Há remorsos que nos acompanham e nos perseguem por toda a vida. Por mais que a gente tente se livrar, o fantasma dele reaparece, assombrando nossa alma e revivemos, com uma dor inexplicável encarcando o peito e fazendo surgirem lágrimas “poucas e caladas”.
Deu-se assim o reencontro:
Uma moça reapareceu diante de mim, amável, sorridente e perguntou se eu lembrava dela. Mas, talvez desconfiando de que eu não lembrasse, deu detalhes de uma boa fase da adolescência de ambos. Quando disse o nome, eis que ele reaparece: o remorso que me acompanha há tantos anos.
O tempo volta na minha cabeça, enquanto a cumprimentava com um aperto de mão. Veio-me, então, a lembrança atroz de uma verdade absurda que lhe disse um dia. Fui sincero em excesso. Como tudo na vida, sinceridade demais – e sobretudo crua – fere,magoa, deixa marcas.
E foi o que aconteceu, há muitos anos.
Depois de haver dito que o namoro teria de acabar, porque eu não esquecera um antigo amor, ela desmoronou. E eu também. Saí, cabisbaixo, olhando a terra e as pequenas pedras da rua – que ainda não era calçada – e ela entrou: tenho quase certeza de que chorando.
No recente encontro, a cena volta. Dois ex-namorados, de um namoro que não durou sequer um mês, estão ali, frente a frente, cada um já tendo feito vida própria, com novos destinos e nova vida sentimental.
Mas fiquei feliz com o reencontro. Pelos menos sei que a mágoa dela não permaneceu: o que diminuiu um pouco meu remorso. Sim, diminuiu; mas ele continua a chicotear minha alma.