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Professor Trindade

O assíduo leitor Almir Alves Dionísio, advogado, pede-nos, por “e-mail”, que falemos sobre o terrível uso do “então” iniciando frases, como no exemplo hipotético a seguir:

O repórter pergunta ao médico qual a real importância da vacinação em crianças. Aí, o profissional de saúde responde:

“Então. Todos sabem que vacinar as crianças é de importância fundamental, porque só a vacina garante uma imunização satisfatória.”

O problema não está em iniciar a frase com a partícula então, mas sim, em usar tal expressão e terminar a frase ali, para se iniciar, em seguida, uma explicação sem qualquer nexo com o vocábulo usado.

O então iniciando frase é perfeitamente aceito e às vezes fica até belo como recurso estilístico, conforme vemos nessa maravilhosa canção, interpretada por Roberto Carlos:

Então cheguei sozinho e quis rever a nossa casa,

O desalinho do cabelos difarcei()”

Diante disso, resolvemos falar sobre os cacoetes de linguagem, cada vez mais frequentes no dia a dia: vícios linguísticos que, lamentavelmente, propagam-se em progressão geométrica, o que denota falta de vocabulário do falante. São mais frequentes na fala, mas aparecem, às vezes, na escrita. Nesse caso, é um “Deus nos acuda”!

Tipo assim”, “meio que” e “então” (iniciando-se uma frase e se colocando uma entoação de ponto final na fala) são alguns dos cacoetes de linguagem mais encontrados.

Como já disse, os cacoetes nascem da falta de vocabulário, que, por sua vez, é consequência da ausência de leitura e prática da escrita; funcionam como uma espécie de “gancho” em que o falante, sem atinar para que termo usar, socorre-se dele.

Os “recursos” citadossão expressões que surgem numa determinada época e terminam se incorporando à fala de alguns indivíduos, que as repetem, exaustivamente, e de maneira automática, tornando-se vítimas de um modismo linguístico de que nemse dão conta.Em casos extremos, os cacoetes migram da modalidade oral para a escrita e nesta são mais imperdoáveis ainda.

Os cacoetes geralmente aparecem fora de contexto e esvaziados de significado; estão ali, na frase, mas não têm qualquer valor linguístico. Em outros casos, tais fórmulas são vistas como uma tentativa de impressionar o interlocutor. Isso ocorre quando o falante utiliza termos desnecessários, apenas para rebuscar o discurso, achando que o deixam mais “impactante”.

Eis alguns exemplos de cacoetes de linguagem:

1. Tipo

Esse termo tem sido empregado de maneira aleatória em um discurso, perdido entre outras palavras sem qualquer nexo ou utilidade:

Eu não sei, acho bom a gente tipo pensar melhor no que vaifazer, para depois tipo não se arrepender…”

2. Meio que

“Ele ficou meio que chocado com a notícia que recebeu.”

3. Tipo assim

“Ele ficou tipo assim chocado com a notícia que recebeu”.

4. Cara

    “Cara, você perdeu, cara; o cara canta muito bem!…”

5. Uso abusivo do gerúndio e dos tempos verbais compostos

   “Nós vamos poder estar pagando o salário de vocês, semana que vem”.

Agora que você já sabe o que são cacoetes linguísticos, é imperativo evitá-los; principalmente na linguagem escrita. É importante destacar, no entanto, que diversos aspectos, como, por exemplo, as variações linguísticas, a influência do coloquialismo e do dinamismo da comunicação, desde que não sejam vícios, são admissíveis. A principal função da língua é ser instrumento básico da comunicação. Devemos nos adequar aos diversos tipos de linguagem, mas sem ferir as raízes e as estruturas da língua.

Vícios de passagem

Irritantes e que denotam falta, ainda maior, de vocabulário e dificuldade de comunicação são os vícios de passagem.Como exemplos mais comuns temos os gaguejados aaahhhhh, ooohhhhh, demorados, entre uma frase e outra. Há algumas pessoas que demoram tanto que chegam a falar: aaahhooooooo. O pior é que alguns usam tal expediente como “charme”. Mais insuportável, impossível!…

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