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Professor Trindade

Sempre fui fascinado por televisão. Desde a infância, vivia“ligado” nesse meio de comunicação.

Lá em casa, não tínhamos aparelho de TV; de modo que, todas as noites, andávamos da minha casa até o centro da cidade para a de uma tia, para que mamãe assistisse, religiosamente, à novela Antônio Maria, exibida na TV Tupi, que, lá na cidadezinha do interior onde eu morava, era sintonizada por meio da TV Rádio Clube de Pernambuco, canal 6.

Eu aproveitava e decorava todas as propagandas, os “calhaus”, os nomes dos apresentadores… E acompanhava, religiosamente, a revista Intervalo: uma revistinha (refiro-me ao tamanho) maravilhosa, que tinha tudo sobre os bastidores da TV.

Quando vinha para João Pessoa, ou em eleições (mamãe votava aqui, na capital) ou nas férias escolares, minha festa estava feita, porque nacasa de minha irmã Chiquinha tinha aparelho de TV, e, na capital, além da repetidora da TV Tupi, havia, também, a da TV Jornal do Comércio, canal 2.

Eu era (e ainda sou) tão louco por TV que adorava até os “mascotes” de cada emissora: o da TV Tupy era um indiozinho, bem simpático; e o da TV Jornal do Comércio uma “molequinha”, também bastante simpática, que ficava piscando os olhos.

Em relação ao amor à TV, nunca cresci. Mais tarde, já com 17 anos, estudando no Lyceu Paraibano, participei de um festival de cultura promovido pelo colégio, em que participei como ator, encenando um monólogo de minha autoria, cantando duas músicas (idem) e uma encenação de um telejornal. Tenho até orgulho de haver recebido elogios de Vital Farias (que estava entre os jurados), que me chamou de “O homem dos sete instrumentos”. Naquela época, eu não sabia quem era Vital Farias e nem mensurava a magnitude do elogio.

Meu sucesso foi tal que, dali em diante, para qualquer apresentação no palco do Lyceu eu era chamado para ser mestre de cerimônia; fui, também, convidado para fazer parte do coral do colégio, narrador (em off) das peças promovidas por Dalvanira Gadelha (dona Dadá), que tomava conta do coral e levava à encenação pequenas peças, quando a música assim o exigisse; como, por exemplo, “O Guarany”.

Nesse tempo, eu queria ser Sérgio Chapelin. Sempre adorei a voz de Cid Moreira, mas preferia aquele a este.

Eu era tão fascinado por Sérgio Chapelin, que penteava meu cabelo da mesma maneira que ele. Quando ele cortava o cabelo, eu cortava também. E o pior é que havia quem comparasse minha voz com a do meu grande ídolo global.

Fiquei conhecido no Lyceu pelo nome do famoso locutor. Tanto que toda vez que iria haver atividade no palco, alguém dizia:

– Chama Capelin!… E – é claro – eu me enchia de orgulho.

Com esse histórico, é lógico que, em chegando a hora de fazer o vestibular, minha escolha foi o curso de Comunicação Social (Jornalismo). Naquela época, escolhiam-se três opções; dependendo da nota, você entraria na primeira, ou não. Minhas opções eram, pela ordem: Comunicação Social, Direito e Letras.

Mas nada deu certo. E carrego até hoje essa frustração. Explico, nas linhas seguintes:

Estudante pobre, havia um óbice: não existia o curso de Comunicação Social em João Pessoa. Na Paraíba, a única opção seria na URNE (Universidade Regional do Nordeste), em Campina Grande. Mas é claro que eu não poderia ir estudar em Campina: a despesa era grande.

Surge, então, uma luz:

Em São Luís do Maranhão, havia curso de Comunicação, na UFMA (Universidade Federal do Maranhão); e enquanto João Pessoa não tinha o curso e sequer uma estação de televisão, em São Luís havia cinco rádios e duas emissoras de TV. Aqui, a essas alturas, eu já trabalhava na Rádio Correio da Paraíba e no jornal, idem, apesar da pouca idade (19 anos).

