Que mensagem positiva pode transmitir um político que morre de câncer?
Que mensagem se pode extrair de um político acometido de doença grave?
São duas questões que, de repente, convocam a todos para reflexões por causa da morte precoce, aos 41 anos de idade, do prefeito Bruno Covas, de São Paulo.
Depoimentos e notas em análises vão apontar algumas atitudes de Bruno Covas como respostas interessantes às indagações postas.
Durante quase dois anos, o prefeito Bruno Covas vinha se submetendo a tratamento contra o câncer, que se agravava a cada momento, mas, ainda assim, em nenhum momento ele usou a doença para fazer politicagem. Nem na campanha pela reeleição, no ano passado.
Soube, exemplarmente, escapar dos apelos fáceis das mídias sociais e da internet.
Outro ponto é que não faltou transparência ao político Bruno Covas. Não escondeu nada da doença, dos tratamentos e de cada estágio de evolução do câncer. Também não escondeu seu sofrimento, com a elegância de não se vitimizar.
Cumpriu suas obrigações de prefeito até a última hora, trabalhando, articulando ações e ainda escrevendo mensagens pedindo espírito público aos seus companheiros para exercício da vida pública.
Soube conduzir a família, sobretudo o filho Tomás, com equilíbrio surpreendente.
Em suma, exalte-se a coragem, a valentia, o equilíbrio, a transparência e a elegância com que Bruno Covas se portou em situação tão adversa e de certeza da morte.
A juventude de Bruno Covas poderia levá-lo à exasperação, mas soube ser contido, revelando uma grandeza de espírito que acaba evocando o avô, Mário Covas, que também morreu de câncer, em 2001, quando era governador de São Paulo.
O avô de Bruno surpreendeu à época pela absoluta transparência. Não era comum aos políticos, como ainda não é, revelar doenças ou problemas pessoais. Mário Covas abriu tudo e os brasileiros acabaram se emocionando e sofrendo com ele.
São muitas as mensagens possíveis de serem extraídas dessas histórias, mas uma se sobrepõe, que é da dignidade. Dignidade pessoal, dignidade pública e a dignidade que ambos emprestaram aos portadores deste mal terrível que tem sido o câncer.
Pena que a dignidade tenha sempre encontrado terreno tão árido no campo da política no Brasil.