O leitor certamente já ouviu, nos bancos escolares, a seguinte falácia:
“O aposto vem sempre entre vírgulas”.
Nessa afirmação há dois problemas: primeiro, não se deve ensinar Português, ou qualquer outra língua, usando-se o advérbio sempre, porque no ensino do idioma não cabem simplificações ou reduções desse tipo, já que tudo depende da frase e do contexto. Mesmo a gramática normativa traz uma série de possiblidades para cada termo. Em segundo lugar, é mentira dizer que “o aposto vem sempre entre vírgulas”; há, inclusive, apostos que não admitem tal sinal de pontuação.
O aposto que vem obrigatoriamente virgulado e, quase sempre, entre vírgulas é o aposto explicativo. Como disse, há outros em que não se pode usar a vírgula, como por exemplo, o especificador e o resumidor. Sem contar que o enumerativo vem depois de dois pontos.
Para se entender melhor, vejamos os tipos de aposto:
a) Explicativo (explica o termo anterior): O Flamengo, clube carioca, é o time mais querido do Brasil.
b) Comparativo (estabelece uma comparação entre dois elementos): As estrelas, grandes olhos curiosos, espreitavam nosso amor.
c) Enumerativo (enumera elementos): Foi à livraria e comprou vários itens: livros, lápis, cadernos e canetas.
d) Resumidor (resume o termo anterior): Dinheiro, carros, mulheres, nada o agradava.
e) Especificador (especifica um gênero, em relação a uma espécie): A Cidade (gênero) de João Pessoa (espécie) é hospitaleira.
Outro exemplo: Meu primo Luís chega, hoje, a João Pessoa.
APLICAÇÃO PRÁTICA
Devido ao desconhecimento do que foi dito nas linhas anteriores, muita gente erra o uso da vírgula, como nos exemplos:
A Prefeitura, de Campina Grande, realiza todos, os anos, “O Maior São João do Mundo”.
Ora, a expressão de Campina Grande não pode ser isolada por vírgula, porque se trata de aposto especificador (especifica que cidade é); e não, explicativo.
É interessante notar que há situações em que o uso da vírgula, ou não, é fundamental para definir o tipo de aposto e, por conseguinte, o significado da frase. Se eu digo: “Meu primo, Luís, esteve lá em casa ontem”, estou afirmando que só tenho um primo e este se chama Luís (Luís é aposto explicativo). Já se eu escrever: “Meu primo Luís esteve lá em casa ontem”, estou dizendo que tenho vários primos e um deles se chama Luís (Luís, aqui, é aposto especificador).
Conclusão:
Não adianta estudar decorando os tipos de aposto ou de quaisquer outros termos da oração. O fundamental é entender-lhes o sentido. Só assim aprenderemos, em definitivo, o emprego da vírgula.