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Rogério de Meneses Fialho Moreira

Em uma conversa despretensiosa no alpendre de casa, em Araruna, com o jovem historiador ararunense Wellington Rafael, divagávamos sobre as razões pelas quais o poeta Antônio Joaquim Pereira da Silva, o mais ilustre dos literatos nascidos em nossa aldeia, não é devidamente conhecido na atualidade, local ou nacionalmente, ao contrário de outros tantos escritores e poetas paraibanos, em relação aos quais a fama e glória persistem, com justeza, até os dias que correm.

A conclusão inicial a que chegamos foi no sentido de que o poeta simbolista não tem como ser conhecido justamente porque a sua obra não é acessível, física ou virtualmente, por estudantes, literatos, acadêmicos e muito menos pelo público em geral. Para confirmar essa hipótese, dediquei-me durante parte das férias de julho passado a pesquisar onde algum interessado poderia encontrar as obras de A. J. Pereira da Silva, tarefa a cuja conclusão aludirei mais adiante.

Antes, porém, para satisfazer a curiosidade de algum eventual leitor que não conheça o poeta ararunense, parece-me pertinente apresentar algumas rápidas informações, sem qualquer pretensão de traçar-lhe a biografia, cuja riqueza não caberia neste espaço. Segundo o seu biógrafo, o historiador e intelectual Humberto Fonsêca de Lucena[2], a controvérsia começa pela data de nascimento: à ABL, quando da sua posse, o novel acadêmico declarou que teria nascido em 12.11.1877, embora comemorasse o seu aniversário no dia nove daquele mês (ou seja, como se tivesse nascido em 09.11.1877), sendo esta a data de nascimento que consta da 2ª página do assentamento do segundo casamento do poeta.

Quanto ao seu nascimento, mais uma curiosidade: localizei na biblioteca da Justiça Federal da Paraíba a plaqueta editada por A União em 1964[3], contendo os discursos proferidos por ocasião da posse do político e intelectual Alcides Carneiro como fundador da Cadeira 34 da Academia Paraibana de Letras, que tem por patrono Pereira da Silva[4]. Em sua peroração, que traça rica biografia do patrono, o empossando apresenta uma terceira data como sendo a de nascimento do poeta: 12 de novembro, mas de 1876.

E há, ainda, uma quarta data, pois no sítio da Academia Brasileira de Letras na internet está registrado: “Datas na ABL.  Data de nascimento: 9 de novembro de 1876 (…)”[5]. Um outro dia para o nascimento, o quinto ventilado, 7 de novembro de 1876,  é mencionado por Massaud Moisés, por Andrade Muricy e por Hildeberto Barbosa Filho[6]

Penso, no entanto, que deva prevalecer a data que foi indicada por João Lyra Filho no discurso que proferiu por ocasião da sua posse, sucedendo Alcides Carneiro na Cadeira 34 da APL. A partir do “batistério” extraído do livro de assentamentos da Paróquia de Araruna, documento oficial à época, pois o Registro Civil no país, apesar de formalmente criado em 1874, ainda não estava efetivamente implantado, concluiu que a data de nascimento de Pereira da Silva somente poderia ser 6 de novembro de 1876[7].

O que não há dúvidas é que nasceu em Araruna, sendo filho de Maria Ercelina Pereira da Silva e de Manoel Joaquim da Silva, carpinteiro e fabricante de violas rústicas. A família tinha poucos recursos, pois, como observou Alcides Carneiro no discurso já referido, o ofício do seu pai era pouco rendoso, “o forte do seu artesanato era preparar e executar, com desmedido amor profissional, ataúdes, que eram mais procurados do que as violas seresteiras. Havia na região, como em todas as regiões, mais defuntos que tocadores de rabeca”[8]. O imortal Humberto de Campos, em seu Diário Secreto, publicado postumamente em edições de O Cruzeiro, em que destila veneno por meio de comentários ácidos e mordazes aos principais vultos cariocas do seu tempo, de certo modo traça elogios à bondade de Pereira da Silva, mas realçando a pobreza em que sempre viveu, desde pequeno[9], até quando já trabalhava na imprensa da Capital Federal[10].

A infância foi de muitas privações na pequena Araruna, mas não lhe faltava a vivacidade do intelecto. Aprendeu as primeiras letras com o seu tio, o mestre-escola Sinésio[11]. Sempre que podia, conseguia jornais, revistas e livros emprestados das personalidades mais intelectualizadas da cidade. Ajudava nas missas, atuando como coroinha na matriz de Nossa Senhora da Conceição, atual igrejinha de Santo Antônio, pois a imponente sede da paróquia, maior templo da atual Diocese de Guarabira, somente começou a funcionar na virada do século, em 31.12.1900, com ritual precedido de procissão liderada pelo Padre Joel Esdras Lins Fialho.

Em 1891, aos 14 anos de idade, órfão de pai e tendo a mãe casado em segundas núpcias, muda-se para o Rio de Janeiro, onde não tinha parentes ou amigos que o amparassem ou orientassem na vida[12]. Na Capital da nascente República, consegue matricular-se no Liceu de Artes e Ofícios e, em seguida, na Escola Militar, onde, em 1897, foi preso por participar de motim com os seus colegas. Cumpriu prisão no Batalhão de Cavalaria, em Curitiba[13], para onde fora recambiado e, na capital paranaense, continuou a prestar o seu serviço no Exército enquanto, ao mesmo tempo, mantinha contatos com escritores e poetas locais, imergindo no mundo da intelectualidade.

Aos 27 anos, em 1903, lança o seu primeiro livro, Vae Soli (em tradução direta e livre, ai do solitário, expressão usada no Livro de Eclesiastes para se referir à penúria do homem que vive só), pela Imprensa Paranaense e, no mesmo ano, desliga-se da força terrestre e retorna ao Rio de Janeiro, “depois de seis anos de duro e caroável exílio sem amargura, após estrita convivência com as musas. Ia começar a suave e surda ascensão”[14].

