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Professor Trindade

No interior, na Noite de Festa (era assim que chamávamos o Natal), nós, os meninos, ficávamos em polvorosa. Era uma mistura de tensão e alegria; misto de prazer e angústia, pela espera da chegada de Papai Noel.

Não é preciso dizer que, naquela época, meninos como eu acreditávamos, até certa idade, na existência do “bom velhinho”.

A história era a seguinte: Após a festa, o parque, passeio na “rua”, os beijus… a espera de Papai Noel. Papai Noel viria, na madrugada, colocar um presente embaixo da nossa rede.

Acreditava-se, piamente, nisso, mas, com o passar do tempo, a gente começava a desconfiar:

– Mamãe, como é que Papai Noel entra na casa da gente?    

– Pela janela.

– E a senhora deixa a janela aberta?

(…)

Não havia por que duvidar; afinal, naqueles tempos, nas cidades do interior, não se falava em ladrão.

Criança pobre, para mim qualquer brinquedo servia. Para quem se contentava com DKWs e Kombis que vinham dentro dos vidros de Toddy, qualquer brinquedo de plástico era motivo de satisfação.

Como era boa a sensação de saber que, no dia seguinte, um presente me esperava embaixo da rede.

Quando comecei a desconfiar da não existência de Papai Noel, ficava acordado até bem tarde; até que o sono me vencia. Minha mãe, matreira, aproveitava, então, esse momento para colocar o presente.

Um dia, quase pego minha mãe. Foi por um triz… Mas, quando levantei a cabeça, vi apenas um vulto. Voltei a dormir. O sono me venceu.

(“Esse é o som do Parque de Diversões Lima, mais uma vez aqui nesta cidade…”).

Eu era louco por roda-gigante. Minha mãe, porém, superprotetora, não deixava nenhum dos filhos “andar” de roda-gigante. Acho até que com certa razão, porque (mais tarde experimentei!) só com aquela varetazinha de alumínio como proteção, aquele balanço todo das cadeiras…

O melhor presente de Natal que recebi (inesquecível!) foi uma roda-gigante. Uma réplica perfeita. Quando girava, as cadeiras balançavam, como as cadeiras da roda-gigante de verdade… E, para minha alegria, havia para cada cadeira um bonequinho. Passei dias e dias sonhando… Uma festa! Tratei, logo, logo, de pegar a minha veraneiozinha de plástico, meu “carro de propaganda”, cujas difusoras eram carretéis de linha, e anunciar “à cidade” a “chegada” do novo parque de diversões. Eram tardes e terdes nessa brincadeira encantadora.

Ainda estava encantado com a minha roda-gigante, quando uma vizinha, de forma seca e cruel, Fulminou:

– Papai Noel não existe!

Escutei a frase, atônito. Não é que achasse erro nela; já estava bem grandinho para acreditar em Papai Noel. Mas não precisava ter sido assim, chamando-me, implicitamente, de débil mental. Chorei, chorei, horas e horas… Com que direito me tiravam o meu Papai Noel?

Hoje, alimento, até certa idade, nos meus filhos, a fantasia. Na vida, é preciso também sonhar

(O Norte, 25 de dezembro de 1999).

(A pedido de inúmeros leitores, publico, mais uma vez, aqui no Portal, esta crônica, que está no meu livro “O Estranho Professor de Violão” – Editora Ideia, 2022).

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