Minha irmã Chiquinha, que muito me ajudou na vida, inclusive financeiramente, morava em São Luís.

Comecei, então, a sonhar…

Era óbvio que Chiquinha iria aceitar que eu fosse morar na casa dela em São Luís. Com ela já haviam morado (aqui em João Pessoa) minhas irmãs, Terezinha (Teca) e Auxiliadora (Nenen). Lá em São Luís, já passara um tempo na casa dela meu irmão intermediário, Francisco.

Não hesitei. Escrevi para ela uma carta muito bonita, falando do meu sonho em fazer Comunicação Social. Não houve resposta. Estanhei demais, porque Chiquinha, além de sempre haver me ajudado, não era do feitio dela nos deixar sem resposta (Algum tempo depois, soube que ela e o marido se decepcionaram com a estada do meu irmão lá e, por decisão daquele, não mais hospedaria irmão dela na casa deles).

Aproximava-se o dia das inscrições no vestibular e nada de resposta da minha irmã. Me desencantei; fiquei triste, um pouco revoltado (apesar não ter esse direito) e chorei. Chorei muito. Mas sempre intrigado pelo fato de ela não ter atendido meu pedido e, principalmente, não haver mandado qualquer resposta.

Chegou o dia da inscrição. Tive que mudar a ordem das opções. Depois do episódio, ficou: Direito, Letras e Comunicação Social. Entreguei triste a ficha de inscrição, porque sabia que lograria nota para ficar na primeira opção (como realmente fiquei) e não tinha a menor condição existencial de ficar na terceira, que era a que eu realmente queria.

Passei em Direito, com destaque. Terminei o curso, mas, na verdade, tornei-me mais conhecido na Paraíba como professor de Português; e nacionalmente, como autor de livros de Português.

Cheguei a cursar Comunicação Social, na UFPB, mas não concluí; e Letras, que não também não concluí. Quando frequentei os dois cursos, já era famoso como professor de cursinho e não tinha tempo para assistir, regularmente, às aulas; optei por abandonar os dois. Confesso que fiquei um pouco decepcionado com o curso de Comunicação da UFPB; não por culpa deste ou pela falta de qualidade (esta era muito boa), mas por causa do direcionamento dado à cadeira Fundamentos Científicos da Comunicação. Mas essa é uma história que não vale a pena contar. Iria ferir pessoas e, talvez, perder amigos.

Hoje, sou jornalista, de ofício, uma vez que já era profissional de rádio e jornal, antes da exigência do diploma. Quanto à TV, tive meus dias de “Sérgio Chapelin”, apresentando o “TJ O Norte”, título que pretendia fazer um paralelo entre o jornal da afiliada do SBT, na Paraíba, TV O Norte, e o TJBrasil, apresentado por Boris Casoy.

Mas… E Narayanna? Quem é Narayanna e qual a razão da crônica?

Narayanna é Narayanna Borges, apresentadora da edição da meia-noite da Globo News.

Que criatura carismática e atenciosa!…

A despeito da famosa e impecável profissional que é – competente, talentosa, dinâmica; estilo de apresentação sóbrio e equilibrado – é a simpatia em pessoa. Não tem empáfia, enunca deixou de responder, de imediato, minhas mensagens via Instagram.

Tornamo-nos amigos virtuais, e não a conheço pessoalmente (creio que jamais terei oportunidade de fazê-lo).

De modo que, sempre que posso, sintonizo a edição de meia noite, para me deleitar com o brilho dela e fugir um pouco das “gracinhas”, gesticulação excessiva, cacoetes e firulas que, infelizmente, grassam na televisão brasileira atual.

Narayanna me faz, de certo modo, pela juventude dela, voltar ao meu sonho de adolescência: ser apresentador de TV no Rio de janeiro, que, aliás, pelo menos para mim, continua lindo.

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