Na Capital fluminense, passa a relacionar-se com os jovens poetas simbolistas, atuando nos meios jornalísticos. Convivendo com Rocha Pombo, famoso historiador  e jornalista paranaense, radicado no Rio de Janeiro, autor de O Hospício e de A Honra do Barão e também imortal da ABL[15],  conhece a filha dele, até hoje referida nas biografias como sendo Eulina (Lili), “com quem viria a casar-se. Este casamento seria mais tarde o infortúnio do poeta”, segundo Humberto Fonsêca de Lucena[16]. O casamento com Lili realizou-se no Rio de Janeiro, em 20.09.1906, tendo o casal um único filho, Hélio Pombo Pereira da Silva[17] e, de acordo com a biografia constante do sítio da ABL na internet, o poeta fora abandonado “pela mulher, e com um filho aos seus cuidados”[18].

A tecnologia atual, no entanto, oferece ferramentas de pesquisa inexistentes à época em que traçadas as biografias dos vultos do passado. Contei com a colaboração do pesquisador João Alberto de Oliveira Lima, Analista de Informática Legislativa do Senado que, por meio do site familysearch.org, localizou valioso e inédito acervo documental acerca da vida de Pereira da Silva: as certidões dos seus dois casamentos, a certidão de óbito de “Lili” bem como do nascimento e casamento do seu filho Hélio e, ainda, vários atos oficiais relativos à vida profissional no Paraná.  Desses documentos surge a grande surpresa, pois o nome de Lili não era Eulina, e sim Carmelita[19]. Do ato notarial alusivo ao casamento realizado em 20.09.1906, está consignado que Maria Carmelita da Rocha Pombo passou a se chamar Maria da Rocha Pombo Pereira da Silva[20], tendo falecido em 26 de janeiro de 1929[21], em decorrência de doença hepática.

O declínio do casamento de Antônio Joaquim e Carmelita (Lili) é contado com detalhes maledicentes no Diário Secreto de Humberto de Campos. Inicia demonstrando simpatia e compaixão pelas desventuras do poeta paraibano, mencionando que a esposa o evitava de toda maneira e, consultando “o seu coração, havia dele verificado que não o amava mais. E como viver ao seu lado seria uma hipocrisia e um sacrifício, pedia-lhe que a deixasse ir para a casa do seu pai”, liberando-o para que tomasse o rumo que quisesse[22]. Todavia, em outra passagem do cáustico diário, o autor narra encontro que tivera com o advogado Adelmar Tavares[23], que afirma ter sido o patrocinador do desquite do casal, acrescentando fatos como o  abandono do lar conjugal no subúrbio carioca da Boca do Mato, pela mulher, que viria a se casar na Igreja Presbiteriana com um caixeiro, que depois a deixaria[24]. Deixo de transcrever os detalhes narrados, inclusive a reconciliação no leito de morte da esposa[25], pois, além de trazer alguns fatos e detalhes incompatíveis com a realidade, o que descaracteriza a confiabilidade da fonte[26], são perfeitamente dispensáveis neste rápido traçado da vida do poeta.

Havia a informação de que, depois de viúvo, teria contraído novo casamento em 1930, como menciona Humberto Fonsêca de Lucena, aludindo a que Pereira da Silva teria conhecido o amor da sua vida na Rua Paulo de Frontin, no Rio, onde morava[27], mas sem declinar o nome da consorte. O único neto vivo do poeta, Jorge Luís Pereira da Silva, residente no Rio de Janeiro, onde atua como radialista na Rádio Tupy, afirma nunca ter ouvido falar que o seu avô houvera convolado segundas núpcias. No entanto, como me disse o próprio Jorge Luís, este contava apenas 16 anos de idade quando o seu pai, Hélio, faleceu, e os assuntos da vida privada do avô A.J. Pereira da Silva não eram objeto das conversas do adolescente em casa.

Aprofundando a pesquisa, em um primeiro momento, descobri como era conhecida a companheira última do poeta: Antonieta, referida em dois trechos do mencionado discurso de posse de João Lyra Filho, valendo a transcrição de um deles, em que o orador narra o casamento do poeta já “idoso”, aos 54 anos de idade, daí por que diria à Dona Antonieta, com “quem se desposou, que ela gostava mesmo era dos seus versos. Pereira da Silva reencontrou a felicidade perto da última fronteira da vida. Muito lhe valeu ao acaso a recompensa consoladora refletida em suas últimas poesias”[28]. Relendo Alta Noite, observei que os poemas “Nosso Romance” e “Bethoven!” são dedicados “A Antonieta, minha esposa”.

Mercê da colaboração do amigo e colega Ivan Lira de Carvalho, integrante da Academia Norteriograndense de Letras, tive acesso à reprodução do assentamento de óbito do poeta, onde consta o nome completo da sua segunda esposa, que seria Antônia dos Santos Pereira da Silva. Na parte final daquele registro consta a retificação do nome, que aparecera no texto do assentamento como sendo “Antonieta”[29].  Descobri, por fim, que consta do assentamento do segundo casamento do poeta, realizado em 02.09.1930, que o seu nome de solteira seria Antônia dos Santos Carneiro[30], ao qual acrescentou o apelido do marido. Antonieta nasceu no Rio de Janeiro em 18.02.1897[31], sendo portanto, duas décadas mais jovem do que Antônio Joaquim.

Retomando o tema das suas atividades profissionais, Pereira da Silva consegue ingressar e concluir o curso de direito, no Rio de Janeiro, sendo nomeado por decreto do 1º Vice-Presidente do Estado do Paraná, em 04.05.1906, para o cargo de Promotor Público na Comarca de São José dos Pinhais[32] e transferido depois, por permuta,  para a Comarca de Palmeira. No sítio oficial da ABL consta equivocadamente  que o cargo para o qual fora nomeado no Paraná seria o de juiz de direito naquele estado (não se referindo ao de promotor)[33].  Humberto de Campos deve ter contribuído para o equívoco, ao mencionar em seu Diário Secreto que, logo depois de formado, mudou-se para o Paraná, onde assumiu cargo de Juiz de Direito na Capital do estado[34] (duplo equívoco, portanto). Na verdade, o poeta chegou a ser aprovado em segundo lugar no concurso público para provimento do cargo de Juiz de Direito da Comarca de Imbituva, no Paraná, conforme consta de publicação no órgão oficial “A República”, de 29.07.1910. Com certeza não chegou a integrar a magistratura, tanto por conta da segunda colocação em concurso para cargo único, quanto pelo fato de ainda constar da Lista dos Promotores Públicos por antiguidade, publicada em 1911[35].

