisão estilística, com muita habilidade, e na qual se harmonizam, perfeitamente, forma e conteúdo.

A poesia, porém, não abandonou Aldo, que, apesar da crueza da sua ficção, usa uma linguagem bastante poética: uma prova de grandeza!

*

Com a eleição de Aldo ganham a Academia e a literatura paraibana.

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