O Brasil precisa se preparar para o tipo de debate que vai viver. Será algo mais sério do que a temática política que se instalou no país a partir da campanha eleitoral de 2018.
A direita radical trouxe para o dia a dia a pauta conservadora contra a evolução dos costumes; o negacionismo da realidade, que desconhece a verdade dos fatos mais evidentes, e o negacionismo histórico, que nega conceitos básicos e incontestáveis sobre o universo e evolução humana baseados em consensos científicos.
Em alguns momentos parece o apocalipse, mas, como o debate ocorre basicamente no campo da política, geralmente entram em cena os amortecedores da democracia para lembrar que o problema, por mais grave, pode encontrar solução nas eleições.
Historicamente, no mundo inteiro, esquerda, centro, direita ou qualquer que seja a derivação de uma destas correntes de pensamento entram e saem pela porta da política, exceto os movimentos autoritários que precisam ser derrubados. Mas pela democracia.
O algo mais sério para o qual o Brasil precisa se preparar pôs a cara de fora no julgamento de ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que analisa se é constitucional ou não decretos de governadores e prefeitos que suspendem cultos e celebrações religiosas por causa da pandemia (a primeira sessão ocorreu nesta terça-feira (7).
Chama a atenção que o tema tenha sido levado às últimas circunstâncias, o julgamento constitucional do STF, sabendo-se, cristalinamente, que os decretos restritivos eram ou são passageiros e que jamais tiveram ou têm o caráter de violar o direito à liberdade de culto.
E acende a luz amarela de alerta máximo a argumentação de advogados representantes de algumas denominações religiosas; do Procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, e do Advogado-geral da União (AGU), André Mendonça.
A Bíblia foi a Constituição brandida por todos. As citações religiosas substituíram os artigos da Carta maior e das leis em vigor. E a impressão passada foi a de que, no caso, o que deveria imperar eram os preceitos religiosos. O auge: a afirmação de Mendonça de que “cristãos estão sempre dispostos a morrer para garantir a liberdade de religião e de culto”.
Nada contra religião. Ao contrário. Mas isso é fundamentalismo puro. E o extremismo religioso é muito mais perigoso que o negacionismo da direita radical.
Que Deus se apiede do Brasil!