Moeda: Clima: Marés:
Início Colunas
Professor Trindade

A maioria dos professores de português apenas “vomita” regras, sem dizer para que servem os termos da oração e, sobretudo, a utilização deles, na prática.

O resultado disso é que, graças a esse ensino canhestro, simplório, ultrapassado e criminoso, as pessoas, além de não dominarem a língua, alimentam um ódio pelo idioma pátrio.

Aliás, alguém já disse, certa vez:

“O brasileiro é o único povo que odeia a própria língua.”

Tomemos como exemplo o aposto.

Ensina-se, desde a Escola Fundamental, que é “um termo que serve para explicar o anterior e “vem sempre entre vírgulas”.

Nada mais mentiroso e enganoso (desculpem a rima; foi inevitável).

Ora, entende-se até que no ensino fundamental, quando o aluno ainda não tem a capacidade de alcançar todas as características e tipos de aposto, procure-se simplificar as coisas. Mas por que não dizer, mesmo nas séries fundamentais, que o aposto tem como função básica, mas não única, explicar o termo anterior e deixar claro que nas séries do ensino médio ele completará o estudo? E por que a afirmação mentirosa de que ele “vem sempre entre vírgulas”? Ao final do texto, mostraremos que tal afirmação não é verdadeira e por quê.

Mas o pior é que no ensino médio grande parte dos professores continua limitando-se a dizer que o aposto “serve para explicar o termo anterior” e o mais criminoso é repetir a balela: “vem sempre entre vírgulas”. Além do erro e do crime, não se diz para que serve o aposto, na prática; as funções dele no período composto; quando é aposto de oração; o que faz com que as pessoas jamais aprendam a usar corretamente as vírgulas; seja na presença do termo no período simples, seja no composto; e de oração. Quando se fala das orações subordinadas adjetivas, simplesmente se diz que elas são restritivas e explicativas, sem mostrar a importância fundamental delas, que é o fato de as segundas fazerem as funções do aposto e virem quase sempre (eu não disse sempre!) entre vírgulas, e as primeiras, não; sendo que estas não admitem o isolamento por vírgula.

O que é, então, aposto e quais os tipos?

Aposto

É o termo que se liga ao substantivo para explicar (aposto explicativo), comparar (aposto comparativo), enumerar (aposto enumerativo), resumir (aposto resumidor) ou especificar (aposto especificativo).

Tipos:

a) Explicativo (explica o termo anterior): O Flamengo, clubecarioca, é o mais querido do Brasil.

b) Comparativo (estabelece uma comparação entre dois elementos): “As estrelas, grandesolhoscuriosos, espreitavam nosso amor”.

c) Enumerativo (enumera elementos): Foi à livraria e comprou vários objetos: borracha, lápis, caderno e caneta.

d) Resumidor (resume o termo anterior): Dinheiro, carros, mulheres, nada o agradava.

e) Especificativo (especifica um gênero, em relação a uma espécie): A Cidade (gênero) deJoãoPessoa (espécie) é hospitaleira.

Outro exemplo: Meu primo Luís chega, hoje, a João Pessoa.

Há, ainda, o aposto de oração.

Pode o aposto explicativo referir-se a uma oração toda, precisando-lhe o sentido:

Todos ouviam silenciosos a apresentação, sinal evidente de interesse.

Nem todo aposto vem entre vírgulas

Não é todo aposto que vem entre vírgulas; há até um que não admite vírgula: o aposto especificativo. E o enumerativo vem após dois pontos.

Momento de poesia

O PERU

(Vinícius de Moraes)

Glu! Glu! Glu!
Abram alas pro peru!

O peru foi a passeio
Pensando que era pavão
Tico-tico riu-se tanto
Que morreu de congestão.

O peru dança de roda
Numa roda de carvão
Quando acaba fica tonto
De quase cair no chão.

O peru se viu um dia
Nas águas do ribeirão
Foi-se olhando foi dizendo
Que beleza de pavão!

Glu! Glu! Glu!

Abram alas pro Peru!

(Poesia Completa e Prosa – Editora Nova Aguilar, 1981, p. 371).

publicidade
publicidade
© Copyright 2024. Portal Correio. Todos os direitos reservados.