Observe o(a) leitor(a) o seguinte trecho, extraído de um livro de Direito:
“Embora o art. 840 da CLT, em seu § 1º, com a redação dada pela Lei 13.467/2017, aplicável aos processos ajuizados a partir de 11.11.2017, traz determinação de atribuição de valores aos pedidos certos e determinados, não há que se confundir com a liquidação de sentença (…).”
Percebe-se, nitidamente, algo estranho na construção:
“Embora o art. 840 da CLT (…) traz” (?).
Há, na frase, um erro de correlação (ou correspondência) de tempos verbais. O uso da conjunção embora exigiria a forma verbal traga (presente do subjuntivo).
É o tipo de assunto (praticamente não ensinado na sala de aula) que exige raciocínio e foge à decoreba da recitação de verbos, tão comum nas escolas.
Não há, felizmente, uma fórmula para saber usar, corretamente, a correlação de tempos verbais; somente muito raciocínio, muita leitura e contato com textos de qualidade é que “ensinará” a questão.
E como aprender, então? Como disse, não há fórmulas. Daremos, a seguir, alguns exemplos, que podem servir como modelo:
Se ele pedisse, eu o ajudaria.
Se você pedir, eu o ajudarei.
Teremos amigos quando formos ricos.
Teríamos amigos, se fôssemos ricos.
Tínhamos amigos, quando éramos ricos.
Ela continuou a caminhar, porque não avistou um desconhecido.
Se ela avistasse um desconhecido, não continuaria a caminhar.
Daí a importância da leitura em voz alta. Ao ler em voz alta, atenta-se para as discrepâncias e estranhezas do discurso.
A Língua é comoum instrumento; você tem que exercitar. Caso não o faça, cometerá erros; sobretudo similaresao apontado nas primeiras linhas deste texto.
A citação da semana:
“Sentir, sem que se veja, a quem se adora (…)
Amá-la, sem ousar dizer que amamos. (…)
Isso é amor e desse amor se morre!”
(Gonçalves Dias – in “Se se Morre de Amor”).