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Professor Trindade

Justamente quando vai passando um carro de som aqui, em frente à minha casa, conclamando a população (num som bem baixinho; ao contrário do costumeiro em outros carros de propaganda: alto e estridente) a participar da reunião (presencial) sobre a deliberação do orçamento participativo, recebo, pelos correios, o livro “Diálogo Temático On-line Entre Governo e Cidadãos”, de Luciana Saraiva de Oliveira Jerônimo – cortesia da autora, a quem, desde já, agradeço, penhoradamente –, doutora em Comunicação Social pela PUCRS, cuja tese de doutorado agora se transforma nesse profundo, porém agradável livro.

O leitor deve ter estranhado a adversativa porém. Pensará ele: “Por que o porém? Quer dizer que um livro aprofundado não pode propiciar leitura agradável?

Dificilmente. Vocês hão de convir, queridos leitores, que é muito chato ler teses de trabalhos acadêmicos; ainda que “repaginados” para publicação. A sinceridade é, infelizmente, uma das minhas “qualidades” (o termo está entre aspas, porque até hoje vi poucas vantagens e muitas desvantagens em ser sincero). Mas essede Luciana fugiu à regra, porque trata de um assuntoincrivelmente prático e foi colocado pela autora de uma forma tão bem escrita que – como disse – ao tempo em que se aprofundatorna-se agradável.

DE QUE TRATA A OBRA?

Deixemos falar a autora:

“A ideia de diálogo entre governo e sociedade, na democracia brasileira, ganha relevância institucional a partir da abertura política do país, materializada em 1988, com a promulgação da atual Constituição Federal (CF). A CF de 1988 está vinculada à institucionalização do processo de participação dos cidadãos no Estado Democrático de Direito brasileiro. O processo de institucionalizaçãoda participação cidadã e do diálogo entre o Estado e sociedade civil acabara de se institucionalizar; já se pensava na sua operacionalização, via internet. Em 2000, no campo de estudo da política, já se falava que a internet era ‘uma esfera pública virtual’, em que se estabelecia ‘conversação relevante politicamente, com vistas à deliberação democrática’ (MAIA, 2001).

(…)

Um dos espaços mais visíveis da participação popular na Administração Pública é, hoje, a consulta pública on-line, constituída por um diálogo que precisava ser caracterizado e diferenciado dos outros, para que não levasse a reducionismosou generalizações inadequadas. Assim, o diálogo online entre governo e cidadãos tornou-se objeto de discussão.”

A autora elege como base teórica para seu trabalho o dialogismo de Mikhail Batkhtin e a ação comunicativa de Jürgen Habermas.

O estudo de Luciana, como toda boa tese de doutorado, foi confirmado e provado por um trabalho empírico, tomando-se como base uma prática no governo do Rio Grande do Sul.

E arremata a autora:

“Julgava-se no início da construção deste livro que, por meio das marcas do dialogismo entre enunciados individuais e da materialidade da racionalidade comunicativa (contida nesse dialogismo), fosse possível identificar os atributos do diálogo entre governo e cidadãos gaúchos efetivado por meio de consultas públicas digitais. Tentou-se responder às seguintes questões de pesquisa: quais as características da ação comunicativa que efetiva e define o diálogo entre governo e cidadãos, via internet, nas consultas públicas digitais realizadas pelo governo do Rio Grande do Sul, entre 2011 e 2014? O que torna peculiar esse tipo de diálogo? A que ele serve?

(…)

Para que haja legitimidade na produção de decisões políticas, o governo precisa ouvir a população do seu estado (grifo nosso). O Governo do Estado do Rio Grande do Sul, no período entre 2011 e 2014, optou por vários mecanismos de escuta e participação, entre eles o de consulta pública digital. Por meio dessa consulta, tornou-se importante entender de que forma governo e cidadãos interagiam, via internet, efetivando uma espécie de diálogo para, de um lado, poder influenciar (cidadãos) a produção de decisão política e, por outro, poder legitimar a decisão política produzida (governo).”

O arguto leitor já deve ter entendido o porquê da relação que fiz entre o carro de som e o recebimento dolivro de Luciana; e deve estar pensando o mesmo que eu: Nossos gestores, sobretudo os paraibanos, deveriam adotar, em maior escala, esse sistema de diálogo entre governo e cidadãos, tão bem exposto pela doutora.

Excepcional livro!… Se eu fosse você, leitor, correria à livraria mais próxima; de maneira presencial ou virtual.

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