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Professor Trindade

Em 1988, quando da apresentação de Jerry Adriani no Projeto Pixinguinha, em João Pessoa, uma tecladista loira e de qualidade chamou a atenção de todos.

Tratava-se de Monique Aragão, que, juntamente com o ídolo da Jovem Guarda, fazia a excursão pelo país.

Eu já vinha com a ideia na cabeça de fazer uma entrevista com todo o grupo e, claro!, com Jerry Adriani. Acontece, porém, que a turma viajou para Campina Grande e deixei de lado a ideia.

Num lance de pura sorte, fui a Campina descansar um pouco da cansativa rotina de trabalho e encontrei o grupo no hotel Serrano. Eu estava jantando, quando vi aquela loira passar. Reconheci que era Monique e a convidei para minha mesa.

Disse-lhe que era minha intenção fazer uma entrevista para O Norte, com todo o grupo. Ela ficou entusiasmada com a ideia; perguntou se era com todo o grupo mesmo ou se apenas com Jerry. Marcamos, então, para as nove da manhã do dia seguinte, na portaria do hotel. Jerry, porém, ao chegar, preferiu que fôssemos para a piscina.

Foi uma das mais agradáveis e alegres manhãs da minha vida. Ficamos na piscina, eu, Jerry, um cantor maranhense, de cujo nome não me recordo, mas que também acompanhava Jerry, Monique e o marido dela.

Começamos a entrevista. É claro que com Jerry, um dos meus ídolos de infância, nos tempos da Peregrino de Araújo, em Patos, me demorei. Vasculhei a carreira do cantor. Foi um papo-entrevista bom, sem aquelas basbaquices, tão em moda na época, de “perguntar”: uma cor; um xampu… Foi um papo sério mesmo, falando sobre a Jovem Guarda, quem do movimento ainda estava cantando, etc. Banquei toda a entrevista. No Diário da Borborema, não havia fotógrafo disponível, no momento; peguei um fotógrafo qualquer e fizemos as fotos.

Houve muita coisa interessante naquele dia. Chegou ao hotel uma moça que onde descobre que Jerry está vai bater lá. A moça é alucinada pelo cantor. Quando soube que ele estava em Campina Grande se mandou, do interior de Pernambuco, para lá. Afirmou a mim que nunca casou – e nem iria casar – esperando por Jerry, apesar de saber que ele nunca iria querê-la.

Houve, porém, uma nota triste. Quando procurei Monique, ela havia sumido, juntamente com o marido, a pretexto de compras. Quando ambos voltaram, já quase noite, ela me falou que ficara chateada porque eu “igual aos outros” teria feito a entrevista apenas com Jerry. Não falei nada, mas fiquei triste, com aquela injustiça engasgada. Não quis dizer a Monique o óbvio: que eu não mudara de intenção; tanto que fizera, também, uma longa entrevista com Jerry e com o cantor maranhense que os acompanhava; além de haver entrevistado, um por um, os componentes do conjunto que
acompanhava o cantor. Mas que só poderia conversar com um de cada vez.

Algum tempo depois, num sábado de 1993, vejo, ao abrir o Jornal do Brasil, em destaque, no caderno B, uma foto, com a legenda: “Monique Aragão se apresenta com sua banda, no Gula Bar”.

Veio-me, então, a lembrança de Monique, Jerry e todos os que comigo estiveram naquele dia de 1988; ao mesmo tempo em que me deu a vontade de explicar o episódio e dizer-lhe (a ela) que torcerei sempre por ela e que não deixei de dar importância ao seu talento.

A respeito da entrevista, um fato inusitado aconteceu. Adoeci, em seguida, de uma forte estafa e, por pouco, uma irresponsabilidade médica não me levou à loucura ou à morte. De modo que a entrevista terminou não sendo publicada. Restam-me, porém, algumas fotos, uma fita, cuja gravação está quase inaudível, e o emocionante depoimento da fã alucinada.

(Texto publicado, originalmente, no extinto jornal O Norte, em 17 de julho de 1993,
com o título: “Carta a Monique”. Aqui, Adaptado).

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