Não sendo talhado para o exercício das funções no Ministério Público, ou mesmo em razão de ter sido “preterido pela política estadual”, como menciona Peregrino Júnior[36], pede exoneração e volta ao Rio de Janeiro, “nas alturas de 1911”[37], passando a trabalhar na Estrada de Ferro Central do Brasil, atuando como jornalista e crítico literário em diversos jornais e periódicos da Capital, assinando algumas vezes como J. D´Além. Ajudou a fundar o novel A Noite, vespertino diário criado por Irineu Marinho em 1911 e berço das futuras Organizações Globo.

Já tendo publicado Vae Soli, em Curitiba e posteriormente Solitudes (1918), considerada a sua obra-prima, Beatitudes (1919), Holocausto (1921), O Pó das Sandálias (1923) e Senhora da Melancolia (editado em 1928, em Paris), é eleito para a Academia Brasileira de Letras em 23 de novembro de 1933, sendo o primeiro paraibano a ocupar cadeira no Petit Trianon (a de número 18[38]), honraria máxima da cultura nacional. Foi posteriormente seguido por Assis Chateaubriand (Cadeira 37, de agosto de 1955 a abril de 1968), José Lins do Rego (Cadeira 25, de dezembro de 1956 a setembro de 1957), José Américo de Almeida (Cadeira 38, de junho de 1967 a março de 1980), Aurélio de Lyra Tavares (Cadeira 20, de junho de 1970 a novembro de 1998), Ariano Suassuna (Cadeira 32, de agosto de 1990 a julho de 2014)  e Celso Furtado (Cadeira 11, de agosto de 1997 a novembro de 2004)[39]. Em 1940, o poeta ararunense, já doente, publicou a última obra, Alta Noite.

Por ocasião da escolha de Pereira da Silva para a Casa de Machado de Assis, Alcides Carneiro, que em 1962 viria a fundar a cadeira na Academia Paraibana de Letras, que tem por patrono justamente o poeta ararunense, enviou o seguinte telegrama ao então interventor da Paraíba[40], à guisa de fundamento ao pleito de custeio da veste talar acadêmica: “Nosso conterrâneo, Pereira da Silva, eleito para a Academia, precisa de fardão mas não tem tostão. Pedimos a ajuda da Paraíba, lembrando que ela ainda deve ao poeta o enxoval do batizado”[41]. A solenidade de posse, realizada em 26 de junho de 1934, contou com a honrosa presença do ex-Presidente e conterrâneo, Epitácio Pessoa.

Acometido de tuberculose, refugia-se na região serrana fluminense, onde, apesar da gravidade da moléstia, ainda consegue produzir mais três obras, que permanecem inéditas e desaparecidas: Os Milagres de Cristo e os Homens de Deus, Intranquilidade e Meus Irmãos, os poetas, referidas em encarte acrescido a algumas das tiragens de Alta Noite.[42] Pereira da Silva faleceu aos 67 anos[43], em hospital do Rio de Janeiro, sendo o seu corpo velado na Academia Brasileira de Letras e sepultado no Cemitério São João Batista.

Feita essa breve apresentação do poeta nascido nos altos da Serra de Araruna, Chapada da Borborema, retorno à indagação inicial, inquietação que aflorou no final de tarde, na primeira semana do mês de Santana de 2022: por que a vida e a obra de Pereira da Silva não são conhecidas pelo público paraibano e nacional?

Uma primeira razão é de imediato afastada. Com certeza não é pela falta de solidez e qualidade da sua obra poética. Segundo a intelectual e acadêmica Ângela Bezerra de Castro, também com raízes ararunenses, Pereira da Silva é o “nome mais ilustre, o poeta obstinado, o que alcançou  projeção nacional incontestável”[44]. As publicações em jornais cariocas, as avaliações dos maiores críticos do país e a quantidade de obras especializadas que têm por objeto a sua obra poética, mencionadas na profunda e densa pesquisa realizada por Humberto Fonsêca de Lucena, não deixam dúvida acerca de ser A. J. Pereira da Silva um dos maiores nomes da poesia simbolista em nosso país.

Na obra Poetas e Prosadores do Brasil,  da qual tive conhecimento por intermédio do colega magistrado e intelectual integrante da APL, Alexandre Luna Freire, o crítico e ensaísta fluminense Agrippino Grieco, embora criticando a repetição exaustiva dos temas funestos e depressivos e a natureza elegíaca dos versos, afirma ser “forçoso ver em Pereira da Silva, poeta que não caiu jamais na odiosa vulgaridade e mostrou possuir, em muitas passagens, o dom musical da estrofe, um dos intérpretes do doloroso lirismo da raça. Tudo quanto vem dele tem a fisionomia do seu caráter e a assinatura da sua bondade”[45].

O iconoclasta Fernando Jorge, no polêmico A Academia do Fardão e da Confusão, em que ataca a qualidade literária de vários dos acadêmicos, faz uma defesa de Pereira da Silva contra o ataque racista de um outro imortal e traça um dos poucos elogios encontrados em toda a obra: “Injusto foi o Celso Vieira, ao julgar o valor literário de Antônio Joaquim Pereira da Silva. Este era de fato um grande poeta, mas um grande poeta cheio de tristeza, de desalento, de pessimismo”[46].

