Língua, linguagem, sexo e gênero

Alguns poucos segmentos da sociedade querem, a todo o custo, impor certos absurdos como essa tal de “linguagem neutra”; e mudar a língua-padrão, inventando pronomes e usando certos “neologismos” odiosos do tipo tode sou até bonite, por exemplo, como querem alguns paroxistas dos grupos citados.

Denotam completo desconhecimento, ao confundirem os conceitos de Língua com os de linguagem. Ora, temos, no idioma, a Língua e a linguagem. A língua é uma só, enquanto que existem várias linguagens. A língua é um padrão que pretende unificar a escrita e a fala no país, daí ser chamada língua-padrão, enquanto a linguagem é a expressão de um grupo social, um ambiente etc. e depende, sobretudo, do contexto de oralidade.

Admite-se essa linguagem denominada “neutra”? Sim, desde que usada em determinado grupo, comunidade ou gueto (nesse último caso, o termo ganha o nome específico de gíria).

Até aí, tudo bem. Que se use na linguagem do grupo ou comunidade; na convivência grupal. O que não podem é quererem, como já foi afirmado, mudar a estrutura da Língua. A Língua não tem a finalidade precípua de fazer justiça social; para isso, existem outros mecanismos. É um padrão; um elemento unificador. E não se pode mudar sob o argumento, igualmente absurdo, de que ofende a segmento A ou segmento B. Aqui, socorro-me de uma frase da colunista Lygia Maria, da Folha de São Paulo, quando afirmou, em artigo recente: “A mera expressão ‘Bom dia a todos’ não me agride como mulher”.

Os gêneros das palavras não têm a ver com sexo; são um conceito linguístico (aqui sim, estamos tratando de Língua e não de linguagem); não têm a ver com pessoas; são um conceito arbitrário, que pode até mudar, com o passar do tempo. Algumas palavras, na nossa Língua, que já foram masculinas, passaram a ser femininas.

A Língua muda, claro, mas de acordo com uma tendência gradativa da sociedade, e não como resultado da imposição e vontade de um grupo.

Leitor(a) querido(a), fale a verdade:

Você já viu alguém do povo falar todes?