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Professor Trindade

Vocês já devem ter percebido que o ponto e vírgula anda fora de moda. E o pior é que o leitor sofre pra danado ao ler a maioria dos escritos, uma vez que a falta do sinal aludido faz a gente ficar relendo o texto várias vezes para entendê-lo; sobretudo os períodos longos, em que o excesso de vírgula confunde bastante.

Como o próprio nome indica, o ponto e vírgula serve de intermediário entre o ponto e a vírgula, podendo se aproximar mais do primeiro ou da segunda, dependendo das pausas, melodia (sim, textos têm melodia!) e do ritmo do texto. No primeiro caso, como diria Celso Cunha, “equivale a uma espécie de ponto reduzido”; no segundo, ainda de acordo com o mesmo autor, a “uma vírgula prolongada”.

O emprego do ponto e vírgula é mais estilístico do que gramatical e seu uso depende, substancialmente, do contexto, não havendo regras infalíveis para todos os casos. Na verdade, a única maneira de aprender a empregar tal sinal é ler muito; sobretudo em voz alta.

Em verdade, usaremos o ponto e vírgula quando fizermos uma pausa longa, mas haja uma continuidade de pensamento. Se a pausa for rápida, usa-se a vírgula; se for longa e encerrar o pensamento, usa-se o ponto.

É possível, no entanto, destacar algumas orientações.

Usa-se o ponto e vírgula:

1.Para separar, num período, orações da mesma natureza, que tenham certa extensão:

O grande sonho da mãe e dos irmãos foi, de imediato, descartado, por impraticável; ele não tinha vocação para ser médico.

2.Para separar partes de um período já dividido por vírgulas:

O Regionalismo dos Anos 30 no Nordeste teve diversos expoentes; entre eles, Graciliano Ramos, autor de São Bernardo; José Lins do Rêgo, autor de Fogo Morto; e José Américo de Almeida, autor de A Bagaceira.

3. Para separar os diversos itens de enunciados enumerativos (em leis, decretos, regulamentos, portarias, etc.). Tomemos como exemplo o título I (Dos Princípios Fundamentais) da Constituição da República Federativa do Brasil:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e o Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I –a soberania;

II –a cidadania;

III –a dignidade da pessoa humana;

IV –os valores sociais do trabalhoe da livre iniciativa;

V –o pluralismo político.

(…).

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

1.O ponto e vírgula divide períodos longos em partes menores, geralmente quando os elementos são simétricos, dando-se um ritmo encadeado ao período. Observem este exemplo de Ruy Barbosa, acerca de Machado de Assis, citado por Celso Cunha:

Modelo foi de pureza e correção, temperança e doçura; na família, que a unidade e devoção do seu amor converteu em santuário; na carreira pública, onde se extremou pela fidelidade e pela honra; no sentimento da língua pátria, em que prosava como Luís de Souza, e cantava como Luís de Camões; na convivência dos seus colegas, dos seus amigos, em que nunca deslizou da modéstia, do recato, da tolerância, da gentileza.

2.Costuma-se empregar o ponto e vírgula em lugar da vírgula, antes das conjunções adversativas (mas, porém, contudo, todavia, no entanto, etc.) e das conclusivas (logo, portanto, por isso, etc.) colocadas no início de uma oração coordenada, para, com o alongamento da pausa, acentuar-se o sentido adversativo ou conclusivo das referidas conjunções, com nos períodos seguintes:

Desgostou-se, sofreu, mas não maldisse o amor.

Desgostou-se, sofreu; mas não maldisse o amor.

Ele está doente, portanto não poderá vir às aulas.

Ele está doente; não poderá, portanto, vir à reunião.

Em certos casos, o tom enfático admite, também, o uso do ponto em tal posição, como no exemplo:

Ensinar é sempre discutir; jamais, impor.

Poder-se-ia muito bem escrever:

Ensinar é sempre discutir. Jamais, impor.

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