Na abalizada opinião de Hildeberto Barbosa Filho, ensaísta, professor, crítico literário e acadêmico, a poesia de Pereira da Silva é uma espécie de leitura contemplativa e ao mesmo tempo “reflexiva, tanto dos estados de alma, no plano da interioridade, como dos objetos oferecidos ao seu olhar pela realidade exterior”[47].

O fato de ter sido eleito para a Academia Brasileira de Letras, vindo de origem humilde, sendo pardo no início do Século XX[48], e sem cargo ou posição de projeção ou maiores empreendimentos na área cultural, exceto as suas próprias poesias e o apoio da imprensa carioca, demonstra o valor extraordinário das suas composições.

Uma segunda possibilidade aventada como causa para o poeta manter-se quase anônimo poderia ser a confusão decorrente da homonímia com outros dois escritores: com João Manuel (J. M. Pereira da Silva, 1817-1898), político e escritor que também integrou a Academia Brasileira de Letras, sendo o fundador de uma das cadeiras, e com o manauara Francisco Pereira da Silva (1890-1973). Só para ilustrar os equívocos advindos da parecença dos nomes, em página da internet, até recentemente,  aparecia a fotografia do primeiro como se fosse o retrato do paraibano Antônio Joaquim[49]. Em outro conceituado sítio sobre a cultura paraibana[50], bem como na página dedicada ao simbolista na Wikipédia[51] e, o mais curioso,  no próprio sítio oficial da Academia Brasileira de Letras[52], a obra Poemas Amazônicos, de 1958, de autoria do segundo, aparece como se fosse obra póstuma do vate paraibano. Mas a homonímia não é razão para o quase esquecimento.

O terceiro argumento, contudo, parece explicar o débito da nação para com A. J. Pereira da Silva: as suas obras nunca foram reeditadas e não estão acessíveis ao público. E, para justificar essa hipótese, foi que empreendi a pesquisa cujos resultados passo a resumir.

Iniciei com pesquisa nos buscadores da internet. Como imaginava, não encontrei as publicações do autor digitalizadas. Ou seja, os estudantes, hoje habituados com a nova realidade do metaverso, não têm como ter contato com a poesia simbolista de Pereira da Silva.

Parti, então, à procura dos alfarrabistas. Nos sebos de João Pessoa, nada. No sítio eletrônico “Estante Virtual”, maior e mais conhecida plataforma de intermediação para a venda de livros usados no Brasil, estão disponíveis, é verdade, suas obras, com exceção de Vae Soli e Alta Noite. Algumas com preços um tanto expressivos para a média do mercado nacional, a demonstrar, mais uma vez, como as obras são raras e de difícil acesso[53]. Durante período de férias em Porto Alegre, percorri os numerosos e muito sortidos sebos da capital gaúcha. Em um deles, na Rua Riachuelo, famosa por suas editoras e livrarias, cheguei a exultar quando anunciaram que havia um exemplar de livro do autor em uma filial. A animação logo se dissipou quando constatei que a obra era de J. M. Pereira da Silva, o outro imortal, nascido em Nova Iguaçu-RJ.

Por fim, passei a pesquisar nas bibliotecas públicas e coleções particulares. O ponto de partida não poderia deixar de ser o clássico Contribuição para uma bibliografia paraibana, de Horácio de Almeida, editado em 1994 [54]

Na obra, há referência a que Solitudes (1918), o Pó das Sandálias (1923) e “Melancolia”(1928[55]) podiam ser encontradas, à época, na Biblioteca Átila Almeida (UEPB, em Campina Grande) e nas bibliotecas particulares de Maurílio de Almeida (Rua das Trincheiras, João Pessoa) e de Eduardo Martins da Silva (Jaguaribe, João Pessoa).

Beatitudes (1919), Holocausto (1921) e Senhora da Melancolia (1928) estavam disponíveis naqueles mesmos espaços acima referidos e, ainda, no acervo João da Silva Guimarães Barreto, da Biblioteca Central da UFPB.

Com a colaboração da competente e sempre prestativa bibliotecária Dulce Morais, continuei a pesquisa sobre onde seria possível encontrar as obras de Pereira da Silva.

Nas bibliotecas da Fundação Casa de José Américo, do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, da Academia Paraibana de Letras e na própria Biblioteca Estadual da Paraíba, atualmente localizada no Espaço Cultural José Lins do Rego, maiores referências bibliográficas do nosso estado, inexistem exemplares das obras de A. J. Pereira da Silva.

Na própria Academia Brasileira de Letras, onde o poeta ocupou a cadeira de número 18, não há exemplares da obra seminal, Vae Soli (1903), nem de Senhora da Melancolia (1928) e do livro derradeiro, Alta Noite (1940).

Curioso que Senhora da Melancolia não consta mais do acervo da Biblioteca da UFPB.

Confirmei com o historiador Wellington Rafael, com quem mantive a conversa da qual resultou o insight para este artigo, atual Coordenador de Cultura do município, que na biblioteca pública de Araruna, atualmente desativada, não havia obra do maior intelectual nascido na terra. Seria louvável que no Centro Cultural que está para ser erguido pela administração municipal na casa onde residiu o meu avô Ernesto Targino da Costa Moreira (e onde nasceu o meu pai Epitácio Fialho Moreira) houvesse uma biblioteca específica em local destinado aos dois grandes vates ararunenses: Pereira da Silva e Perylo Doliveira, ambos patronos de cadeiras na Academia Paraibana de Letras.

Vale mencionar que, dentre as homenagens prestadas ao seu ilustre filho, consta do Brasão D´Armas de Araruna o nome de Pereira da Silva, encimado pelas suas iniciais (PS) ladeando a representação pictórica de uma pena, dentro de um livro aberto. No hino oficial do município, uma outra homenagem: “Pelas letras és tu a primeira; Conquistando um título ideal; Majestosa feliz, sobranceira; Como Mãe do primeiro imortal”.

