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Professor Trindade

Sou de uma família que adorava política partidária. Digo adorava, porque meu pai e minha mãe já se foram; esta era alucinada por política, e aquele participou, ativamente, dela, como cabo eleitoral; inclusive do meu tio Joãozinho Cavalcanti, irmão de mamãe, que foi deputado estadual, aqui, na Paraíba e tentou, em vão, ser prefeito de Piancó. Hoje, o restante dos familiares ou não gostam de política ou são indiferentes a ela.

Quando eu tinha 3 anos de idade, em 1960, meu pai me colocou no palanque, ao lado dele e do então candidato a governador da Paraíba, Pedro Gondim.

Inclusive, levei um carão de papai, porque tirei a caneta de Pedro do bolso. O candidato, então, disse: “Deixe o bichinho…” e fiquei, por um bom tempo, com a caneta do futuro governador, na mão.

Certo dia, ainda na campanha, me intriguei do meu avô, porque lhe perguntei:

Pai Chiquim (era assim que os netos o chamavam) tá com medo?

E ele respondeu:

– Não, que eu não estou com Pedro!

Foi o bastante para me intrigar dele.

Meu avô, Francisco (era esse o nome dele), pai de papai, era eleitor de Janduí Carneiro, o ferrenho opositor do nosso candidato.

Alguns meses depois, meu avô me presenteou com um lindo peão e voltei a falar com ele.

Em 65, na memorável campanha de João Agripino contra Ruy Carneiro eu tinha eu 8 anos de idade. Minha mãe me levou para o comício do “Mago do Catolé” e eu fiquei logo apaixonado pelo jeito peculiar que ele tinha de falar. Enquanto os outros oradores ostentavam aquele horroroso tom “cantado” de oratória, mirando o infinito, sem olhar para o povo, João chegou, colocou os pés na grade da carroceria do caminhão e, olhando a plateia bem nos olhos, falou com uma fala pausada, mansa, porém firme, tragando um cigarro após cada frase. Fiquei fã de Agripino.

É desse comício que tenho uma lembrança maravilhosa de um sanfoneiro chamado Siluca (não, não era Sivuca), que levou a galera àloucura, ao cantar:

Mulher

Deixaste tua moradia

Pra viver na boemia

E beber nos cabarés (…)”

Achei estranho aquela palavra proibida lá em casa ser dita assim, em público, e o povo aplaudir. Mas confesso que gostei.

Mas a melhor lembrança que tenho desse comício é que, quando Agripino foi falar, mamãe, apesar de magrinha e frágil, me colocou na “carcunda” (em cima dos ombros, com as pernas penduradas ao pescoço dela) para eu ver melhor o nosso ídolo.

Ídolo mesmo para mim foi Zé Cavalcanti. Jamais esquecerei a campanha de Edivaldo Mota contra Dr. Olavo, em 1968 (eu tinha, então, 11 anos). Essa eu e mamãe fomos para todos os comícios e todas as passeatas. Que alegria tive quando elame deixou subir na carroceria da camionete C10 de Valdemar Simões, candidato a vice na chapa de Edivaldo (mamãe jamais deixara eu subir numa carroceria caminhão ou camionete) e ir acompanhando a passeata, ao lado dos filhos dele e amigos.

Apesar da ótima administração de Cavalcanti (então perfeito de Patos), do empenho sobre-humano dele, Edivaldo perdeu a campanha. E é porque ainda colocaram Zéu Palmeira (este, primo de papai) na sublegenda, para tentar barrar o favoritismo de Dr. Olavo.

Do outro lado da cidade, na passeata de Olavo, estava meu irmão mais velho, Virgílio Trindade, como animador da campanha do candidato. Quando, por acaso, a passeata passava em frente da nossa casa, na Peregrino de Araújo, Virgílio mandava desligar o som: era exigência da minha mãe.

Esse meu irmão foi, logo depois, vereador da cidade de Patos e, posteriormente, vice-prefeito, chegando a assumir por duas oportunidades.

Por aí, vocês veem a amor que tínhamos por política.

E por que o verbo no passado e o título amargo da crônica?

Porque hoje sou uma pessoa desencantada com política partidária.

Pela primeira vez, na vida, vou sair para votar, neste domingo, 2 de outubro de 2022, com profunda tristeza, cabisbaixo e sem opção. Em 2018, fui, no segundo turno, obrigado, pela primeira vez na vida, a votar nulo para Presidente da República. As coisas pioraram, consideravelmente. É triste ou não é?

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