Um dia, que não era de verão, mas de inverno estival, um amigo me perguntou: há um lugar onde tudo seja felicidade? No momento, não consegui responder. Fiquei a pensar por alguns instantes até que a curiosidade fez com que buscasse a resposta na literatura.
A primeira impressão que me veio foi a de Manuel Bandeira, ao idealizar a sua Passárgada. Lá se pode ter o amor desejado, na alcova imaginária e fazer de tudo que aprouver, de banho de mar a montar burro brabo. Tem processo seguro. É outra civilização.
Continuando, pude perceber que magia esbanja Veneza. Em “Do outro lado do rio, entre as árvores”, aproveitando para título frase atribuída ao belicoso Andrew Jackson, Hemingway narra a viagem do Coronel Richard Cantwell, da infantaria dos EUA, que, aos cinquenta anos, retorna à Itália, para recordar os lugares onde lutou nas duas guerras mundiais.
Na aventura, realizada de automóvel, a maior parte da estada foi na rainha do Adriático. Lá, num passeio à noite, o personagem conhece uma bela jovem de dezenove anos, condessa, e terminam vivendo um romance dos mais sinceros.
Poupando-lhe do receio de estragar o idílio ao tentar o audaz primeiro beijo, coube à sua acompanhante as iniciativas decisivas e audazes. Intermináveis as tardes que juntos curtiram numa das suítes luxuosas do Hotel Gritti. De causar inveja o adorável e cristalino som da alegria feminina quando, nos instantes mais calmos, mas não menos ternos, Richard contava-lhe singularidades do front, escapando revelações tais como a incontida mania fake de George Patton e a frouxidão de Bernard Montgomery. Os divertidos passeios de gôndola à noitea exaurir toda a energia da paixão, fazendo do frio um indiferente. E isso sem que estivesse vivendo um sonho, mas uma realidade surpreendente.
É por essa razão – e muitas mais – que o escritor sentenciou que em Veneza não se envelhece; somente se rejuvenesce.
Do outro lado do rio, o paraíso.
* Edilson Pereira Nobre Júnior é magistrado e professor