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Professor Trindade

Carnaval é, também, tempo de saudade. Lembro que, menino, em Patos, adorava ouvir, nos carnavais, “Atrás do Trio Elétrico”, eterno sucesso de Caetano Veloso.

Como todos sabem, a música fazia alusão ao famoso trio elétrico de Dodô e Osmar. E eu via, na imaginação, aquele trio tocando e me inebriava, como se estivesse em plena folia. Era louco para ir “atrás do trio elétrico”.

João Pessoa, 1972.

Eu, com 14 anos, chegara para morar aqui, em julho de 1971. Portanto, aquele seria o primeiro carnaval por essas plagas. Tímido, caseiro, acanhado, minha diversão era ficar na balaustrada da minha casa, na Vila dos Motoristas, vendo os ônibus da Marcos da Silva passarem e lembrando da imagem de mais um amor platônico, entre tantos que tive, desde os 5 anos de idade.

De repente, ouvi aquele som de guitarras elétricas e de instrumentos de percussão: taróis, caixas, surdos (bateria sempre foi o grande amor da minha vida) e metais. Comecei a me arrepiar… Estaria sonhando?

Não, não estava. Era um minitrio elétrico (vamos chamá-lo assim), comparado com o da Bahia, é claro: um pequeno caminhão, em cuja frente ostentava um morcego (não sei como é que eles conseguiam aquilo), com várias difusoras reproduzindo o som. O som era meio baixinho, abafado. Em cima, vários rapazes: uns cantavam, outros tocavam. Todos vestidos de morcego e exibiam copos de rum e garrafa de Barcardi.

Ganhei o carnaval.

Mais tarde, já adulto, com muita emoção comprei um vinil do “Folia de Rua” e, nele, havia o “Hino dos Morcegos”. Não é preciso dizer que, depois do “Hino dos Imprensados” (o original; não esse desnaturado e plágio de hoje) meu preferido é o de “Os Morcegos”.

Não sei que fim levaram “Os Morcegos”; sei apenas que os relembro, em todo carnaval. E, na terça-feira, na minha festa privada, o hino é ouvido, diversas vezes.

Segue a parte da letra (quase completa) que guardo na memória:

“Acorda, levanta moçada,

Carnaval já vai começar

São os morcegos, com muita animação

Em cima de um caminhão…

Nasceram no centro de João Pessoa

E nas praias foram parar

Praia Formosa, Cabo Branco e Pitimbu

Foi o primeiro em Tambáu.

Chupa, chupa, chupa, chupa sangue

Os morcegos são tradicionais (…)

A turma é da pesada, vai fazendo zum zum zum

Comida, muito chopp, gelo, coca-cola e rum

(bis, nos dois últimos versos)”.

Em tempo:

O morcego é o símbolo do rum Bacardi. Há quem diga que o bloco era patrocinado, veladamente, pela fabricante.

Rua sem folia

Não há coisa mais revoltante do que ver, em pleno carnaval, a cidade, deserta.

Depois que inventaram essa enganação chamada “Folia de Rua”, para privilegiar alguns e castigar a população, a cidade vive uma contradição: Às vésperas do carnaval, essa falsa folia (aliás, muito artificial). Nos dias da verdadeira festa, a mais popular do Brasil, João Pessoa vira um cemitério: grande parte da população migra para o interior do estado ou para outros estados, principalmente Bahia e Rio de Janeiro, e aqui temos apenas um arremedo que os Poderes públicos chamaram, para enganar os bestas, de “Carnaval Tradição”, cuja principal atração é o desfile das escolas de samba e de blocos (aliás, paupérrimos, por receberem pouquíssimo apoio dos ditos Poderes), cujo público se resume a “quatro gatos pingados”.

Uma lástima!

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