Em meio a peixe, camarão, rum (meu) e suco (dela), a amiga (que escreve muito bem,
aliás!) fala-me que, de vez em quando, “engasga” no uso do vocábulo porque.
Natural – digo eu – isso acontece, frequentemente, com muitas pessoas; inclusive, com
bons escritores.
Como já tinha recitado alguns poemas para ela e os presentes, aproveitei e declamei o
poema porque, de Guilherme de Almeida (ver a seção “Momento de poesia”, ao final).
Prometi-a que minha próxima coluna seria sobre o tema. Aqui está:
Uso do vocábulo “porque”
Usa-se por que (separado e sem acento):
a) Nas frases interrogativas, diretas ou indiretas, no início ou meio:
Por que ela não veio? (interrogativa direta).
Não sei por que ela não veio. (interrogativa indireta).
No segundo caso (interrogativa indireta), para você perceber qual é o porquê basta
colocar, depois dele, a palavra motivo. Se der certo, será por que (separado e sem
acento).
Ex.: Não sei por que (motivo) ela saiu tão triste.
Não é fácil?
b) Quando o porquê for substituível por pelo qual e flexões.
Exemplo: Os motivos por que (pelos quais) vou embora, não te direi.
2.Usa-se por quê (separado e com acento) em finais de frases, sejam elas interrogativas,
ou não:
3.Usa-se o porquê (junto e com acento) quando ele for substantivo. Nesse caso, virá,
obrigatoriamente, acompanhado do artigo o. Será, portanto, o porquê.
Uma fórmula para perceber o porquê substantivo é substituí-lo pela palavra motivo. Se
der certo, será porquê (junto e com acento).
Ex.: Não sei o porquê de teres ido embora.
Não sei o motivo de teres ido embora.
4.Usa-se porque (junto e sem acento) nos casos não citados anteriormente, em frases
afirmativas que indiquem causa ou explicação.
Exemplos:
Não vá à festa, porque haverá briga (explicação).
Não vou à festa porque estou doente (causa).
Observação:
Esse porque (junto e sem acento) equivale a pois.
Momento de poesia
“Por Quê?
Por que acordaste naquela hora morta?
Por que me abriste a porta
e aceitaste o sorriso que eu sorria
e a rosa que eu trazia?
Por que acendeste a lâmpada e a lareira?
Por que estendeste a esteira?
Por que cerraste o reposteiro e os trincos?
Por que tiraste os brincos?
Por que soltaste a tua trena de ouro
e o teu cinto de couro?
Por que fechaste os olhos? Por que abriste
a boca? Por que ouviste
o que eu não disse? Por que não disseste
o que eu ouvi? Por que deste
a mão à minha mão na despedida,
no adeus à minha vida?”
(Guilherme de Almeida)