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Edilson Pereira Nobre Júnior

Um romance – costumo dizer – é aquele que faz você acordar no meio de uma noite para devorá-lo, deixando o sono à deriva. Já me aconteceu não poucas vezes e com vários autores. Certa vez – a memória timbra em resistir – foi com “Rio das Flores”, de Miguel Souza Tavares, de quem há pouco tinha lido “Equador”.
Passados alguns anos, vi-me novamente magnetizado por uma história elaborada com requintes de ourivesaria por Miguel Souza Tavares. Chama-se “Ultimo olhar”. Talvez o intervalo de tempo para vir à luz do público tenha derivado daquele “bloqueio criativo” que afeta os grandes escritores, num estado psicológico que exprime o dever de se superar, à medida que desenrolam o novelo de uma nova narrativa.
Mais um livro a relembrar a fraticida Guerra Civil Espanhola. O enfoque que não tem a pitada do romantismo libertário de Hemingway em “Por quem os sinos dobram”, do qual são protagonistas Robert, voluntário das brigadas internacionais, e Maria, com o seu non pasarán. Volta-se à narrativa da saga dos sobreviventes do lado vencido, fazendo sob perspectiva diferente de Isabel Allende em “Uma pétala ao mar”, que registra a sua recepção no continente sul-americano, especialmente no Chile, a partir da contribuição corajosa de Pablo Neruda, Cônsul para a Imigração Espanhola em Paris.
Versa, talvez como nenhum outro, sobre mais um aspecto dramático na vida dos derrotados, que, por um concerto espúrio entre o governo de Vichy e os nazistas, foram transferidos para o campo de concentração de Mauthausen, onde eram submetidos a trabalhos forçados até a morte.
Mas não só. O drama se renova no cenário do COVID – 19, descortinando o autor, numa junção de literatura e jornalismo investigativo, os abusos praticados – quem diria – por países tidos como da União Europeia, tidos por cultores dos ideais democráticos.
Intermediando esses contextos, não olvidou o autor a imaginação de um amor proibido, permeando-a com sutilezas de erotismo, de modo a que ninguém subestime uma mulher de olhos tristes e irônicos.
Avante leitor!

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