O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, muito respeitado no mundo, largou o trabalho nos Estados Unidos no ano passado e veio se dedicar a ações de combate ao coronavírus no Brasil.
Assumiu a coordenação do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, constituído pelos governadores da região, e não fez outra coisa a não ser pesquisar, estudar, formular políticas, sugerir medidas, defender ações e agir quando possível. Dedicou-se.
Mas Nicolelis cansou de pregar no deserto e largou o Consórcio Nordeste. Depois, na madrugada desta quarta-feira, escreveu, sobre o avanço da Covid-19, que o Brasil é o maior “laboratório a céu aberto onde se pode observar a dinâmica sem qualquer medida eficaz de contenção”.
Deixou outra sentença nas redes sociais: “Todo o mundo vai testemunhar a devastação épica que o SARS-CoV-2 pode causar quando nada é feito de verdade para contê-lo”.
Só que isso não é nada diante da gravidade do que Nicolelis já vinha dizendo desde o início de janeiro. Eis, a seguir, algumas de suas avaliações e opiniões:
· “(…) A equação brasileira é a seguinte: ou o país decreta lockdown nacional imediatamente ou não daremos conta de enterrar nossos mortos em 2021”.
· “Estamos correndo o risco de entrar em colapso sanitário, social e econômico. O Brasil está na UTI e o diagnóstico é falência terminal de múltiplos órgãos”.
· “Inglaterra decretando o terceiro lockdow nacional (…). Por aqui, a palavra lockdown virou palavrão para gestores. Tanto melhor para o coronavírus, que se beneficia da inoperância, omissão e ignorância rampantes”.
· “Se nada for feito, se continuarmos com esses índices crescendo assustadoramente, se as pessoas acharam que não ter carnaval em 2021 foi grave, a possibilidade da gente não ter carnaval em 2022 começa a ser real”.
· “É importante que a gente deixe bem claro: (…) não haverá solução com medidas paliativas que são conhecidas como sendo ineficazes em todo mundo, como o toque de recolher”.
Haverá quem diga que Nicolelis exagera. Mas, reparando bem, há muita verdade em suas opiniões e nós, com nossos governantes vacilantes, empresários reclamantes e população claudicante, parecemos todos negacionistas.
O quadro do horror está pintado.