Voltando à pesquisa sobre o paradeiro das obras, em encontro fortuito e proveitoso com o médico e acadêmico Astênio Fernandes, em restaurante de João Pessoa, tomei conhecimento de que o acervo de Átila Almeida, constitui atualmente a Biblioteca de Livros Raros Átila Almeida, continuando a funcionar, com acesso restrito e cuidadoso, no campus principal da Universidade Estadual da Paraíba-UEPB, na Rua Baraúnas, 351, Bodocongó, em Campina Grande[56], e confirmei em contato com a bibliotecária responsável que lá continuam preservadas todas as obras de Pereira da Silva (menos Vae Soli), como mencionado no livro de Horácio de Almeida, de 1994.

A biblioteca do médico e historiador Maurílio Augusto de Almeida, falecido em 1998, pesquisador e estudioso da obra de Pereira da Silva, é mantida no mesmo endereço da Rua Trincheiras por seu filho, o médico Fábio Rocha, aos cuidados da historiadora Monique Citadino. Fui informado de que todo o acervo está sendo digitalizado, o que será de grande importância para a disseminação da obra do simbolista ararunense[57].

Ainda não consegui desvendar o paradeiro do acervo do grande bibliógrafo Eduardo Martins da Silva, colega de meus pais na Caixa Econômica Federal, já falecido, cuja casa em Jaguaribe cheguei a frequentar, sempre me impressionando com a quantidade de livros organizados pelos cômodos do prédio, que fazia as vezes, ao mesmo tempo, de biblioteca e de residência. Dos autores paraibanos, mantinha todas as edições de todas as obras até então publicadas.

Em 1962, Alcides Carneiro já mencionava a dificuldade de acesso às obras de A. J. Pereira da Silva, especialmente Vae Soli, editado nos albores do século passado na então provinciana capital paranaense: “O seu primeiro livro, que hoje só é visto em mãos avaras, de conteúdo tão amargo (…)”[58].

Em visita ao meu conterrâneo, amigo e grande historiador, Humberto Fonsêca de Lucena, constatei o que já desconfiava: ele deve ser o único intelectual que possui todos os exemplares da obra exponencial de Pereira da Silva, de quem é profundo conhecedor. Com a sua fidalguia e desprendimento, facultou-me digitalizar as obras do poeta até então por mim não localizadas, inclusive o único exemplar conhecido de Vae Soli.

O acaso prega peças e muitas vezes oferece oportunidades jamais alvitradas. Saindo da casa de Humberto Lucena, e já dando por encerrada a busca que vinha empreendendo, fui visitar o ateliê da artista plástica paraibana Marlene Almeida, a fim de transmitir-lhe convite para ilustrar a capa da nova edição da Revista Parahyba Judiciária[59]. Em meio à conversa, mencionei de onde estava vindo e a pesquisa que estava empreendendo. Para minha surpresa, ela me informou que todo o acervo do bibliógrafo Horácio de Almeida, antes mencionado, tio do seu marido, Antônio Augusto, encontrava-se lá mesmo, disposto, organizado e catalogado na ampla biblioteca da sua residência e oficina de arte. E lá estão, a salvo, seis dos volumes da obra de Pereira da Silva, com exceção de Vae Soli.

Eu disponho, em meu modesto acervo de autores paraibanos, das edições originais de Holocausto, Senhora da Melancolia e O Pó das Sandálias, este último, com o perdão do trocadilho, de tão corroído pela ação do tempo, “está só o pó”…

E por mencionar esta última obra, oportuno lembrar que, no próximo ano, comemora-se o centenário da sua primeira edição. Não haveria momento mais oportuno para o resgate, ao menos parcial, da dívida histórica para com Pereira da Silva.

Fica aqui um “protesto” no sentido da amortização daquele débito. Seria o momento em que as instituições culturais, paraibanas e nacionais, poderiam inserir em seus sítios na internet links de acesso às edições digitalizadas das obras de A.J. Pereira da Silva. Vale mencionar que os aspectos patrimoniais da obra do poeta já caíram em domínio público, desde primeiro de janeiro de 2015, início do ano seguinte aos 70 anos da morte do autor, ocorrida em 11 de janeiro de 1944[60].   Não tenho esperanças, contudo, de encontrar as três obras inéditas do ararunense ilustre. Disse-me o seu neto, Jorge Luís Pereira da Silva, que não tem a menor ideia sobre o paradeiro dos originais. Tome-se, no entanto, o mistério como desafio para o prosseguimento das buscas[61].

As editoras vinculadas aos órgãos públicos, a exemplo de A União e da Editora da Universidade Federal da Paraíba ou mesmo da Editora Globo, em tributo ao jornalista que ajudou Irineu Marinho, pai de outro imortal da Academia Brasileira de Letras, a fundar A Noite, poderiam começar o resgate histórico e literário imprimindo a segunda edição de O Pó das Sandálias, um século após o seu lançamento, uma das obras principais que ajudou a consolidar a produção poética de um paraibano, o primeiro a ter assento na Casa de Machado de Assis.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Horácio de. Contribuição para uma bibliografia paraibana. João Pessoa: A União, 1994.

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DA SILVA, Hélio Pombo. A inútil jornada (Excertos da minha vida). Rio de Janeiro: brochura (32 p.), 1967.

GRIECO, Agrippino. Poetas e prosadores do Brasil. [Capa de Infante do Carmo] Lisboa: Ed. “Livros do Brasil”, 1968, 314 p. (Coleção Livros do Brasil).

JORGE, Fernando Pedro Alves. A Academia do Fardão e da Confusão: a Academia Brasileira de Letras e os seus “imortais” mortais. São Paulo: Geração Editorial, 1999.

JÚNIOR, Peregrino. Discurso de Posse na Cadeira 18 da Academia Brasileira de Letras: Vida, tristeza e morte de Pereira da Silva. Rio de Janeiro, 25.07.1946. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/peregrino-junior/discurso-de-posse. Acesso em 15 ago. 2022.

LYRA FILHO, João. Discurso de Posse como sucessor de Alcides Carneiro, na Cadeira n. 34 de que é patrono PEREIRA DA SILVA (4 de maio de 1977). Plaqueta editada pela Academia Paraibana de Letras. João Pessoa: 1977.

