Zé Galego morava numa rua esburacada e insalubre, num bairro de periferia. Era uma casa apertada, onde viviam ele e a mãe. O pai morrera há muitos anos.
Apesar do ambiente, recheado de drogados por todos os lados, Zé Galego representava a virtude. Os colegas vizinhos, ao contrário, viviam sob a escravidão do crack, comandados pelo chefão da área, que tirava deles o dinheiro e a vida. De vez em quando, a “moto preta” aparecia por lá, matando um deles.
Mas Zé Galego não se misturava.
Tido com “chato”, “pernóstico”, seguia a vida com simplicidade; a princípio, menino direitinho na escola (com que alegria vestiu, pela primeira vez, a farda!…), depois, rapaz, arranjou um emprego de embalador num supermercado próximo de casa. Subiu de degrau; àquelas alturas, já era caixa.
Um dia, um dos vizinhos tentou:
– Quer dar uma tragada, Zé? (o cigarro era de maconha).
– Não, obrigado.
– Por quê? Não faz mal… Tá com medo de tua mãe, é? Ela não vai saber…
– Não. Não fumo porque não gosto.
Naquela ruazinha estreita e esburacada, só faltava Zé Galego para ser cliente do traficante do local.
– Por que esse sarará não cede?
O traficante não se conformava com aquela persistência. Irritou-se, ainda mais, quando soube da notícia de que Zé Galego estava fazendo um belo trabalho de conscientização antidrogas, na escola do bairro.
Na rua, havia outro sarará; este, jurado de morte, porque atrasara o pagamento de umas “encomendas”.
Foi a deixa para o traficante executar o sinistro plano.
Zé Galego, porém, não dava “brecha” para que o “serviço” se executasse.
Noite de sexta-feira. Zé galego estava sentado na frente de casa, junto com a namorada, a mãe e uma tia dele.
A moto preta chegou.
– É esse. Afasta. Queremos só ele.
Os tiros foram certeiros. A moto preta sumiu e o corpo de Zé Galego ficou lá, esperando o rabecão, que não demorou a chegar.
No outro dia, os jornais estamparam:
– Mais um ex-presidiário é morto pela moto preta.
Dia seguinte, na feira, com um exemplar de jornal nas mãos, dona Célia comentava com uma vizinha de barraca:
– Menos um bandido no mundo. Gente errada é pra morrer mesmo.