Possessivo seu e ambiguidade
O pronome seu (e flexões) deve ser usado com economia e cautela, porque, frequentemente, dá ambiguidade à frase.
Observe:
Marina traiu o esposo com seu professor de Matemática. (Com o professor dela ou do esposo?).
João sugeriu a Maria um encontro em sua casa. (Na casa de qual dos dois?).
Ainda quando não dá ambiguidade, o possessivo seu enfeia a frase, por torná-la sibilante, como no exemplo:
A cantora lança hoje seu segundo CD.
ATENÇÃO
Virou “moda” usar o possessivo seu de forma inútil, como no exemplo:
A Constituição Federal, no seu artigo 54, fixa as competências do Presidente da República.
Para que o seu?
Deve-se dizer (e escrever):
A Constituição Federal, no artigo 54, fixa as competências do Presidente da República.
O que é isso, Flip?
A obsessão por essa tal linguagem neutra chegou ao paroxismo ridículo!
Pois não é que a Flip, a mais prestigiada Festa Literária do Brasil, adotando a tal linguagem, resolveu inventar a palavra autories?
Pois é…
Observem os anúncios na Folha de São Paulo (impressa) das páginas A9, de sábado, 18 de novembro, e C11, de domingo, 19, do mesmo mês:
“(…)
44 autores, autoras e autories do Brasil e do mundo.
(…)”
Os organizadores podem me explicar o que são autories e citar alguns?
Momento de poesia
“História antiga
No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube por que foi… um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era… Não sabia…
Desde então, transformou-se de repente
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para frente…
Nunca mais nos falamos… vai distante…
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,
E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la…”
(Raul de Leoni)