LOPES, Nei. Dicionário Literário afro-brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011.

LUCENA, Humberto Fonsêca de. A. J. Pereira da Silva, primeiro paraibano da Academia Brasileira de Letras; prefácio de Ângela Bezerra de Castro. João Pessoa: A União, 1993.

MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira: Simbolismo. São Paulo: Editora Cultrix, 1984.

MURICY, Andrade. Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1952.

RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. Poesia Simbolista-Antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1965.


[1] Professor Adjunto de Direito Civil na Universidade Federal da Paraíba- UFPB.  Mestre em Direito pela Faculdade Damas da Instrução Cristã-FADIC. Especialista em Direito Processual Civil pela UNB. Doutorando em Direito pela Universidade de Marília-UNIMAR. Desembargador Federal no Tribunal Regional Federal da 5a Região. Presidente da Comissão de Memória da Justiça Federal na 5ª Região. E-mail: [email protected]https://orcid.org/0000-0003-3606-5909.

[2] LUCENA, Humberto Fonsêca de. A. J. Pereira da Silva, primeiro paraibano da Academia Brasileira de Letras; prefácio de Ângela Bezerra de Castro. João Pessoa: A União, 1993, p. 9.

[3] CARNEIRO, Alcides; ALMEIDA, Horácio. Discursos de Posse e Recepção na Cadeira 34 da Academia Paraibana de Letras, em 3 de novembro de 1962. João Pessoa: A União, 1964, p. 15.

[4] A cadeira 34 da Academia Paraibana de Letras é ocupada atualmente pelo historiador, professor universitário e juiz de direito emérito Humberto Mello.

[5]  Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/pereira-da-silva-j. Acesso em: 8 ago. 2022.

[6] MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira: Simbolismo. São Paulo: Editora Cultrix, 1984, p. 104; MURICY, Andrade. Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1952, p. 218; e BARBOSA FILHO, Hildeberto. Arrecifes e lajedos: breve itinerário da poesia na Paraíba. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2001, p. 129.

[7]  Em seu discurso de posse, João Lyra Filho junta fac-símile do batistério do poeta ararunense, do qual consta que, no dia do batizado, em 12.3.1877, a criança contava 4 meses e 6 dias de nascido. Fazendo os cálculos, o orador concluiu que a data de nascimento só poderia cair em 6 de novembro de 1876 (LYRA FILHO, João. Discurso de Posse como sucessor de Alcides Carneiro, na Cadeira n. 34 de que é patrono PEREIRA DA SILVA (4 de maio de 1977). Plaqueta editada pela Academia Paraibana de Letras. João Pessoa: 1977, p. 6).

[8] Op. cit., p.15. 

[9] “- Coitado do Pereira! – diz-me Castro Meneses. – É bom como ninguém. E, no entanto, desde a infância carrega uma cruz. E com a sua imaginação poderosa:- Não sabes a história do Pereira? É uma tragédia. O Pereira é filho de um marceneiro da Paraíba. Era êle pequeno quando o pai morreu, deixando a família na miséria. Depois do enterro, a família foi à oficina, para entregar aos credores o pouco que ali havia. Uns ficaram com os raros móveis existentes, outros com as tábuas e a ferramenta. A um canto, havia uma cruz de madeira, da altura de um homem. Ninguém a quis. Ficou para o Pereira, que ainda hoje a tem, e que a vem carregando pela vida” (CAMPOS, Humberto de. Diário Secreto. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1954, vol. I., p. 22-23).

[10]  No dia 5 de março de 1917, Humberto de Campos anota em seu implacável diário: “Magro, rosto chupado, pele escura de mulato, é uma figura que inspira simpatia e dó, essa, de Pereira da Silva. A sua roupa escura, surrada, dá a impressão de ter sido comprada de segunda mão, ou melhor, de segundo corpo. Nunca se o viu com um terno novo. É uma coruja feito homem. E êsse homem, que tem alma de santo, canta como as corujas. O seu canto é um agouro. Jamais a sua lira desferiu um som alegre, uma nota jovial. A sua musa vive de joelhos, a cabeça perpétua de cinza” (CAMPOS, Humberto de. Diário Secreto. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1954, vol. I., p. 22-23).

[11] JÚNIOR, Peregrino. Discurso de Posse na Cadeira 18 da Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro, 25.07.1946. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/peregrino-junior/discurso-de-posse. Acesso em 15 ago.2022.

[12] Humberto de Campos, em seu Diário Secreto, refere-se em alguns trechos à circunstância de que Ercelina, pelo menos no final da vida, morava no Rio de Janeiro. Mas é possível que não tenha se mudado para a Capital logo quando o filho adolescente deixou Araruna (CAMPOS, Humberto de. Diário Secreto. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1954, vol. I., p. 381-382). Localizei o registro do óbito da mãe de Pereira da Silva, ocorrido no Rio de Janeiro, onde residia, em 08.09.1943, poucos meses antes do filho, estando o seu nome de casada em segundas núpcias grafado como Maria Ercelina de Almeida Albuquerque, natural do Rio Grande do Norte, sendo viúva de Alfredo Arthur de Almeida Albuquerque, com quem se casara na Parahyba do Norte. No Jornal A Noite, edição de 10.12.1930, constou o anúncio em que a viúva e o enteado Dr. Antônio Joaquim Pereira da Silva anunciavam o falecimento do “Major” Alfredo Arthur.

[13] Hildeberto Barbosa Filho afirma que: “Devido a sua participação na rebelião dos alunos, em 1897, é forçado a voltar a Araruna” (BARBOSA FILHO, Hildeberto. Arrecifes e lajedos: breve itinerário da poesia na Paraíba. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2001, p. 129). Entretanto não há qualquer notícia de que Pereira da Silva tenha sequer visitado posteriormente a sua terra natal.

[14] CARNEIRO, Alcides; ALMEIDA, Horácio. Discursos de Posse e Recepção na Cadeira 34 da Academia Paraibana de Letras, em 3 de novembro de 1962. João Pessoa: A União, 1964, p.26.

