Vocês já devem ter percebido que o ponto e vírgula anda fora de moda. E o pior é que o leitor sofre pra danado ao ler a maioria dos escritos, uma vez que a falta do sinal aludido faz a gente ficar relendo o texto várias vezes, para entendê-lo; sobretudo os períodos longos, em que o excesso de vírgula confunde bastante.
O ponto e vírgula é uma pausa um pouco longa (maior do que a da vírgula e menor do que a do ponto) e que representa continuidade de pensamento. Ou seja: você dá uma pausa um tanto longa, mas continua o mesmo pensamento, como no exemplo:
Aqueles que não leem pagam caro, a certa altura da vida; infelizmente, só muito tarde é que vão perceber isso.
Em verdade, usaremos o ponto e vírgula quando fizermos uma pausa longa, mas haja uma continuidade de pensamento. Se a pausa for rápida, usa-se a vírgula; se for longa e encerrar o pensamento, usa-se o ponto.
O emprego do ponto e vírgula é mais estilístico do que gramatical e depende, substancialmente, do contexto, não havendo regras infalíveis para todos os casos. Na verdade, a única maneira de aprender a empregar tal sinal é ler muito; sobretudo em voz alta.
É possível, no entanto, destacar algumas orientações.
Usa-se o ponto e vírgula:
1.Para separar, num período, orações da mesma natureza, que tenham certa extensão:
“Os dois primeiros alvitres foram desprezados por impraticáveis; Ernesto não tinha dinheiro nem crédito tão alto.”
2.Para separar partes de um período já dividido por vírgulas:
“O incêndio é a mais impaciente das catástrofes; a explosão, a mais impulsiva e lacônica; o abalroamento, a mais colérica; a inundação, a mais feminina e majestosa.”
3.Para separar os diversos itens de enunciados enumerativos (em leis, decretos, regulamentos, portarias, etc.). Tomemos como exemplo o título I (Dos Princípios Fundamentais) da Constituição da República Federativa do Brasil:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e o Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
(…).”
Observações importantes
1.O ponto e vírgula divide períodos longos em partes menores, geralmente quando os elementos são simétricos, dando-se um ritmo encadeado ao período. Observem este exemplo de Ruy Barbosa, acerca de Machado de Assis, citado por Celso Cunha:
“Modelo foi de pureza e correção, temperança e doçura; na família, que a unidade e devoção do seu amor converteu em santuário; na carreira pública, onde se extremou pela fidelidade e pela honra; no sentimento da língua pátria, em que prosava como Luís de Souza, e cantava como Luís de Camões; na convivência dos seus colegas, dos seus amigos, em que nunca deslizou da modéstia, do recato, da tolerância, da gentileza.”
2.Costuma-se empregar o ponto e vírgula em lugar da vírgula, antes das conjunções adversativas (mas, porém, contudo, todavia, no entanto, etc.) e das conclusivas (logo, portanto, por isso, etc.) colocadas no início de uma oração coordenada, para, com o alongamento da pausa, acentuar-se o sentido adversativo ou conclusivo das referidas conjunções, com nos períodos seguintes:
“Desgostou-se, sofreu, mas não maldisse a Pátria.”
“Desgostou-se, sofreu; mas não maldisse a Pátria.”
Ele está doente, por isso não poderá vir às aulas.
Ele está doente; por isso, não poderá vir às aulas.
Em certos casos, o tom enfático aconselha mesmo o uso do ponto em tal posição, como no exemplo:
Ele estava triste; resolveu, então, não sair de casa.
Poder-se-ia muito bem escrever:
Ele estava triste. Resolveu, então, não sair de casa.