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Professor Trindade

Há muito tempo, quando eu ainda viajava daqui para o sertão pela antiga Transparaíba, hoje, Guanabara, intrigava-me e chamava a atenção o bordão de um vendedor que entrava no ônibus, quando este chegava a Campina Grande:

– Olha a tchapioca!…

E todo mundo ria do peculiar sotaque do campinense único; sem dúvida, exceção.

Pois não é que tal vendedor fez escola?

É impressionante e irritante o “chiado” geral das pessoas agora; e no Rádio e TV, nem se fala!…

Do repórter ou apresentador da capital, até o da mais longínqua e brenhosa cidade da Paraíba, todos falam: dchisse, bom dchia, dchiretor… Vejo a hora falarem secretchário e, quem sabe, não chegam, um dia, a dizer tchapioca? Não duvido nada.

Não, não se trata de passadismo ou purismo, nem de posição contrária ao sotaque natural do sulista, sobretudo o do Rio de Janeiro (sim, na divisão linguística, Rio e São Paulo pertencem ao Sul); mas uma coisa é o belo “chiado” natural do carioca “da gema”, e outra é esse dch forçado do paraibano.Tanto que, de vez em quando, eles esquecem da ordem da emissora e dizem o natural. Achei engraçado uma vez que estava em Piancó, sertão da Paraíba, ouvindo uma FM local e o pobre do locutor fazia uma força danada para dizer “Rádio cidadchedche Piancó”, mas, de vez em quando, esquecia e voltava ao sotaque de origem e dizia “Rádio Cidade de Piancó”.

Não me contive e perguntei ao rapaz:

– Diga-me uma coisa: por que você faz esse esforço todo pra falar esse sotaque forçado, hein? Por que não pronuncia, normalmente, “Rádio Cidade de Piancó”?

Reposta do rapaz:

– É que meu sonho é ir trabalhar numa FM em João Pessoa…

Há pouco tempo, numa rede social, um locutor respondeu, numa postagem minha, que a emissora de rádio em que ele trabalhava obrigava os locutores a falar dessa maneira.

Mais “interessante” ainda foi uma vez em que eu estava dando aula, abordei o assunto e uma moça argumentou:

– Professor, eu tive uma professora de oratória que nos ensinou a falar assim, porque é a nova regra da comunicação nas empresas e nas repartições.

Os dois depoimentos me levam a concluir que essa uniformização do sotaque, de Norte a Sul, de Leste a Oeste segue a mesma lógica do “politicamente correto”. Neste, todo mundo tem que pensar e agir da mesma maneira; naquela, todo mundo tem que falar igual: do boçal da capital ao matuto das brenhas.

De modo que você liga a TV, é chiado geral; liga o rádio, chiado geral; vai fazer uma compra no Armazém Paraíba e tem a impressão de que está falando com um paraibano que passou um fim de semana no Rio e voltou para a cidadezinha dele, no interior, “chiando”.

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