[15] Rocha Pombo foi eleito para a cadeira 39 da ABL em março de 1933, já bastante doente, tendo falecido em junho daquele ano sem que tivesse acontecido a solenidade de posse. Mesmo assim é considerado o terceiro ocupante da cadeira que tem hoje como titular o advogado e intelectual pernambucano José Paulo Cavalcanti, autor da mais densa e profunda biografia sobre o poeta lusitano Fernando Pessoa.

[16] Op. cit., p. 13.

[17] Hélio, filho único de A.J. Pereira da Silva, nasceu em São José dos Pinhais-PR, em 04.09.1907. Artista, tocava piano na noite carioca. Localizei, inclusive, partitura de composição sua, um fox-trot dedicado “à Senhorita Cacilda Nogueira Pinto”, que viria a ser a sua esposa, publicada no Jornal das Moças de 19.01.1933. Hélio, ao que parece, herdou do pai a melancolia expressa em seus textos, a começar pelo título do livro de 1967, A Inútil Jornada (Excertos de minha Vida), escrito um ano antes da sua morte.  Um dos capítulos é nomeado de “As duas faces de minha mãe”. O único neto ainda vivo do poeta, Jorge Luís Pereira da Silva, nascido em novembro de 1951, informou-me que o seu pai, Hélio, teve um outro filho, Paulo Sérgio Pereira da Silva, nascido em janeiro de 1938 e falecido no ano 2.000 e tem conhecimento de um outro irmão que seria mais velho, chamado “Julinho”, falecido em tenra idade. Nas pesquisas que empreendi localizei o registro do óbito desse primogênito de Hélio e Cacilda, Júlio Cezar Pereira da Silva, falecido em 01.06.1938, quando contava 1 ano 8 meses e 13 dias.

[18]  Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/pereira-da-silva-j/biografia. Acesso em 8 ago. 2022.

[19]  O nome da sua mãe era Carmelita Azambuja da Rocha Pombo, como consta da certidão alusiva ao primeiro casamento de Pereira da Silva.

[20] Maria Rocha Pombo Pereira da Silva é também o nome que consta do assentamento do casamento do filho Hélio com Cacilda Nogueira Pinto, realizado em 14.12.1935.

[21] A data do falecimento da primeira esposa consta da sua certidão de óbito e também da 2ª página do assentamento do segundo casamento de Pereira da Silva.

[22] Op. cit, p. 23

[23] Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti, poeta, advogado, professor de direito penal, desembargador e presidente do Tribunal de Justiça do então Distrito Federal, nascido em Recife e radicado no Rio de Janeiro, proferiu o discurso de recepção a Pereira da Silva na Academia Brasileira de Letras, instituição que chegou a presidir em 1948. Em artigo de 1925, republicado na revista Vida Doméstica, edição de outubro de 1945, Adelmar Tavares assim descreve Pereira da Silva: “Se Deus concedesse à Bondade andar pelo mundo, a Bondade seria êsse Antônio Joaquim Pereira da Silva, êsse príncipe da sua geração de poetas, essa sensibilidade maravilhosa de artista, êsse encanto de criatura que minha pena não sabe definir…” (p.115).

[24] Op. cit., p. 381-383

[25] “O nosso Pereira foi, perdoou-lhe o perjúrio, assistiu-lhe à morte, fêz-lhe o entêrro, e ficou tão triste como se tivesse ficado viúvo da mais virtuosa das espôsas.” (Op.cit., p. 382).

[26] O Diário Secreto, publicado após a morte de Humberto de Campos, apresenta retrato mordaz da sociedade carioca, trazendo certas coscuvilhices da época, devendo avaliar-se com cuidado a possibilidade de toma-lo como fonte de fatos históricos ou biográficos.

[27] Narra Humberto Fonsêca de Lucena que “Com o carinho da esposa e na companhia do único filho, Hélio,- do primeiro casamento- pôde reconstruir seu novo lar” (Op. cit., p. 14).

[28] LYRA FILHO, João. Discurso de Posse como sucessor de Alcides Carneiro, na Cadeira n. 34 de que é patrono PEREIRA DA SILVA (4 de maio de 1977). Plaqueta editada pela Academia Paraibana de Letras. João Pessoa: 1977, p 26.

[29] A menção ao hipocorístico “Antonieta”, quando da declaração inicial, posteriormente retificada, deve ter decorrido do fato do declarante do óbito, ocorrido na véspera, ter sido o Porteiro da Academia Brasileira de Letras, que deveria conhecê-la por aquele nome que costumava usar.

[30] Há retificação do nome na lateral da certidão de casamento.

[31] Os seus pais eram Sylvano dos Santos Carneiro e Maria Antônia Gonçalves.

[32] Nomeado pelo Decreto n. 182, publicado no Jornal “A República” de 07.05.1906.

[33] Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/pereira-da-silva-j/biografia. Acesso em 8 ago. 2022.

[34] Op. cit., p. 381.

[35] Lista elaborada pelo Superior Tribunal de Justiça do Paraná em que consta como o sexto promotor mais antigo no estado.

[36] João Peregrino Júnior da Rocha Fagundes, médico, jornalista e contista, nascido em Natal e radicado no Rio de Janeiro, proferiu brilhante e rico discurso ao suceder a Pereira da Silva na Academia Brasileira de Letras.  JÚNIOR, Peregrino. Discurso de Posse na Cadeira 18 da Academia Brasileira de Letras: Vida, tristeza e morte de Pereira da Silva. Rio de Janeiro, 25.07.1946. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/peregrino-junior/discurso-de-posse. Acesso em 15 ago.2022.

[37] CARNEIRO, Alcides; ALMEIDA, Horácio. Discursos de Posse e Recepção na Cadeira 34 da Academia Paraibana de Letras, em 3 de novembro de 1962. João Pessoa: A União, 1964, p.38.

[38] A cadeira de número 18 da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono João Francisco Lisboa, é ocupada atualmente pelo jornalista, historiador e filósofo carioca Arnaldo Niskier.

[39] Sobre as eleições de Rocha Pombo e do seu genro Pereira da Silva, Humberto de Campos tece ácidas críticas aos critérios utilizados nas escolhas para a ABL, que ele próprio integrou, aludindo a que “Rocha Pombo, agora eleito por um movimento de piedade coletiva, bateu cinco ou seis vezes à porta da Academia. Pereira da Silva, que vai entrar na vaga de Luís Carlos em homenagem à memória de Luís Carlos, foi candidato oito ou dez vezes” (CAMPOS, Humberto de. Diário Secreto. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1954, vol. I., p. 356)

[40] Há referência a que o interventor da Paraíba, a quem destinado o telegrama, seria Castro Pinto. Entretanto, aquele político governou a Paraíba entre 1912 e 1915, quando se mudou em definitivo para o Rio de Janeiro. Nunca foi interventor. Os três interventores no período foram José Américo de Almeida (nov-dez/1930), Anthenor Navarro (1930-1932) e Gratuliano de Brito (1932-1934), este último o interventor à época da escolha de Pereira da Silva para a Academia Brasileira de Letras.

[41] Op. cit., p. 41.

[42] Peregrino Júnior, no discurso de posse sucedendo Pereira da Silva na cadeira 18 da ABL, afirma que “Dois volumes inéditos deixou ele: um contendo dois poemas – “Os homens de Deus” e “Milagres de Cristo”; o outro, mais dois: “Intranqüilidade” e “Meus irmãos, os poetas” (JÚNIOR, Peregrino. Discurso de Posse na Cadeira 18 da Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro, 25.07.1946). Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/peregrino-junior/discurso-de-posse. Acesso em 15 ago. 2022.

[43] Em algumas biografias é mencionado o óbito aos 68 anos de idade. Mas partindo do pressuposto de que nasceu em novembro de 1876, como deduzido dos marcos temporais constantes do seu batistério e tendo falecido em 11 de janeiro de 1944, a conclusão a que se chega é a de que morreu aos 67 anos, idade, inclusive, indicada no seu registro de óbito.

[44] Prefácio da obra de Humberto Fonsêca de Lucena, A. J. Pereira da Silva, primeiro paraibano da Academia Brasileira de Letras. João Pessoa: A União, 1993.

[45] GRIECO, Agrippino. Poetas e prosadores do Brasil. [Capa de Infante do Carmo] Lisboa: Ed. “Livros do Brasil”, 1968, 314 p. (Coleção Livros do Brasil), p. 75-76.

[46] JORGE, Fernando Pedro Alves. A Academia do Fardão e da Confusão: a Academia Brasileira de Letras e os seus “imortais” mortais. São Paulo: Geração Editorial, 1999, p. 176.

[47] BARBOSA FILHO, Hildeberto. Arrecifes e lajedos: breve itinerário da poesia na Paraíba. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2001, p. 131-132.

[48] Humberto de Campos refere-se a Pereira da Silva como tendo “pele escura de mulato”. Nei Lopes em seu Dicionário Literário afro-brasileiro, no verbete relativo ao poeta paraibano, refere-se à ironia de Agrippino Grieco alusiva à simplicidade e a cor da pele de Pereira, que seria “filho natural de Santa Terezinha com São Benedito” (LOPES, Nei. Dicionário Literário afro-brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011).

[49] Disponível em: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/paraiba/pereira_da_silva.html. Acesso em 8 ago. 2022.

[50] Disponível em: https://www.paraibacriativa.com.br/artista/antonio-joaquim-pereira-da-silva/. Acesso em 8 ago. 2022.

[51]  Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Joaquim_Pereira_da_Silva. Acesso em: 8 ago. 2022.

[52] Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/pereira-da-silva-j/bibliografia. Acesso em: 8 ago. 2022.

[53] Holocausto, oferecida a R$ 380,00 e Beatitudes, a R$ 250,00

[54] ALMEIDA, Horácio de. Contribuição para uma bibliografia paraibana. João Pessoa: A União, 1994.

[55]  Pelo ano indicado como sendo o da edição (1928) a obra referida apenas como “Melancolia” deve ser “Senhora da Melancolia”.

[56] https://bibliotecaatilaalmeida.uepb.edu.br.

[57] Atualmente, além das obras referidas por Horácio de Almeida em 1994, consta do acervo de Maurílio de Almeida também Holocausto, Beatitudes, Senhora da Melancolia e Alta Noite.

[58] Op. cit., p.26.

[59]  A revista editada pela Justiça Federal da Paraíba, com artigos acadêmicos de juristas nacionais e estrangeiros, desde o ano de 2015, traz em sua capa obras de importantes artistas plásticos paraibanos: Flávio Tavares, Régis Cavalcanti, Raul Córdula e Alexandre Filho. Marlene Almeida, que utiliza em seus quadros não as tintas convencionais, mas sim pigmentos que extrai de areia, argila e pedras que coleta em pesquisas por todo o país, será a homenageada do próximo número do periódico

[60] A Lei 9.610, de 19.02.1988, que cuida dos direitos autorais no Brasil, dispõe em seu Art. 41 “ Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subseqüente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil”.

[61] Uma pista pode ser a informação que consta da Revista Singrando Horizontes: “A viúva do acadêmico Antônio Joaquim Pereira da Silva, doaria posteriormente, a preciosa Biblioteca do poeta ao seu particular amigo, Luiz Otávio, que, por sua vez, ao transferir residência para Santos, em 1973, doou parte desse valioso acervo, juntamente com livros de sua própria estante – num total de mil exemplares devidamente catalogados – à Academia Santista de Letras, que só então teve formada sua Biblioteca”, sendo a única exigência do doador a de que na sala da coleção constasse uma estante com placa contendo o nome de A.J. Pereira da Silva (https://singrandohorizontes.blogspot.com/2007/?m=1#:~:text=A%20viúva%20do,formada%20sua%20Biblioteca).

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